Censura no Bitcoin? Grande pool de mineração revolta comunidade ao “filtrar” transações suspeitas

Um desenvolvedor do Bitcoin detectou seis transações perdidas de endereços sancionados pelo governo dos EUA
Bonequinho em cima de uma pilha de moedas douradas de bitcoin fazendo alusão ao processo de mineração

Shutterstock

A F2Pool, terceiro maior pool de mineração de Bitcoin, pode estar filtrando transações de BTC que partem de endereços sancionados pelo governo dos EUA.

A denúncia foi feita pelo desenvolvedor conhecido pelo pseudônimo 0xB10C, que publicou um relatório com informações descobertas com a ferramenta miningpool-observer (ou observador de pool de mineração), criada por ele para detectar transações censuradas.

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“Meu projeto, miningpool-observe, visa detectar quando os pools de mineração de Bitcoin não estão minerando transações quando poderiam estar fazendo. Nas últimas semanas, detectei seis transações perdidas de endereços sancionados pelo OFAC”, disse ele no relatório publicado na segunda-feira (20).

O desenvolvedor se refere aos endereços sancionados pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento (OFAC), órgão do Tesouro dos EUA que há pelo menos dois anos vem sancionado endereços de criptomoedas, como Bitcoin e Ethereum, supostamente ligados a criminosos internacionais.

Não muito tempo atrás, os bitcoiners não pouparam críticas ao concorrente Ethereum quando ficou público que alguns serviços de validação da rede estavam censurando transações de endereços sancionados pelo governo americano. Agora, o mesmo problema parece atingir também a principal criptomoeda do mundo.

Um dos endereços censurados exposto no relatório é o 3PKiHs4GY4rFg8dpppNVPXGPqMX6K2cBML.

Em um comentário na plataforma Stacker.News, o desenvolvedor reforçou sua tese: “Esta é a primeira vez que vejo um pool filtrando transações sancionadas pelo OFAC. Não está claro para mim por que um grupo da Ásia seria o primeiro grupo a cumprir as sanções dos EUA.”

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Ele conta que seu programa fez alertas nos meses de setembro e outubro sobre seis blocos faltando em uma transação sancionada pelo OFAC. Um bloco foi minerado pelo pool de mineração ViaBTC, outro pelo pool Foundry USA e quatro pela F2Pool, empresa de origem chinesa.

O desenvolvedor destacou que existem muitos motivos pelos quais as transações não são incluídas em blocos, como por exemplo a priorização das transações para recebimento de pagamentos especiais.

No entanto, ele explica que para estas quatro transações que não foram incluídas no bloco da F2Pool, o autor analisou a distribuição de taxas de transações faltantes e incluiu transações alternativas combinada com a situação do espaço do bloco e concluiu que se tratava de uma situação de filtragem intencional.

Censura na rede do Bitcoin

0xB10C descreveu atividades de outras pools, como a ViaBTC, por exemplo, para explicar que endereços sancionados pelo OFAC passaram pela pool, mesmo sendo antes protelados, já que no processo a pool tem essa liberdade de escolha. “Alguns dos casos são provavelmente falsos positivos e não o resultado de filtragem”, escreveu.

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“Isto leva à conclusão de que a ViaBTC não filtrou esta transação. Foi substituído por outras transações priorizadas. Isto é apoiado pelo fato de que, três dias depois, a ViaBTC explorou uma transação, gastando uma saída do mesmo endereço sancionado no bloco 809181”, ressaltou.

A suposta ação da mineradora soou o alarme de anticensura na comunidade cripto, ainda mais quando um dos líderes da F2Pool pareceu confirmar as informações de 0xB10C. Isso porque uma das principais premissas do Bitcoin como um todo é a de ser resistente à censura.

De acordo com o site Coindesk, o cofundador da F2Pool, Chun Wang, fez um comentário no X sobre a descoberta de 0xB10C, mas o apagou em seguida. Nele, Wang, detentor da conta @satofishi, escreveu:

 “Por que você fica surpreso quando me recuso a confirmar transações para esses criminosos, ditadores e terroristas? Tenho todo o direito de não confirmar quaisquer transações de Vladimir Putin e Xi Jinping, não tenho?”.

“Espere uma reação negativa”, respondeu o usuário @AcrossFireX. “A comunidade está em consenso sobre isso há muito tempo. Não faça mais isso”, acrescentou @DeweesRobert.

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Wang publicou outros comentários. Para ele, “um sistema resistente à censura deve ser projetado para resistir à censura em nível de protocolo, em vez de depender de cada participante para agir conscientemente e se abster de censura”.

No outro post, também apagado, conforme apurou o CoinDesk, Wang disse que iria desabilitar o patch de filtragem de transação por enquanto, até que a comunidade alcance um consenso mais abrangente sobre o tema.