As Finanças Descentralizadas (DeFi) tem sido alvo de muito interesse em plataformas de contratos inteligentes, principalmente o Ethereum.
O DeFi permite a criação de vários produtos e operações semelhantes a produtos financeiros conhecidos, como por exemplo emprestar ativos a outras pessoas em troca de taxas de juros, como uma forma de rentabilizar os seus tokens.
A rede ethereum, por ser muito programável, tem liderado esse processo, sendo o berço de muitas DeFis, o crescimento do BTC tokenizado, que é uma forma de usar bitcoin nos protocolos de contratos inteligentes da rede ethereum, e rentabilizar esses fundos em bitcoim mostram isso.
Um tipo especial de DeFi tem chamado atenção pelo crescente aumento do número de usuários, os protocolos para formação de mercados automatizados como o Uniswap, SushiSwap e a PancakeSwap.
Um formador de mercado automatizado (AMM) é um tipo de protocolo de câmbio descentralizado (DEX) que se baseia em uma fórmula matemática para precificar os ativos.
Esses protocolos de liquidez permitem que qualquer pessoa se torne um formador de mercado e ganhe com as taxas de negociação.
Eu gosto de fazer analogias com o mercado tradicional, que são mais familiares ao nosso cotidiano para explicar as novas tecnologias. Em uma bolsa tradicional, como a B3, as negociações acontecem diretamente entre os participantes.
Se você compra uma ação na bolsa, isso representa uma troca entre dois ativos, dinheiro por ações. A negociação é executada por duas pessoas, onde uma efetua o pagamento e a outra recebe o dinheiro. A operação é intermediada pelo sistema da bolsa e por corretoras, que recebem taxas de negociação por esse serviço.
Na bolsa ou em uma exchange tradicional centralizada e com book de ofertas, a precificação é dada pela oferta e a demanda.
Já nas DEX os ativos são precificados de acordo com um algoritmo matemático, e não é necessário ter outro participante para realizar as operações.
Nas DEXs não existe book de ofertas, os usuários interagem com um contrato inteligente que “cria” o mercado demandado e as negociações acontecem entre usuários e contratos.
As DEXs podem ser muito vantajosas para quem quer comprar ou vender quantidades expressivas de um determinado ativo, pois tanto na bolsa, quanto em exchanges tradicionais, ativos de baixa liquidez teriam uma variação considerável no preço, exatamente pela falta da contraparte.
Provedores de liquidez
Mas para que tudo isso funcione, a liquidez dos contratos inteligentes precisa ser fornecida por usuários, chamados de provedores de liquidez.
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Provedores de liquidez adicionam fundos aos “pools de liquidez” e em troca do fornecimento de dinheiro ao protocolo, ganham as taxas das negociações efetuadas.
Na maioria dos protocolos, funciona da seguinte maneira: a soma das taxas de negociação do dia anterior é distribuídas de forma automática para os provedores de liquidez, de acordo com a sua participação dentro do pool.
A Uniswap, por exemplo, cobra dos usuários uma taxa de 0,3% que vai diretamente para os provedores de liquidez.
Fornecer liquidez à um pool pode ser um empreendimento muito lucrativo, mas é preciso entender os riscos e principalmente o conceito de “Impermanent Loss” (perda impermanente).
O que é Impermanent Loss?
Impermanent Loss acontece quando a relação de preço dos tokens depositados muda depois que você os deposita no pool. Quanto maior for a volatilidade, maior será a perda impermanente.
Na maioria dos pools, a relação entre os ativos é de 50%, ou seja, metade da liquidez para cada ativo. Digamos que você deposite tokens em um pool de liquidez que tenham o valor equivalente a 100 dólares. Nesse exemplo, 50 dólares serão alocados no ativo A e 50 dólares no ativo B.
Se um dos ativos começar a desvalorizar muito, será necessário fazer um rebalanceamento, pois os algoritmos garantem que a relação de liquidez entre os pares permaneça as mesmas, e esse processo pode dilacerar o seu patrimônio.
Outra implicação disso, e que os provedores de liquidez também não se beneficiam de eventuais valorizações extraordinárias.
Impermanent Loss não é um bom nome para esse fenômeno, pois o termo “impermanência” pode passar a impressão de que os ativos irão em algum momento reverter para os preços em que foram originalmente depositados, mas isso pode não acontecer, além disso se você retirar seus fundos com uma relação de preço diferente daquela quando você os depositou, as perdas serão permanentes.
Para os que estão se aventurando como provedores de liquidez, eu tenho uma dica, usando outro protocolo DeFi, os de empréstimo, é possível fazer uma gestão de risco mais eficiente, mitigando em até 50% os riscos de Impermanent Loss.
Outro risco desses protocolos é o fato deles ainda serem muito recentes, existindo a possibilidade de erros na programação que podem levar a perdas irreversíveis, pois como esses protocolos são descentralizados, não existe um órgão para você reclamar ou processar em caso de erros.
Por isso, tenha muito cuidado ao depositar fundos em um AMM e certifique-se de compreender todas as implicações. Provavelmente, no futuro, haverá muita inovação nesse campo, e melhores condições e segurança para todos os usuários.
Sobre a autora
Marina Luz, CFP®, é economista, com experiência de 8 anos no mercado financeiro e trabalhou no Itaú BBA. É especialista em finanças pessoais e mantém o canal no Youtube Mais Dinheiros, sobre educação financeira e investimentos