O Bitcoin atingiu seu maior preço da história na terça-feira (5) ao superar a marca de US$ 69 mil. Porém, quando a conversão é feita em reais, a criptomoeda precisa subir ainda mais para bater a máxima histórica de R$ 380 mil, registrada em novembro de 2021. Esse preço é 11% maior do que o topo de R$ 340 mil que o Bitcoin registrou na terça, no momento em que renovou o recorde frente ao dólar.
O motivo dessa diferença é a volatilidade do câmbio entre o dólar e o real. No final de 2021, a moeda norte-americana estava na faixa de R$ 5,60. Agora, a cotação está em R$ 4,90, uma queda de 12,5%.
Com isso, US$ 69 mil eram equivalentes naquela época a R$ 380 mil. Agora, está mais barato e saem por R$ 340 mil.
Como a cotação universal do Bitcoin é baseada no dólar, os valores em reais mudam conforme os humores do mercado de câmbio. “É como se o Bitcoin estivesse numa gangorra: quando o dólar sobe, o preço do Bitcoin em reais cai, e vice-versa”, diz Pedro Gutierrez, diretor da corretora CoinEx.
Os efeitos dessa dinâmica entre a moeda brasileira e americana tem ainda um outro aspecto menos conhecido que a pura e simples cotação: “O spread cambial, que é a diferença entre o preço de compra e venda do dólar, é elevado no Brasil. Isso significa que os brasileiros pagam mais para comprar dólares do que recebem ao vendê-los, tornando o Bitcoin mais caro para eles”, explica Gutierrez.
Segundo César Felix, diretor de comunidade da NovaDAX, o spread alto no Brasil influencia no quanto as pessoas estão dispostas a investir: “Isso pode influenciar a demanda e, consequentemente, os preços locais do Bitcoin.”
De toda forma, não é tão grande a distância que separa o preço do Bitcoin de novembro de 2021 com o atual, conforme explica André Franco, head de research do Mercado Bitcoin. “A diferença de R$ 40 mil acaba sendo pequena. Estamos falando basicamente de um pouco mais de 10%. O valor nominal não importa tanto, pois na verdade o multiplicador é que muda”, diz Franco.
Impacto para o mercado cripto no Brasil
O impacto de um Bitcoin mais caro em reais para o mercado brasileiro no momento parece não ser significativo, mas alguns especialistas argumentam que ele existe.
Pedro Gutierrez afirma que a “dinâmica cambial impacta o mercado cripto brasileiro, pois o volume de negociações em reais é menor do que em dólares, o que pode reduzir a liquidez do Bitcoin e aumentar sua volatilidade”.
Por outro lado, comprar Bitcoin em um momento do dólar mais desvalorizado pode ser uma estratégia interessante. O raciocínio é de Ricardo da Ros, CEO da Patex, que vê no ato de adquirir BTC um duplo investimento.
“Ao adquirir Bitcoin, estão apostando na valorização dessa criptomoeda e também na desvalorização do dólar. Ao comprar Bitcoin quando o dólar está baixo e o vendê-los quando o dólar está mais alto, será possível obter lucro tanto com a valorização do Bitcoin quanto com a diferença de câmbio”, afirma.
Um real mais fortalecido
Os motivos da valorização do real passam por uma explicação macroeconômica.
“A economia brasileira ganhou força, enquanto a inflação aumentou nos Estados Unidos. Passamos pelo período de pandemia, teve uma evolução muito mais rápida dos agravamentos da crise e saimos mais rápido dela também, porque subimos nossa taxa de juros mais rápido. Os americanos demoraram para subir a taxa de juros e demoraram um pouco mais para sair da crise”, analisa Raul Sena, fundador da escola de investimentos AUVP.
Sena explica que o movimento é de mão dupla, já que o fortalecimento da economia brasileira influencia os Estados Unidos também.
“O Brasil é um grande exportador de commodities e ele faz pressão no dólar, porque entra muito dólar na nossa economia na compra de carnes e outros produtos de exportação”, finaliza.
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