Surfando na maré altista das commodities — impulsionada pela forte demanda que caracteriza a retomada das duas maiores economias do planeta, China e Estados Unidos — as cotações das ações dos segmentos siderúrgico e de mineração no país continuam em rota de ascensão, em que pese a pequena pausa da quarta-feira (19), em que o Ibovespa refletiu (fechou em 0,40%), mesmo que parcialmente, o recuo do Dow Jones (0,48%), depois de o Fed anunciar mudanças na política monetária, ou seja, elevar os juros para conter o aquecimento econômico na terra do Tio Sam. No caso doméstico, a explicação é que o intervalo abriu margem para a ‘realização dos ganhos’ auferidos nos últimos dias.
Até esse momento, a tendência é de que a bolsa brasileira continue refletindo o apetite externo pelas commodities e se ‘descolando’ da bolsa americana, que está se ressentindo da desvalorização acentuada de ações das áreas de telecomunicações, energia e tecnologia, bem como a queda abrupta de 3% do preço do petróleo.
Nesse aspecto, o temor de uma nova disparada da inflação, e a consequente elevação dos juros pelo Fed, também afetou o humor do investidor internacional, além de trazer reflexos por todo o globo.
Já no Brasil, a trilha da valorização acionária do setor tem como carro-chefe a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), maior mineradora brasileira e uma das maiores do mundo que, desde o início do ano, já acumula alta de 30,3%, como reflexo do valor baixo de seus papéis, que oferecem bom potencial de ganhos efetivos.
Movimento vigoroso
Para analistas, as ações da Vale apresentam atualmente um ‘valuation’ atrativo, em especial a VALE3, com a vantagem de negociação ‘abaixo dos pares globais’. Esse movimento vigoroso foi acompanhado por algumas das principais empresas do setor, a exemplo da CSN ON, Gerdau PN e Usiminas PNA, cujas altas variaram, na terça-feira (18), de 1,77% a 2,34%.
Interessante notar que a bolsa brasileira, impulsionada pelo bom momento das commodities, se manteve no patamar de 122 mil pontos, a despeito do ‘derretimento’ americano.
Na verdade, o mercado já formou ‘senso comum’ de que teve início um superciclo altista de commodities, que deve se estender pelos próprios anos, em compasso com o processo de recuperação da economia mundial no período pós-pandemia. Um dos exemplos é o do minério de ferro (tipo 62% de qualidade), já negociado por mais de US$ 200 a tonelada, marca recorde a ser logo batida.
Debêntures perpétuas
Do ponto de vista do investidor, o ano é promissor, no que toca à distribuição de dividendos pela companhia mineradora, com destaque, em seu portfólio, às chamadas debêntures participativas perpétuas da Vale (CVRDA6), títulos de crédito que fazem jus a prêmios semestrais aos seus detentores, desde que as receitas da empresa atinjam certos limites.
Déficit ‘oportuno’
Após a saída recente da participação federal nesse mercado específico — como medida para reduzir o colossal déficit fiscal — a grande quantidade de debêntures em circulação (388,6 milhões, conforme a emissão inicial), inflou a liquidez dos papéis, em seguida atraindo levas de investidores.
Com cotação diária, a debênture da gigante mineradora oscila hoje entre R$ 50 e R$ 60, após ter praticamente dobrado de preço em apenas um ano. Outro atrativo para o papel é o cálculo de sua receita em dólar, para conversão posterior em reais.
Esse movimento ascensional também se verifica em toda a indústria do aço, cujas vendas avançaram 106,1% em abril último (se considerado igual mês de 2020), correspondendo a 343,1 mil toneladas.
Outro indicador importante de tendência, o volume de vendas diárias, de 17,4 mil toneladas, é o maior registrado desde 2013. As compras, por sua vez, no mesmo comparativo, aumentaram 93%, em que pese a base de comparação mais baixa.