Uma reportagem publicada em 2018 pelo site de notícias O Antagonista foi motivo de confusão na quinta-feira (28) entre o veículo de comunicação e o presidente do Brasil.
Jair Bolsonaro chamou o site de fonte de Fake News, acusou-o de insider trading na Bolsa e afirmou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deveria prestar atenção na atuação do site.
Bolsonaro, durante uma live veiculada na quinta-feira (28), pegou uma notícia do site O Antagonista para dar como exemplo de Fake News. A matéria intitulada “Haddad espalha fake news: ‘Folha comprova que Bolsonaro criou organização criminosa’” foi atacada pelo presidente.
O presidente afirmou, então, que o veículo de comunicação havia perdido um grande colaborador e que antes “vazava” algumas informações, mas que a partir de agora “o filé mignon não vaza mais”.
Acusação de Bolsonaro
Aos 28 minutos e 25 segundos, o Bolsonaro teceu graves acusações contra “O Antagonista” como se algumas de suas notícias fossem produzidas para manipular a bolsa de valores:
“Engraçado, sai no Antagonista uma bomba, a bolsa mexe, tá ok?. A CVM vê esse negócio aí, é isso mesmo? A CVM analisa quem agiu de forma não padronizada né, tá ok? Então muitas vezes essas matérias fake news ‘propositadamente’ são passadas por quem tem interesse em alguma coisa, tá certo? Mas tudo bem.”
Falha de interpretação
O fato, porém, é que houve uma confusão sobre a interpretação de texto por Bolsonaro. O presidente se ateve apenas ao trecho “Folha comprova que Bolsonaro criou organização criminosa”, mas não mencionou sobre o resto da matéria que na verdade atacava o candidato petista.
O artigo publicado em 18 de outubro de 2018 atacado pelo Presidente tratava na verdade de uma conversa de Fernando Haddad (candidato à presidência naquela época) a Clóvis Monteiro da Rádio Tupi (RJ). Haddad mencionava, portanto, uma matéria da Folha como prova de que Bolsonaro seria a pessoa por trás da chamada indústria da fake news.
Ao contrário do que Bolsonaro entendeu, a matéria de “O Antagonista” atacava a Folha e Haddad e não o atual presidente:
“A matéria original da Folha, ‘Empresas bancam disparo de mensagens contra o PT nas redes sociais’, não comprova que Bolsonaro criou uma organização criminosa, nem sequer aponta atuação direta e pessoal do presidenciável do PSL no episódio relatado”.
O Antagonista contra-ataca
Em resposta aos ataques de Bolsonaro, “O Antagonista” publicou poucas horas depois do vídeo uma reportagem para esclarecer a confusão cometida pelo presidente No texto intitulado “Bolsonaro, o capitão das fake news”, o site afirmou:
“Ao contrário do que sugere o presidente da República, a notícia em questão não é uma fake news, mas uma constatação de que a campanha de Fernando Haddad estava espalhando fake news contra o próprio Bolsonaro na campanha”.
O artigo, contudo, pode trazer novas confusões. O site afirmou que o presidente tem praticado calúnia e disseminado falsas notícias o que o tornou alvo de investigação:
“Ao espalhar calúnias como essa em rede nacional, o presidente age como verdadeiro comandante da máquina de disseminação de fake news e destruição de reputações que ontem foi alvo da Polícia Federal”.
Rodrigo Constantino ao lado de Bolsonaro
A live do presidente repercutiu em redes sociais. O economista e jornalista Rodrigo Constantino, que se autodenomina “liberal com viés conservador”, saiu em defesa de Jair Bolsonaro, em seu Twitter, no exato momento em que a live estava sendo veiculada .
“Bolsonaro agora na ‘live’ dizendo que O Antagonista perdeu sua principal fonte no governo, e que planta mentiras que mexem nas bolsas, alertando que a CVM existe para investigar essas coisas. Será que os antas sentiram um calorzinho lá?!”.
Constantino chegou a publicar trecho do vídeo com a seguinte mensagem: “Tá tudo bem por aí, Antas?”
O post do jornalista recebeu diversos comentários. Um deles até associando a imagem do site de notícias O Antagonista à empresa Empiricus.
A publicação de Constantino foi retweetada por Tiago Guitián Reis, fundador da Suno Research. Reis afirmou tão somente que “tem que investigar isso daí”. Mais uma vez, veio outra enxurrada de comentários e a associação entre a Empiricus e O Antagonista foi um dos temas mais debatidos entre as postagens.
Resposta da CVM
O Portal do Bitcoin procurou a Comissão de Valores Mobiliários para questionar sobre alguma investigação em curso contra o site O Antagonista.
A autarquia enviou uma nota, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmando que:
“Não compete à CVM comentar declarações de autoridades.
Adicionalmente, esta Autarquia, como entidade reguladora e fiscalizadora do mercado de capitais no Brasil, acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo o segmento, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”.