Além de fracasso com voos, Grupo Itapemirim também prometeu ganhos com criptomoeda

Empresa nega ter entrado no ramo de criptomoedas, mas documento oficial para investidores citava o token CrypTour
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Foto: Divulgação/ITA Linhas Aéreas

Dono da ITA Linhas Aéreas, que suspendeu por tempo indeterminado os seus voos, o Grupo Itapemirim é suspeito de estar envolvido em um golpe de “pump and dump” no mercado de criptomoedas, pelo que apontam muitos indícios.

Conforme reportagem do site Congresso em Foco, a empresa lançou um token chamado CrypTour, que teria uma emissão de 30 milhões de unidades, cada uma vendida a US$ 1. Promessas de valorização e bonificação por trazer pessoas para o negócio também estavam envolvidas.

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Mas os saques foram travados e os investidores do token se veem agora de mãos atadas.

“Pump and dump” é uma expressão em inglês para a prática de inflar artificialmente o preço de um ativo e sair do mercado antes da bolha estourar.

Troca de acusações

O problema agora gera uma troca de acusações entre os envolvidos na esquematização do token.

O dono do Grupo Itapemirim, Sidnei Piva de Jesus, afirma em entrevista ao portal Congresso em Foco que sua empresa é vítima.

O empresário diz que não tem relação com o token, mas a afirmação não se sustenta diante de diversos documentos: um trecho de um documento oficial para investidores da CTur, empresa do grupo, afirma que “o projeto CrypTour nasceu como uma iniciativa interna de inovação em tecnologia na Itapemirim Airlines.”

O token da Cryptour foi um empreendimento entre o Grupo Itapemirim e as empresas Extrading Exchange & Trading Platform e Future Design Solutions Ltda (FDS).

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Piva diz não ter relação com as companhias. Mas o dono do domínio do site da CrypTour é a FDS e os pagamentos em moeda fiat em troca do token iam parar em contas da FDS, como demonstram recibos de pagamentos de clientes – token esse que, como dito acima, consta em documento oficial do Grupo Itapemirim como chamariz para investidores.

O dono do Grupo Itapemirim disse ao Congresso em Foco que abriu um Boletim de Ocorrência, mas não enviou uma cópia ao veículo após solicitado.

Empresa de Dubai – sem CNPJ e site

Um outro eixo do negócio é a Extrading, representado pelo empresário Luiz Tavares, que aparece em dez vídeos ao lado de Piva promovendo o token.

Em entrevista ao Congresso em Foco, Tavares diz que 85% da CrypTour é de Piva e 15% da FDS.

Mas qual a relação dele, Tavares, no negócio todo? “Fui colocado assim [como diretor da Extrading] nos vídeos por sugestão do Furlan [Adilson Furlan, vice-presidente da Itapemirim] para passar credibilidade. Sou um empresário na área de tecnologia com uma empresa em Dubai, a Connect Black”, disse em entrevista ao veículo.

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Mas essa experiência é de difícil verificação: Tavares não tem CNPJ e nem site da suposta empresa.

“Alavancagem financeira”

Um engenheiro entrevistado pelo Congresso em Foco diz que foi convencido a entrar no negócio após assistir uma live do presidente do Grupo Itapemirim, Sidnei Piva de Jesus, em julho de 2021, apresentando o CryTour e falando que o token iria “possibilitar a criação de novos fundos de investimentos e alavancagem financeira.”

Empresa nega acusações

A assessoria de comunicação do Grupo Itapemirim nega ter participado de esquemas envolvendo criptoativos.

Leia abaixo a nota oficial da empresa:

“O Grupo Itapemirim esclarece que nunca realizou nenhuma operação ou negócio envolvendo vendas de criptomoeda. Houve um projeto, mas que não foi concretizado pelo Grupo.

Devido a falsas acusações de relação com essa criptomoeda, o Grupo Itapemirim tomou as devidas  providências legais, com a confecção de um Boletim de Ocorrência (em anexo) para apuração criminal em detrimento de empresa que está utilizando a imagem do Grupo, vinculando a venda de criptomoeda.

A conta bancária utilizada para a venda da criptomoeda não tem nenhuma relação com o Grupo ou pessoas ligadas ao Grupo Itapemirim. O Grupo pondera que providenciará as medidas legais para desvincular sua imagem a qualquer tipo de operações ligadas à referida criptomoeda.

Por fim, vale ressaltar que a investigação criminal noticiada na reportagem não apontou nenhuma ligação com pessoas ligadas ao Grupo Itapemirim, comprovando a completa ausência de ligação na venda de criptomoeda.”

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