A casa de apostas online Betano, que patrocina o Fluminense e o Atletico Mineiro, está travando ou não pagando os clientes. É o que apontam as centenas de relatos no Instagram da empresa e parte dos mais de 5 mil comentários no site de defesa do consumidor Reclame Aqui (RA).
A empresa, que também anuncia no Jornal Nacional, dobrou o número de acessos no Brasil nos últimos quatro meses — de 11 milhões para 22 milhões de cliques, segundo o SimilarWeb. Com o crescimento, veio também a escalada de problemas para os usuários.
Embora tenha uma atuação recente no Brasil, a Betano já é a 19ª pior companhia que atua no país, conforme o ranking do RA. As queixas mais frequentes partem de clientes que não conseguem sacar seus fundos da plataforma, após serem atraídos por campanhas agressivas de marketing que oferecem bônus de boas-vindas de R$ 300.
Os casos reportados seguem um padrão: o torcedor deposita dinheiro na plataforma, faz suas apostas e, quando tenta sacar o lucro, o dinheiro não cai na conta.
Quando o suporte é procurado, ou a Betano alega que o saque foi efetuado e pede o extrato do cliente, ou exige que ele forneça mais dados para confirmar sua identidade e fazer a operação.
Em alguns casos, a empresa chega a dizer que o usuário não fez apostas arriscadas o suficiente para ter direito ao saque. E, assim, o problema se arrasta por semanas até ser solucionado.
Procurada pela reportagem, a Betano disse que 95% dos saques são processados em até uma hora. Além disso, diz que algumas práticas são para proteger os clientes:
“Após atingir determinado volume financeiro transacionado na plataforma, é solicitado aos usuários que realizem o procedimento de KYC (Know your customer), que visa coibir fraudes e uso indevido da conta, o que pode aumentar o tempo de processamento dos saques”.
Sobre forçar os clientes a fazerem apostas de risco para liberar os saques, a empresa diz que também se trata de um mecanismo de proteção: “Visa coibir a prática de fraudes dentro da plataforma e está alinhado ao órgão regulador de Malta, jurisdição em que estamos estabelecidos”.
“Nunca mais aposto na Betano”
“Todo dia eu entro no chat da empresa para contestar sobre o saque e eles usam vários argumentos bizarros para impedir, como ‘você tem que apostar 100% do valor do depósito em apostas mais arriscadas para poder sacar’”, diz o cliente da Betano Vinicius Peixoto.
Desde o dia 23 de setembro, ele tenta sacar mais de R$ 13,7 mil da plataforma. Ele conta que seus pedidos de saque foram recusados repetidas vezes e que toda vez que procura o suporte, recebe uma resposta diferente. Primeiro a Betano disse que para poder sacar, ele deveria apostar 100% do valor depositado. Quando respondeu que tinha feito isso, o argumento mudou, informando que suas apostas não eram arriscadas o suficiente.
A reportagem viu a troca de mensagens com o suporte da Betano. “Você está jogando em odds [chances] muito baixas. Você tem que jogar em odds que são consideradas mais relevantes”, responde a empresa para explicar por que o saque foi bloqueado.
Ao exigir que o fosse apontado onde no termos de uso da plataforma estava essa exigência, o suporte indica o Item 4.09, cujo trecho diz:
“A Kaizen [empresa que controla a Betano] reserva-se o direito de recusar um pedido de saque, a menos que um cliente tenha jogado o valor do depósito original pelo menos cinco vezes e com odds superiores a 1.50”.
Sem querer arriscar perder R$ 13,7 mil em uma aposta, o Peixoto não sabe o que fazer para recuperar o dinheiro preso na Betano, mas crava: “Nunca mais aposto lá”.
Procurada pela reportagem, a assessoria da Betano disse que essas limitações de saque são impostas para proteger o investidor.
“Este é um mecanismo de segurança e proteção que visa coibir a prática de fraudes dentro da plataforma e está alinhado ao órgão regulador de Malta, jurisdição em que estamos estabelecidos”, disse a empresa, afirmando que 95% dos pedidos de saques são processados dentro de uma hora.
Saque na Betano após problemas
No Instagram da Betano, as queixas dominam os comentários. “Estou tentando sacar meu valor e estão dificultando a validação do meu endereço. Quero acreditar que são corretos com quem usa a plataforma, mas estão agindo de má-fé”, escreveu um cliente chamado Marcos Paulo.
Em conversa com o Portal do Bitcoin, ele contou que depositou um valor relativamente alto e lucrou com suas apostas, mas que demorou para ter de fato o dinheiro em suas mãos:
“Dias atrás eu depositei R$ 2 mil e ganhei cerca de R$ 50 com uma aposta, então decidi tirar todo o dinheiro. Depois de oito horas, fui checar e nada ainda tinha caído na conta. Eles então pediram confirmação da minha identidade, fiz a confirmação. Depois passaram a negar a confirmação do endereço, uma coisa boba.”
No final ele disse que conseguiu receber o dinheiro, mas quatro dias depois do pedido inicial.
Patrocínios milionários
Apesar disso, a Betano parece ter um caixa cheio para gastar em campanhas publicitárias no Brasil.
Além do Fluminense, a casa de apostas também patrocina o Campeonato Carioca e sua logo estampa as camisas dos jogadores do Atlético Mineiro, um espaço que lhe custa mais de R$ 15 milhões por ano para ocupar. Segundo o GE, esse é um dos patrocínios mais caros do futebol brasileiro.
Mais caro ainda é o valor que a Betano está pagando para aparecer no Jornal Nacional, o principal programa de jornalismo da TV brasileira. Segundo o site iGaming, a casa de apostas desembolsou R$ 45 milhões para exibir a propaganda por três meses.
Quem está por trás da Betano
A Betano é controlada pela empresa Kaizen Gaming International Ltd, que informa ser licenciada e regulamentada pela Malta Gaming Authority.
Em consulta ao site da Receita Federal, foi possível encontrar uma empresa chamada KAIZEN GAMING LIMITED no Brasil, cujo CNPJ (45.495.509/0001-90) foi cadastrado em março deste ano.
Esse registro, no entanto, se limita a informar que a empresa é domiciliada no exterior (Malta), sem apontar os responsáveis por manter suas operações no Brasil. Tampouco seu site informa nomes dos sócios da empresa.
De acordo com o LinkedIn da Betano, suas operações estão concentradas na sua sede na Grécia, com 32 funcionários no país europeu.
O Brasil aparece como o segundo país com a maior equipe, com um total de 20 funcionários. Na rede social, Alexandre Fonseca é apontado como o Country Manager da Betano no Brasil.
Quando questionada sobre sua presença no Brasil, a equipe da Betano se negou a informar se possui CNPJ no país, sede ou representantes legais.
“A Betano opera globalmente em diversos países como Grécia, Alemanha e Portugal, por meio de licenças locais ou internacionais, como é o caso de Malta”, diz a nota da empresa. A Betano também não quis informar quais empresas de pagamento e bancos utiliza no país por “questões estratégicas”.
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