A Cantor Fitzgerald, empresa norte-americana de serviços financeiros e de negociação de títulos, está discutindo um programa de empréstimo multibilionário baseado em Bitcoin com a ajuda da Tether.
O programa proposto permitiria que os clientes tomassem dólares emprestados usando Bitcoin como garantia. Inicialmente, a operação começaria com uma alocação de US$ 2 bilhões, embora tenha o potencial de se expandir à medida que as criptomoedas forem mais adotadas, de acordo com um artigo da Bloomberg no sábado (23).
É mais um passo em direção a uma relação simbiótica entre Wall Street e o setor cripto, que se aprofundou este ano, especialmente quando uma transição esperada na política de criptoativos vem à tona enquanto Donald Trump se prepara para se estabelecer na Casa Branca.
O programa de empréstimo de Bitcoin, ainda em seus estágios iniciais, provavelmente incluiria vários contribuintes financeiros ao lado da Tether, de acordo com a reportagem. A Cantor já está recrutando profissionais para a iniciativa.
A medida ocorre no momento em que o chefe da Cantor, Howard Lutnick, foi nomeado Secretário de Comércio do presidente eleito Donald Trump na quarta-feira (20) e, segundo informações, estáse preparando para se desfazer de suas participações na empresa.
Em uma declaração preparada após a nomeação, Lutnick disse que pretende fazer isso “para cumprir as regras de ética do governo dos EUA”.
A saída de Lutnick de funções importantes se aplica a seus cargos na Cantor, BGC e Newmark.
Enquanto Lutnick se prepara para deixar a Cantor enquanto aguarda a confirmação do Senado, ele planeja passar o relacionamento da empresa com a Tether para seus colegas.
Seu filho, Brandon, é citado como um possível candidato, de acordo com o artigo da Bloomberg. Brandon foi estagiário nas operações suíças da Tether e agora está na Cantor. Diz-se que ele contou as barras de ouro que respaldam o token lastreado em ouro da Tether, o Tether Gold, com uma capitalização de mercado de US$ 660 milhões, durante seu estágio em Lugano.
“Os ratings atribuídos à Cantor, BGC e Newmark incorporam o risco de pessoa-chave associado a Lutnick, dado seu controle majoritário de voto, relações de mercado, envolvimento próximo em muitos aspectos dos negócios e influência descomunal nas respectivas direções estratégicas das empresas”, afirma um comentário da Fitch Ratings.
Mais em jogo
A Cantor já administra a maior parte dos ativos de US$ 132 bilhões da Tether por meio de seu negócio de custódia, ganhando dezenas de milhões em taxas anuais. Notavelmente, a Cantor também adquiriu uma participação de 5% na Tether avaliada em US$ 600 milhões, de acordo com fontes citadas por um outro artigo do WSJ.
O artigo do WSJ cita uma declaração emitida antes da escolha de Lutnick como Secretário de Comércio, em que um porta-voz sustentou que o relacionamento da Tether com a Cantor era “totalmente profissional, baseado na gestão de reservas”, descartando sugestões de que as conexões políticas de Lutnick poderiam influenciar as ações regulatórias.
O mesmo artigo ainda cita as declarações de Lutnick na Conferência Bitcoin em Nashville, em julho, quando ele descreveu sua primeira reunião com o CFO da Tether, Giancarlo Devasini: “Eu basicamente disse a ele a frase do filme. Eu disse: ‘Mostre-me o dinheiro’ […] E nós encontramos cada centavo, e eles tinham cada centavo.”
Essas declarações apontam para o que a Tether vinha lutando ao longo dos anos: provar que de fato tem as reservas que sustentam a emissão de sua stablecoin após anos de ceticismo tanto de pessoas do setor quanto de fora.
Um relatório da ONU divulgado em janeiro identificou o USDT da Tether como uma “escolha preferida” dos lavadores de dinheiro, enquanto o Departamento do Tesouro dos EUA solicitou ao Congresso novos poderes para bloquear transações de stablecoin vinculadas a atividades ilícitas.
A Tether refutou repetidamente essas alegações, dizendo que, em vez disso, oferece suporte a autoridades policiais e formuladores de políticas para mitigar o uso de sua stablecoin para atividades ilícitas.
Regulamentação de stablecoin nos EUA
Mudanças na legislação cripto dos EUA podem afetar as emissoras de stablecoin sediadas nos EUA. Em abril, os senadores bipartidários Kirsten Gillibrand (D., N.Y.) e Cynthia Lummis (R., Wyo.) apresentaram uma estrutura para a regulamentação de stablecoins que ajudaria a proteger os consumidores e promoveria a “inovação responsável”.
O projeto de lei busca proibir operações offshore para stablecoins usando o dólar norte-americano como indexador, o que poderia afetar significativamente a emissão da Tether.
A Tether Limited, a empresa que supervisiona a emissão do USDT, está incorporada em Hong Kong e é de propriedade integral da Tether Holdings Ltd. que, por sua vez, está registrada nas Ilhas Virgens Britânicas.
As relações bancárias offshore da Tether foram submetidas a um exame minucioso após um acordo de US$ 18,5 milhões com o gabinete do Procurador Geral de Nova York em 2021 sobre a deturpação de suas reservas. O caso histórico resultou em grandes bancos dos EUA cortando os laços com os parceiros da Tether.
A estrutura corporativa deliberadamente offshore da empresa, operando em várias jurisdições, fez dela um alvo para os legisladores dos EUA que buscam colocar as stablecoins indexadas ao dólar sob as estruturas regulatórias internas do país.
*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.
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