A juíza federal María Servini, de Buenos Aires, recebeu na segunda-feira (12) a incumbência de investigar as acusações de fraude contra o presidente da Argentina, Javier Milei, devido à sua divulgação da criptomoeda LIBRA, baseada na Solana, que colapsou no final de semana.
O canal de notícias argentino Todo Noticias, pertencente ao Grupo Clarín, entrevistou ontem Milei, abordando o que alguns chamam de ‘Cryptogate’, uma alusão ao escândalo Watergate, que levou à renúncia do ex-presidente dos EUA Richard Nixon em 1974.
“Não tenho nada a esconder”, disse Milei durante a entrevista, acrescentando que não vê problema em se apresentar para as investigações.
“Sou um cara super entusiasta da tecnologia e, ao ver a possibilidade de uma ferramenta para financiar projetos de empreendedores, divulguei”, disse Milei.
Em um trecho da entrevista (veja abaixo) que está viralizando nas redes sociais, Milei diz que não “promoveu” a criptomoeda, “apenas a divulgou”. Ao ser contestado pelo repórter, que argumentou que ambas as ações eram equivalentes, o presidente rebateu, dizendo que não.
Investigação contra Milei
A nomeação da juíza responsável por investigar a possível fraude por Milei ocorre após diversas denúncias de fraude apresentadas no domingo por advogados argentinos, depois que Milei fez uma breve divulgação do token LIBRA antes que seu valor evaporasse, resultando em perdas milionárias para investidores.
Poucas horas após a formalização das acusações contra Milei, a plataforma de análise de blockchain Bubblemaps revelou evidências on-chain ligando os criadores do LIBRA a lançamentos fracassados anteriores de cripto, incluindo o token MELANIA, lançado em janeiro.
A presidência da Argentina alega que Milei não teve qualquer envolvimento no desenvolvimento do token.
“O presidente compartilhou uma publicação em suas contas pessoais anunciando o lançamento do projeto da KIP Protocol, como faz diariamente com muitos empreendedores”, afirmou a presidência em comunicado citado pela Associated Press.
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A juíza Servini não tem um prazo determinado para concluir a investigação, que ocorre paralelamente a uma outra apuração conduzida pelo Escritório Anticorrupção da Argentina.
O advogado Jonatan Baldiviezo, um dos autores das denúncias, alega que as ações de Milei foram “essenciais” no que ele descreve como “uma associação ilícita para cometer um número indeterminado de fraudes”.
Cryptogate
A controvérsia começou na sexta-feira, quando Milei tuitou sobre o LIBRA como uma iniciativa para “estimular o crescimento econômico financiando pequenas empresas e startups”.
A capitalização de mercado do token disparou brevemente para mais de US$ 4 bilhões antes de despencar 95%, após insiders retirarem US$ 87 milhões em liquidez.
O mercado de ações argentino reagiu à polêmica, com o índice S&P Merval, que acompanha as maiores empresas do país, caindo mais de 5% na abertura do pregão da segunda-feira — sua maior queda intradiária desde julho do ano passado.
O ministro da Economia, Luis Caputo, tentou minimizar o impacto do incidente na noite de segunda-feira.
“Criptomoedas são um mundo pequeno, infinitesimal. É um ambiente de especialistas muito difícil de entender”, afirmou Caputo em entrevista ao portal La Política Online (LPO).
Curiosamente, Caputo também destacou que o setor cripto está repleto de “apostadores”, usando o termo “timberos”, uma gíria que no país pode ser associada a golpes e desconfiança.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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