O Bitcoin (BTC) tem semelhanças com o esquema ponzi criado por Bernie Madoff, não tem nada de inovador e não desempenha nenhum papel na economia. Além disso, a criptomoeda geralmente está associada com atividades criminosas – como lavagem de dinheiro e ataques virtuais – e não é usada por pessoas normais e cumpridoras da lei.
Foi com as palavras do parágrafo acima que Paul Krugman, economista americano vencedor do Nobel de Economia de 2008, descreveu a criptomoeda em sua coluna publicada na quinta-feira (20) no The New York Times, um dos jornais mais influentes do mundo.
“A boa notícia é que nada disso importa muito. Como o Bitcoin e seus parentes não conseguiram alcançar nenhum papel econômico significativo, o que acontece com seu valor é basicamente irrelevante para aqueles de nós que não estão jogando nesse crypto game”, disse.
Não é meio de pagamento
Para o economista, o BTC não é relevante para a economia porque, mesmo depois de 12 anos de existência, o ativo digital não faz parte da vida cotidiana das pessoas. Não é possível, segundo ele, comprar carro, pagar contas, ou fazer investimentos comerciais.
“Quase a única vez que ouvimos falar delas (criptomoedas) sendo usadas como meio de pagamento – em oposição ao trade especulativo – é em associação com atividades ilegais, como lavagem de dinheiro ou pagamento de resgaste a hackers, como no caso da Colonial Pipeline”.
O economista falou que o cenário é diferente com outras tecnologias que surgiram no mesmo ano que o BTC, como o aplicativo Venmo, que pode ser usado para dividir contas de restaurantes e comprar frutas frescas em quiosques. O Nobel não mencionou, no entanto, que o próprio Venmo liberou a negociação de criptomoedas no mês passado.
Também não citou que em 2020 menos de 1% das transações com criptomoedas – cerca de US$ 10 bilhões – estava associada a atividades criminosas e que pessoas e empresas aceitam BTC como pagamento por apartamentos, salários e até para tickets de ônibus.
Narrativa e esquema ponzi
O Nobel falou também que a criptomoeda e a blockchain não têm nada de inovadoras e não resolvem nenhum problema da indústria. Ele falou que participou de várias reuniões com entusiastas do setor, mas até hoje não recebeu uma resposta convincente sobre a tecnologia.
De acordo com ele, as pessoas continuam investindo no setor porque os entusiastas do mercado conseguiram manter uma narrativa chamativa e cheia de segredos, que ajuda a manter os preços do BTC e das altcoins em alta, bem como atrair novos investidores.
“Os entusiastas são muito bons em usar terminologia misteriosa para convencer a si próprios e aos outros de que estão oferecendo uma nova tecnologia revolucionária, embora o blockchain seja realmente muito antigo para os padrões da infotech e ainda não tenha encontrado nenhum uso atraente”, disse.
“Isso pode soar para você como uma bolha especulativa, ou talvez um esquema Ponzi – e as bolhas especulativas são, na verdade, esquemas Ponzi naturais. Mas poderia um esquema Ponzi realmente durar tanto tempo? Na verdade, sim: Bernie Madoff executou seu golpe por quase duas décadas e poderia ter durado ainda mais se a crise financeira não tivesse intervindo”, completou.
Economista previu ‘morte’ de internet
Não foi a primeira vez que Krugman criticou o Bitcoin. Na quarta-feira (19), ele disse em seu perfil no Twitter que a moeda não é um meio de troca conveniente, reserva estável ou uma unidade de conta, além de não ter nada de revolucionária. A mesma crítica havia sido feita em 2013 no Times.
O economista, no entanto, não é muito certeiro ao fazer previsões sobre novas tecnologias lançadas no mercado. Naquele ano, os próprios entusiastas do bitcoin descobriram que em 1998 o Nobel havia dito que a internet não iria vingar e que seu impacto na economia seria menor que o do fax.
“O crescimento da Internet diminuirá drasticamente, à medida que a falha na lei de Metcalfe – que afirma que o número de conexões potenciais em uma rede é proporcional ao quadrado do número de participantes – se torna aparente: a maioria das pessoas não tem nada a dizer uns aos outros! Por volta de 2005, ficará claro que o impacto da Internet na economia não foi maior do que o do aparelho de fax”, falou o Nobel na década de 90.
Em 2013, Krugman tentou justificar a frase dita há pouco mais de 20 anos. Ao site Business Insider, ele disse que seu objetivo com a fala era apenas ser divertido e provocativo, e não se envolver em previsões. Ele também falou que não entendo muito de tecnologia.
“O ponto principal é que eu não reivindico nenhum conhecimento especial em tecnologia – quase nunca faço previsões tecnológicas, e a única razão pela qual fiz em 98 era porque a tarefa exigia que eu fizesse esse tipo de coisa. As questões sobre o Bitcoin, no entanto, não são tecnológicas! Todos concordam que é tecnicamente muito fofo. Mas isso funciona como dinheiro? Esse é um tipo de pergunta muito diferente”, falou para o veículo.