Bitcoin Punks, uma viagem de volta ao bloco Gênesis | Opinião

Com os NFTs, o Bitcoin retorna aos tempos de 2009 — um contexto sem infraestrutura e com um futuro totalmente desconhecido
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NFTs da coleção Ordinal Punks (Foto: Reprodução/Twitter)

Em 31 de janeiro de 2023, os Ordinal Punks lançaram a primeira coleção de fotos de perfil encriptada na rede Bitcoin com o uso do protocolo Ordinals, iniciando um movimento semelhante ao começo do boom dos NFTs em 2021 e dos primórdios do próprio Bitcoin.

(Fonte: Twitter)

Antes de continuar, é importante destacar alguns pontos que ajudarão a compreender toda essa viagem no tempo de maneira mais eficaz.

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Ordinal: protocolo que viabiliza a identificação desatoshis de maneira ordenada (1º,2º,3º,4º,5º, etc), o que possibilita a atribuição de identidades individuais a cada um deles.

• 1 satoshi = 1/100.000.000 Bitcoin.

Inscrições: inserção de conteúdo arbitrário (imagem, vídeo, áudio) aos satoshis de um Bitcoin, transformando-os em artefatos digitais nativos da rede Bitcoin (como o próprio time da Ordinals os define).

Traduzindo ainda mais: seria o equivalente ao governo dividir uma nota de R$ 200 (maior nota) em 20.000 moedas de um centavo (menor moeda) e depois personalizá-las com desenhos das Olimpíadas. Elas continuam sendo uma moeda de um centavo, mas com uma característica única que as diferencia das demais moedas (artefatos).

Curiosidade: Olga é o primeiro NFT on-chain do Bitcoin e foi inscrita na rede em 2015

OLGA, por JP Janssen

Apesar do protocolo Ordinals não ter sido o  primeiro a possibilitar a inscrição de dados em satoshis, ele com certeza é o que mais vem se destacando.

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Muito derivado da popularização geral dos NFTs, as imagens se tornaram o tipo de arquivo mais popular a ser registrado na rede do Bitcoin durante esse boom recente de inscrições.

Número de Ordinals por formato (Fonte: Dune Analytics)

Pelo próprio site do Ordinals é possível acompanhar todas as inscrições sendo feitas na rede pelo protocolo.

(Fonte: Ordinals)

Mas se NFTs e inscrições em satoshis da rede do Bitcoin não são novidade, porque esse movimento seria relevante a ponto de se tornar uma viagem no tempo?

Por detalhes simples e reminiscentes a 2009: a falta de infraestrutura, o excesso de gambiarras e o mar 100% aberto a todas as possibilidades e riscos. 

Bitcoin Punks 

Dentre todas as coleções e inscrições que estão sendo feitas, uma em particular vem atraindo a atenção de grandes personalidades da Web3 e sendo capaz de gerar um bom volume recorrente: a coleção Bitcoin Punks.

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Nas primeiras semanas de fevereiro o time por trás dos Bitcoin Punks inovou ao democratizar um pouco mais a inscrição de jpgs em satoshis.

(Fonte: Twitter)

Ainda é relativamente complexo de se fazer uma inscrição na rede do Bitcoin, mas por meio de um free mint público os Bitcoin Punks conseguiram atrair milhares de holders e encriptar toda a coleção em praticamente 24 horas.

Logo após o fim do mint, os grandes spikes de volume começaram a aparecer, mas com um gostinho de 2009:

(Fonte: Twitter)

Segue um exemplo:

Após criar certa credibilidade na comunidade oficial dos Bitcoin Punks no Discord, o user Dudu789#2118 criou uma planilha pública no Google Sheets para vender os seus NFTs. A estratégia aparentemente vem funcionando, dado que o Dudu já vendeu aproximadamente R$ 300 mil em Bitcoin Punks em apenas alguns dias.

(Fonte: Google Sheets)

O processo é “simples”. Dado que não existem contratos inteligentes e nem marketplaces para que as transações sejam realizadas, o comprador envia a quantia necessária para a carteira do Dudu e o mesmo envia o NFT para a carteira do comprador.

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E as gambiarras não pararam nas planilhas do Google Sheets e negociações feitas via Discord.

No dia 10 de fevereiro, alguns holders começaram a utilizar a solução do Emblem Vault para vender Bitcoin Punks por meio de NFTs da rede Ethereum através do OpenSea, que é o maior marketplace de NFTs do mundo.

Isso mesmo! Para atingir mais volume, carteiras que armazenam NFTs inscritos na rede do Bitcoin foram transformadas em NFTs da rede Ethereum.

(Fonte: Twitter)

Mas, ainda assim, a caminhada para adquirir um Bitcoin Punk original permanece relativamente complicada e muitos colecionadores acabaram perdendo dinheiro em NFTs falsos.

E é aqui que a comunidade brilha. Fóruns foram substituídos por canais no Discord, mas no meio da noite, quando as vendas via Emblem Vault começaram, surgiram anúncios por todos os lados de que um dos membros da comunidade dos Bitcoin Punks havia criado um site em questão de horas para que as pessoas pudessem verificar a autenticidade dos NFTs que estavam sendo adquiridos.

Enquanto os próprios donos do projeto e o time por trás da Emblem Vault estavam desesperados com a quantidade de scams acontecendo, foi um membro aleatório que salvou a noite por livre e espontânea vontade. 

(Fonte: ord.tools)

O mais extraordinário de toda essa história é que o lançamento da coleção não tem nem uma semana. Muita coisa ainda pode e vai acontecer.

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E é justamente por isso que o ecossistema Web3 vive uma viagem no tempo. Esse é o 2009 dos NFTs inscritos na rede Bitcoin via Ordinals.

(Fonte: Twitter)

O que está por vir?

Não existem pistas de qual será o futuro disso tudo e os riscos são extremamente elevados, e é por isso que esse momento é tão grandioso.

Mas mesmo sem muita direção, existem alguns movimentos que merecem o acompanhamento:

  1. Desenvolvimento de Infraestrutura: especialmente marketplaces construídos para os NFTs da rede Bitcoin.
  1. Propósito: NFTs relacionados a arte ou que visam ter um valor histórico estão sendo lançados na rede Ethereum, NFTs que visam trazer utilidade recorrente para o usuário estão sendo lançados na rede Polygon, e NFTs relacionados a pequenos jogos “play to earn” estão sendo lançados na BNB Chain. Qual será o propósito dos NFTs que farão história na rede Bitcoin?
  1. Impacto: qual será o impacto do protocolo Ordinals na rede da maior criptomoeda do mundo? Será ele capaz de trazer novos usuários para o ecossistema? De criar um ambiente mais lucrativo para os mineradores? Ajudar a tornar a rede mais segura?

Sobre o autor

Lugui Tillier é CCO da Lumx Studios durante o dia e navegante da Web3 underground durante a noite.