“Bitcoin pode salvar a humanidade”, diz fundador da 1ª empresa da B3 a investir em cripto

Israel Salmen revela como a Méliuz apostou no Bitcoin para proteger seus fundos e gerar retorno aos acionistas
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Israel Salmen, fundador da Méliuz (Foto: Divulgação)

A Méliuz (CASH3), empresa pioneira no setor de cashback no Brasil, anunciou recentemente a alocação de 10% de seu caixa em Bitcoin, tornando-se a primeira companhia listada na B3 a adotar essa estratégia. O mercado respondeu de imediato, fazendo as ações da companhia saltarem cerca de 20% no dia do anúncio e levando o preço ao seu melhor patamar desde setembro de 2024.

Em entrevista ao Portal do Bitcoin, Israel Salmen, fundador e atual presidente do conselho de administração da Méliuz, compartilhou os bastidores dessa decisão e os planos futuros relacionados ao Bitcoin.

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Ele conta que a implementação da estratégia não foi simples. Houve discussões internas para convencer o conselho da viabilidade do investimento e garantir que a decisão fosse bem embasada. “Buscamos apoio de especialistas para tomar essa decisão de forma consciente e estudamos por meses antes de anunciar”, explicou.

A empresa também formou um comitê para analisar a possibilidade de ampliar a exposição ao Bitcoin no futuro para além dos R$ 23,6 milhões já investidos na criptomoeda. “Criamos um grupo para entender a viabilidade, os riscos e as oportunidades de aumentar nossa posição em Bitcoin. Nos próximos 45 dias, teremos uma resposta mais clara sobre esse movimento”, disse Salmen.

O comitê é formado por especialistas do mercado cripto brasileiro, como Guilherme Bandeira e Diego Kolling, que também atua como Head de Estratégia Bitcoin da Méliuz, bem como Marcio Loures Penna, Diretor de Relações com Investidores da empresa.

Penna afirmou à reportagem que a empresa está ciente da volatilidade do Bitcoin e, embora oscilações possam ocorrer no futuro, sua tese permanece focada no longo prazo. Além disso, por ter investido apenas 10% do caixa na criptomoeda, a empresa pode manter seus ativos parados mesmo em cenários de queda.

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“Nós realmente acreditamos que o Bitcoin é uma moeda com futuro global e, por isso, tomamos essa decisão. O preço do Bitcoin pode chegar a US$ 10 mil ou US$ 200 mil, assim como a ação pode subir 20% em um dia, mas isso é irrelevante no curto prazo. O que importa é que acreditamos na tese da moeda e nos seus aspectos econômicos, e estamos posicionados para o futuro”, afirmou.

Bitcoin pode salvar a Méliuz?

Em carta aos investidores, Israel Salmen reconheceu que as ações da Méliuz “perderam relevância” devido à queda da liquidez no mercado brasileiro, impactada pela alta dos juros — um cenário que segundo ele afetou diversas small caps, incluindo a Méliuz. Diante disso, era hora de agir para preservar os recursos da empresa. 

Salmen explica que a companhia não queria manter todo o seu caixa de R$ 240 milhões concentrado exclusivamente em renda fixa no Brasil: “Os índices de inflação muitas vezes não refletem a real perda do poder aquisitivo. Além disso, parte do rendimento do CDI é tributada, impactando o lucro líquido devido ao nosso regime de tributação pelo lucro real. Diante desse cenário, começamos a estudar alternativas para o caixa para gerar mais valor para nossos acionistas, uma vez que a inflação e a carga tributária estavam corroendo esses recursos”.

É nesse contexto que o Bitcoin entra. O executivo relembra que teve seu primeiro contato com a criptomoeda entre 2013 e 2014, quando foi apresentado a ela por um antigo sócio. Desde então, vem acompanhando sua evolução e, no último ano, intensificou seus estudos em busca de alternativas para a alocação do caixa da empresa.

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“O Bitcoin demonstrou um histórico de valorização superior a praticamente todos os outros ativos nos últimos dez anos. Contra o dólar, teve em média um aumento superior a 70% por ano, e contra o real, mais de 90%”, apontou.

Ao ser questionado se a estratégia com Bitcoin poderia salvar a Méliuz, o executivo foi além: “O Bitcoin pode ser uma salvação para a humanidade, sinceramente. Eu não vou nem entrar no mérito da empresa. O importante é que estamos dando um primeiro passo na direção correta, com potencial para preservar valor e trazer retorno aos nossos acionistas”.

A MicroStrategy do Brasil?

A Méliuz espelha a estratégia da Strategy (antiga MicroStrategy) nos Estados Unidos, que reinventou seu negócio antes focado exclusivamente na venda de softwares. Liderada pelo bitcoiner Michael Saylor, há quatro anos a empresa faz compras regulares de Bitcoin e hoje detém a maior reserva corporativa da criptomoeda, totalizando 499.096 BTC, o que equivale a R$ 239,5 bilhões.

Isso levou a empresa a recuperar sua relevância no mercado de ações, fazendo seu valor de mercado disparar de US$ 500 milhões no final de 2020 para os atuais US$ 67 bilhões. 

Apesar de admirar Michael Saylor, o fundador da Méliuz ressalta que a empresa não busca o mesmo caminho. 

“Saylor foi pioneiro na adoção institucional do Bitcoin pelo mundo. Ele diz ser importante que todo mundo tenha alguma exposição ao Bitcoin, incluindo as empresas e os governos. Então nós seguimos esse conselho e fizemos a alocação, nesse momento, minoritária. Por isso acho que não dá para falar que somos a ‘MicroStrategy do Brasil’. Eles fazem muito mais coisas que sequer sabemos se é possível fazer no nosso país”.

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O empresário também descartou a possibilidade de que, ao adotar o Bitcoin, a Méliuz deixará seu negócio de cashback de lado. “A Méliuz continua sendo Méliuz. Seguimos com nosso core business de cashback, nossa plataforma, nossos parceiros e mais de 35 milhões de usuários. A decisão de investir em Bitcoin foi tomada como uma forma de proteger o caixa e gerar valor para os acionistas”, enfatizou.

Vale lembrar que a Méliuz já teve experiências anteriores com o mercado cripto. Em 2021, a empresa adquiriu o Alterbank por R$ 26 milhões, um banco digital especializado em criptomoedas, mas descontinuou seus serviços em 2022 para integrar suas funcionalidades ao ecossistema da Méliuz. Atualmente, a empresa oferece a compra e venda de Bitcoin dentro do seu app, porém o serviço só está disponível para um número restrito de clientes.

“Nosso objetivo é tornar a oferta de Bitcoin acessível a toda nossa base de usuários. Acreditamos no potencial do Bitcoin e temos um dever moral de oferecer esse produto para todos”, concluiu Salmen.