O trader brasileiro Marcelo De Oliveira presenciou na manhã do dia 3 de junho, uma oportunidade de negociação que poderia tê-lo tornado um milionário: um possível flash crash do par SUN/USD na corretora de derivativos FTX.
Naquela manhã, o preço da SUN — criptomoeda meme criada por Justin Sun em agosto do ano passado — subiu de US$ 44 para US$ 60. Após atingir essa máxima do dia, a moeda entrou em queda livre e desabou para uma mínima de US$ 0,04, e logo em seguida, estabeleceu seu preço novamente por volta de US$ 40.
Esse movimento brusco de preço, conhecido como flash crash, aconteceu em um intervalo de oito minutos e o trader Marcelo testemunhou todo esse movimento. Se ele tivesse investido R$ 1 mil quando o preço da SUN atingiu US$ 0,04, em poucos minutos ele se tornaria um milionário, já que a valorização daquele momento foi de cerca de 100.000%.
“O meu erro foi só não ter apertado o botão. Me faltou confiança de ter parado e analisado que realmente estava diante de um flash crash”, contou o trader em conversa com o Portal do Bitcoin. “Também tive um pouco de receio, como eu poderia ter certeza que o preço fosse subir tão rápido de volta!?”.
Marcelo é trader do mercado financeiro desde 2010 e desde o início do ano passado, se dedica em tempo integral às negociações de criptomoedas. Ele presenciou o evento porque um pouco antes do flash crash acontecer, ele tinha acabado de retirar uma posição de SUN/USD que tinha aberto alguns dias atrás na corretora.
Quando o token atingiu US$ 60 naquela manhã, a posição dele foi fechada já que o lucro que ele tinha pré-determinado tinha sido atingido. “Eu lucrei 55% ali, o que me deu cerca de R$ 1 mil. Eu poderia muito bem ter jogado essa quantia de volta na moeda quando o preço estava a US$ 0,04 e ver o que poderia dar. Era uma operação sem risco para mim”, lamenta.
“Aconteceu tudo muito rápido. Depois que a moeda caiu para US$ 0,04 e iniciou a recuperação e eu vi que aquilo estava gerando um lucro de 75.000%, eu pensei ‘já perdi o trem’, só que ela continuou subindo até bater US$ 40, foi algo absurdo”.
Flash crash
Um flash crash não é um evento comum no mercado, mas pode ser uma oportunidade extraordinária para o trader que conseguir agir a tempo e comprar o ativo na queda e vendê-lo em seguida quando o preço normalizar. Essa estratégia, no entanto, exige uma boa dose de coragem já que conta com riscos significativos.
O primeiro deles é a falta de garantia de que realmente o trader está diante de um flash crash e que o preço do ativo, depois de cair a zero, voltará a sua cotação normal. Não é raro uma shitcoin perder o seu preço em questões de minutos, mas é difícil os casos em que ela recupera rapidamente os ganhos que detinha antes da queda.
Marcelo conta que no final do ano passado passou por uma situação parecida, onde uma shitcoin desabou para zero em questão de minutos e nunca mais se recuperou. “Eu estava com uma posição aberta nessa moeda e com um lucro de 50%, só que eu não fechei a operação. Fui fazer outras coisas e quando voltei, vi que ela tinha desabado e todo mundo já tinha liquidado. Ali eu perdi 10% de todo o meu capital”, relembra.
Um segundo problema é a falta de garantia que o trader, após comprar a queda da moeda, conseguirá liquidá-las no mercado para realizar o lucro. Geralmente, o flash crash acontece em moedas de baixa liquidez. Ou seja, é difícil o trader ter certeza de que terá alguém do outro lado disposto a comprar as criptomoedas que precisa vender.
O que motivou?
Não está claro o que realmente aconteceu naquela manhã, mas o trader Marcelo acredita que aconteceu um bug no par SUN/USD na corretora FTX em conjunto com o flash crash. Carlon Lain, fundador da exchange PagCripto, explica o que é um flash crash:
“A demanda compradora e vendedora sempre está agindo. Se alguém porventura tira as ordens de compra que seguram o preço de um ativo, as operações de venda a mercado consomem tudo. Ou mesmo se a liquidez de um ativo é pequena e alguém começa a vender um volume muito maior do que o livro suporta, o excesso de liquidez de um lado causaria esse desbalanceamento”.
Segundo o especialista, é difícil saber o que desencadeou esse flash crash. “Podem ser vários fatores na verdade, como algum bug em um robô com muita liquidez ou alguém errando na hora de colocar a ordem manualmente, informando por exemplo uma cotação errada”, supõe.
Ele explica que por essa razão o flash crash é mais comum em criptomoedas pequenas, uma vez que elas contam com pouca liquidez e menor concorrência entre os market makers, de tal forma que mesmo um evento pequeno pode abalar o preço do ativo em uma determinada corretora.
De forma geral, o evento é causado quando há alguma anomalia no mercado que gera uma falta de liquidez passiva – pessoas para comprar moedas –, e excesso de liquidez ativa – muitas pessoas querendo vender ao mesmo tempo, e isso acaba gerando um efeito cascata de liquidações.
SUN
O que causou o evento do flash crash ainda é um mistério mas tem grandes chances de estar relacionado a atualização da criptomoeda SUN, em conjunto com um bug da FTX que parece não estar em conformidade com as mudanças da moeda.
Desde o dia 26 de maio, a infraestrutura da SUN está passando por uma atualização para introduzir um novo serviço de swap de stablecoins descentralizadas, segundo uma publicação do projeto. De modo geral, essa parece ser uma tentativa dos desenvolvedores darem alguma funcionalidade para a shitcoin criada como uma piada por Justin Sun.
O ponto mais crítico da atualização é que ela aumenta o fornecimento total de tokens SUN de 19.900.730 para 19.900.730.000 em uma proporção de 1:1000. Para isso, o volume de tokens retidos em todos os endereços será dimensionado na mesma proporção.
Dessa forma o token passa a ter duas versões no mercado: SUNOLD, o token original que não passou por atualização; e SUN, a nova versão da moeda.
Essa atualização, no entanto, não é automática e o usuário deveria fazer o swap dos tokens na plataforma oficial da moeda. Algumas plataformas como a Binance, orientou os usuários sobre a atualização e removeu temporariamente a SUN da plataforma. Já na FTX, a versão antiga da SUN permanece sendo negociada com um volume muito baixo de apenas US$ 140 mil.