O cineasta americano Carl Erik Rinsch ganhou as páginas de vários jornais por supostamente ter dado um calote milionário na Netflix, uma das maiores empresas de streaming do mundo. Rinsch gastou pelo menos US$ 8 milhões dos US$ 44 milhões disponibilizados para uma série, aplicando em ações, carros de luxo e criptomoedas. Apenas com Dogecoin (DOGE), ele teria lucrado US$ 23 milhões (cerca de R$ 114 milhões).
Rinsch foi contratado em 2018 para produzir uma série de ficção científica chamada Conquest, uma produção dele mesmo que foi disputada por vários estúdios, como a Amazon. No final, a Netflix ficou com a produção. Segundo o The New York Times, ficaram acertados pagamentos parcelados que iria totalizar US$ 61,2 milhões ao final da série.
Mas ao fechar o acordo, a Netflix parece não ter se dado conta dos problemas passados que Rinsch teve com um estúdio chamado 30West. Se não fosse a ajuda financeira do ator Keanu Reeves, Rinsch teria perdido os direitos da produção por não cumprir os prazos. Rinsch e Reeves trabalharam juntos no filme 47 Ronins (2013), a única produção que o cineasta tem no currículo.
Durante as gravações, conta o NYT, Rinsch se mostrava instável e vivia à base de medicamentos. Mesmo assim ele deveria cumprir a sua parte, e filmou partes de Conquest em vários países, incluindo o Brasil.
Em São Paulo, conta uma publicação do O Globo, o sindicato da indústria cinematográfica local enviou um representante ao set de filmagem depois de receber uma denúncia.
Conforme descreve o site, a reclamação era que Rinsch estava tratando mal sua equipe com xingamentos e se mostrava com irritação excessiva, o que fez com que ele recebesse um alerta da Netflix. Mas em Budapeste, ele passou a ter surtos e acusou a então esposa Gabriela Rosés Bentacor de querer matá-lo.
Rinsch tinha receita para o uso de Vyvanse, anfetamina para tratamento de TDAH. Quanto a isso, sua esposa e equipe ficaram preocupados com uso excessivo do medicamento, que pode gerar efeitos colaterais graves, incluindo mania, delírio e até psicose, segundo psiquiatras.
Dinheiro da Netflix foi para Dogecoin
Em 2020, quando a Netflix já havia gasto US$ 44,3 milhões com a produção de Conquest, Rinsch pediu mais dinheiro. Naquela altura, conta ao jornal, ele já havia perdido prazos e alternava o roteiro entre duas versões — uma mais curta que correspondia ao plano original de 13 episódios e outra com o dobro da duração que exigiria luz verde para uma segunda temporada.
A Netflix transferiu então US$ 11 milhões para a produtora de Rinsch, elevando seu gasto total para mais de US$ 55 milhões. O acordo era que Rinsch teria que usar o restante do dinheiro para terminar e entregar a primeira temporada originalmente acordada entre as partes.
No entanto, ele transferiu US$ 10,5 milhões dos US$ 11 milhões para sua conta pessoal de corretagem na Charles Schwab, fazendo apostas arriscadas no mercado de ações. O resultado foi que Rinsch perdeu US$ 5,9 milhões em questão de semanas.
Sem receber resultados, em 2021 Rinsch foi avisado que a Netflix havia decidido parar de financiar “Conquest” e que ele estava livre para negociar com outra empresa desde que devolvesse o que havia gastado dos cofres da empresa. Rinsch então acusou a empresa de quebra de contrato, ao mesmo tempo que alegava não estar doente.
Na ocasião, Rinsch começou a usar o que restava dos US$ 11 milhões que a Netflix transferiu para sua produtora para fazer apostas em criptomoedas. Ele transferiu mais de US$ 4 milhões de sua conta na Schwab para a corretora Kraken e comprou Dogecoin, afirma o NYT.
Contudo, ao contrário de seus investimentos no mercado de ações, este valeu a pena: quando ele liquidou suas posições em Dogecoin em maio de 2021, ele tinha um saldo de quase US$ 27 milhões. “Obrigado e que Deus abençoe as criptomoedas”, ele teria dito a uma pessoa da Kraken.
Depois disso veio a gastança. Segundo o jornal, Rinsch comprou cinco Rolls-Royces, uma Ferrari, um relógio Vacheron Constantin de quase US$ 400 mil, além de ter gasto milhões em móveis e roupas de grife. A conta chegou a US$ 8,7 milhões.
Mas Rinsch tinha uma desculpa — mesmo porque o gasto chegou até o seu processo de divórcio com a ex-esposa. Em depoimento, ele alegou que os carros e móveis eram adereços para “Conquest” e que ele pagou por eles com o dinheiro da produção da Netflix.
Já no processo aberto pela empresa de streaming, de acordo com documentos confidenciais analisados pelo NYT, ele argumentou que o dinheiro era contratualmente seu e que a Netflix lhe devia vários outros pagamentos, totalizando mais de US$ 14 milhões.
A Netflix discorda. Em uma moção apresentada em julho, a empresa disse que os pagamentos dependiam de Rinsch atingir vários marcos de produção, destacando que ele não os atingiu. O caso corre na justiça dos EUA e uma decisão é esperada em breve.
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