Nos últimos dois meses e meio, a Atlas Quantum recebeu 13.800 pedidos de saques. Destes, 102 foram atendidos, o que dá um total de 18 bitcoins pagos. Os pagamentos foram feitos após a empresa anunciar o fim dos prazos para as retiradas.
Os dados vêm de três tabelas obtidas pelo Portal do Bitcoin onde constam os nomes, valores, endereços das wallets, emails, telefones e cancelamentos de todos os pedidos de saques feitos pelas vítimas da Atlas no período entre 20 de agosto até 12 de novembro. Por motivos de segurança, esses dados não serão divulgados.
O cenário é trágico. Em setembro, por exemplo, a soma dos bitcoins solicitados foi de 6104 — quase R$ 200 milhões. Em novembro, a soma foi bem menor: 4331. Isto porque em outubro a empresa implementou um serviço extorsivo de vendas de bitcoin por reais, o que provocou uma onda de cancelamentos.
As tabelas dos pedidos eram atualizadas mês a mês. Então, caso um cancelamento fosse pedido em outubro, ele deixa de aparecer em novembro. A mesma coisa para os pagamentos. A reportagem não teve acesso ao que foi pago ou cancelado em agosto. Porém, as tabelas registram todos os pedidos feitos a partir de 20/08 — são cerca de 1600, dos quais apenas oito foram pagos.
É preciso lembrar que a notificação da CVM saiu na noite do dia 13 de agosto. Com isso, houve uma corrida de saques tão grande que fez com que a Atlas Quantum travasse todos os pagamentos. A partir de então as desculpas e enrolações começaram a se acumular: de D+1 passou para D+4, que virou D+8, depois D+30 e, finalmente D+infinito.
Curiosamente, há pagamentos feitos após o prazo ‘infinito’. O então diretor de relações com investidores, Bruno Peroni, que era um dos principais rostos da empresa, foi um dos que conseguiu.
Um dia depois de ser demitido em setembro, ele pediu dois saques: um de 0,7 e outro de 1,5 BTC. No mês seguinte, os saques constam como realizados e traz o link da confirmação na blockchain. Em outubro, há um pedido de 0,8 BTC, que ainda não foi completado.
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Também demitida na mesma leva que Peroni, a diretora jurídica e de compliance Emilia Campos tentou sacar 2,895 BTC na mesma data que seu ex-colega de trabalho. Apesar de constar como “Aprovado” na tabela, o saque não foi pago para o endereço cadastrado na plataforma.
O conjunto de dados mostra a gravidade e, em parte, a quantidade de pessoas que foram afetados pelo golpe. Entre os investidores, há muitos advogados, médicos e até mesmo professores de universidades públicas. Há pelo menos cinco pedidos de saques de 40 bitcoins, embora a grande maioria seja de menos de 0,5.
Crise da Atlas Quantum
A Atlas Quantum sempre afirmou que era uma empresa de arbitragem de bitcoin. Porém, após uma notificação da CVM em agosto a empresa deixou de pagar os clientes.
Os problemas foram se avolumando, com a demissão dos funcionários e, inclusive, a presença de Rodrigo Marques, o CEO da Atlas, em uma audiência na Câmara dos Deputados.
Agora corre na Justiça dezenas de processos das vítimas contra a empresa na tentativa de reaver o dinheiro investido. Também os processos trabalhistas começaram a se avolumar. Dos mais de 300 funcionários, sobraram menos 50. Dos demitidos, muitos não ganharam FGTS e rescisão.
A última leva de demissões ocorreu no dia 28, quando Marques reuniu os empregados para avisar dos cortes uma dia antes do pagamento dos salários.
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