Londres, 3 de janeiro de 2009, o tradicional jornal britânico “The Times” estampava mais uma capa em sua rotina normal. A principal notícia da capa era: “Chanceler à beira de segundo resgate aos bancos”.
Coincidentemente, ou não, a frase também está presente no bloco gênesis do Bitcoin, o maior investimento da década.
Antes de entender o Bloco Gênesis e o Bitcoin, é preciso olhar para as origens da crise de 2008. O fim do padrão ouro em 1971 e empréstimos exagerados dos bancos quase acabaram com o sistema financeiro mundial.
2008: ano do resgate aos bancos
A notícia do The Times era um reflexo cristalino do contexto socioeconômico no qual o mundo estava inserido durante o auge da crise mundial que começou em 2007 e se aprofundou em 2008, com a quebra do gigante banco Lehman’s Brother e centenas de pessoas desempregadas vagando por Wall Street sem muita esperança no rosto.
A grave crise de 2008 revelou os efeitos colaterais de um sistema bancário baseado em reservas fracionárias. Nesse sistema, um banco pode emprestar mais dinheiro do que possui sob custódia, correndo risco de ser liquidado por corridas bancárias, que acontecem quando todos os seus correntistas sacam dinheiro de um banco ao mesmo tempo.
A reserva fracionária já existia desde os tempos do padrão-ouro. No entanto, a extinção de moedas lastreadas em Ouro em 1971 tornou esse sistema mais vulnerável, porque praticamente removeu os limites de emissão de dinheiro.
Com a crise desse sistema, o resgate aos bancos, ou “Bailout”, foi uma tentativa desesperada orquestrada por governos para tentar salvar os bancos “grandes demais para falir”, de forma a evitar um colapso do sistema financeiro mundial durante a crise de 2008. O governo Bush, havia anunciado um plano de ajuda de US$ 2,6 trilhões ao sistema financeiro.
Afinal, os Bancos carregavam, além de “títulos podres” ou junk bonds, as economias da vida de todas as pessoas, tais como aposentadorias, fundos de pensão e seguros. Uma quebra de bancos como Barclays, JP Morgan e Bank of America poderiam significar um novo paradigma na economia capitalista.
Os governos, através de seus bancos centrais, injetaram trilhões de dólares e euros para comprar ativos podres e ajudar a limpar o passivo dos bancos “too big to fail” (compravam hipotecas que nunca seriam pagas, empréstimos com baixo score e outros títulos de dívida).
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Aparentemente as medidas funcionaram, mas deixaram cicatrizes profundas na economia mundial. A injeção de dinheiro continua até hoje. Ray Dalio, um dos maiores gestores de fundos do mundo, suspeita que os ativos financeiros estejam inflacionados, o que representa um vetor de risco de recessão.
11 anos do Bloco Gênesis do Bitcoin
Neste contexto, surge o Bitcoin pela primeira vez na internet, em uma lista de e-mail de anarquistas, criptógrafos e matemáticos, através de um documento que demonstrava seu conceito e funcionamento, o whitepaper, divulgado no dia 31 outubro de 2008, coincidindo com o auge da crise financeira mundial.
No entanto, apenas no dia 3 de janeiro de 2009 que a rede passou a existir, com Satoshi Nakamoto minerando o primeiro bloco de Bitcoin, conhecido como “Bloco Gênesis”, que levou 6 dias para ser minerado, criando as primeiras unidades de Bitcoin.
Como forma de protesto, ou simbolismo, Satoshi registrou na gênesis do Bitcoin a seguinte frase: “The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks”. A mensagem pode ser obtida ao analisar os dados brutos do bloco gênesis.
Essa foi uma forma que Satoshi encontrou para manifestar sua insatisfação com bancos centrais e sistemas baseados em reservas fracionárias, criando um ativo que seria a antítese do nosso dinheiro, carregando a alta escassez e a robustez milenar do Ouro como o ativo final de garantia financeira.
No entanto, o Bitcoin tem mais do que apenas escassez e robustez. Diferente do Ouro, ele não pode ser confiscado e censurado com o uso da força bruta, como foi pelo feito governo americano na Crise de 29 com a Ordem Executiva 6102.
O presidente Roosevelt proibiu a posse de Ouro e obrigou a população americana a vender suas moedas, jóias e certificados de Ouro a um preço muito abaixo do mercado. O Bitcoin resolve esse problema com camadas de criptografia, descentralização e escassez programada.
Dez anos depois, a principal chamada do “The Times” foi: “Universidades enfrentam crise de crédito e dívidas entram em uma espiral”. Na data em que escrevo, 3 de janeiro de 2020, Trump acaba de jogar mísseis e matar um dos homens mais poderosos do Irã, sem aprovação do congresso.
Qual será a próxima capa do The Times daqui a 10 anos? A minha aposta será: “Bitcoin à beira de resgate da economia”.
*Texto escrito por Lucas Bassotto e publicado originalmente pelo site Investificar.