CEO da Messari renuncia após apoio extremista a Trump gerar reações negativas

Ryan Selkis disse a um usuário não americano do Crypto Twitter que ele deveria ser deportado do país por suas “visões esquerdistas”
CEO da Messari Ryan Selkis

Reprodução/Decrypt

Ryan Selkis, o fundador da empresa de pesquisa de criptomoedas, Messari, anunciou nesta sexta-feira (19) que está deixando o cargo de CEO da entidade.

A decisão ocorre após ele publicar tuítes controversos durante esta semana, nos quais defendia a violência política e promovia teorias da conspiração relacionadas à tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump.

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“A primeira responsabilidade de líder é com sua equipe”, tuitou Selkis hoje. “Esta semana foi a primeira semana em 6,5 anos em que minha política e retórica colocaram a equipe em perigo. Como tal, decidi me afastar do cargo de CEO”, ressaltou, atribuindo sua renúncia aos seus comentários políticos públicos.

Eric Turner, anteriormente diretor financeiro da Messari, assumirá a posição de CEO da empresa, enquanto Selkis fará a transição para a função de consultor sênior.

Logo após a tentativa de assassinato de Trump no último sábado, Selkis, um ávido apoiador do ex-presidente, postou uma estonteante enxurrada de tuítes, alguns dos quais rotularam o tiroteio como uma “tentativa de assassinato coordenada pelo governo”, supostamente coordenada pelo Diretor de Segurança Interna do presidente Joe Biden, Alejandro Mayorkas.

Nenhuma evidência apoia tais alegações. Além disso, o atirador, Thomas Matthew Crooks, pode não ter sido motivado ideologicamente: o FBI descobriu esta semana que Crooks, um republicano registrado que certa vez doou US$ 15 para democratas, pesquisou datas e aparições de Trump e Biden dias antes do incidente. 

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Independentemente disso, o tiroteio pareceu radicalizar a convicção de Selkis de que os EUA estão existencialmente ameaçados pelos “Bolsheviks”. 

Bolshevism (ou Bolchevismo), um termo arcaico que se refere ao grupo política que instigou a revolução comunista da Rússia em 1917, já foi usado no século XX como uma abreviação depreciativa para o comunismo. Essa conotação foi mais proeminentemente popularizada pelos nazistas, que rotineiramente invocavam a ameaça do bolchevismo e do “judeu-bolchevismo” na propaganda estatal.

“O bolchevismo não pode ser curado com votos”, postou Selkis no domingo. “Devemos extirpar o câncer metastático e o mal da esquerda, pela força se necessário”. Ele continuou: “Não inicie a violência, mas se ela for trazida à sua porta, acabe com ela”.

Mesmo na noite anterior ao tiroteio de Trump, Selkis parecia consumido pela perspectiva de enfrentar seus supostos inimigos políticos em sua porta. 

“Prometi à minha esposa que teria preparado todas as armadilhas e contramedidas para a escória bolchevique até a meia-noite”, postou ele na sexta-feira à noite. “E aqui estou. Cumprindo”.

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Cripto e política

A indústria das criptomoedas há muito tolera proximidade com figuras políticas de extrema direita, muitas das quais fizeram recentes propostas a defensores do Bitcoin e outros ativos digitais. No ano passado, por exemplo, Selkis e várias outras figuras do setor cripto celebraram a vitória do presidente argentino Javier Milei, mas com pouca consequência. 

Milei, que cortejou defensores das criptomoedas, mas depois abandonou os planos de instigar reformas pró-indústria, tentou repetidamente reabilitar a antiga ditadura pró-nazista de seu país; durante sua campanha, ele apresentou planos para tornar obrigatório o trabalho forçado nas prisões argentinas e até propôs legalizar a venda de crianças humanas por meio de um “mercado livre para bebês”.

Mas algo pareceu quebrar esta semana em meio à retórica cada vez mais violenta de Selkis. Na quinta-feira, o executivo disse que participou de uma reunião de “amor duro” com a liderança de Messari, na qual reconheceu que “esteve muito quente” esta semana. 

Ele também teria se desculpado privadamente com um usuário não americano do Crypto Twitter que, segundo ele, deveria ser deportado do país por por suas visões esquerdistas. Selkis esclareceu mais tarde que confundiu o homem com “outro marxista”.

A renúncia de sexta-feira parece constituir uma rara concessão de Selkis de que suas convicções políticas, se não forem problemáticas, podem impactar negativamente os negócios de Messari. 

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Esta manhã, porém, o executivo esclareceu sua posição sobre sua própria retórica, não chegando a se desculpar pelos comentários recentes.

“Se eu fosse um marxista cultural determinado a destruir o país, eu teria resistido à tempestade”, disse Selkis esta manhã, invocando outro termo carregado para inimigos políticos que entrou na moda durante a era nazista. “Mas eu disse a verdade muitas vezes, e perdi a paciência depois que eles tentaram matar o presidente no último sábado.”

A Messari permaneceu ao lado de seu fundador, ao mesmo tempo em que se distanciava dele. 

“Ryan recentemente nos informou sobre sua decisão de se afastar de uma função operacional como CEO da Messari para que ele possa focar seu tempo totalmente na política de cripto e em questões nacionais de importância para ele”, disse a empresa em um comunicado na sexta-feira. “A Messari não seria a empresa que é hoje, ou o que será no futuro, sem a visão clara e a liderança dedicada de Ryan”, concluiu.

*Traduzido e editado com autorização do Decrypt.