Na última quarta-feira (17), a B3 começou a operar oficialmente o contrato futuro de Bitcoin (BTC) em sua plataforma. Considerado mais um marco para expansão do mercado de criptomoedas no Brasil, o produto oferece novas formas dos traders negociarem o Bitcoin.
O contrato utiliza o índice Nasdaq Bitcoin Reference Price (NQBTC) como referência e será negociado das 9h às 18h30 todos os dias sob o código BIT. O valor do contrato será equivalente a 0,1 bitcoin, ou seja, 10% do valor da criptomoeda em reais, e o vencimento será mensal.
Segundo Fabrício Tota, diretor do Mercado Bitcoin, a novidade mostra a relevância que o mercado cripto adquiriu, mesmo em um ambiente onde o BTC ainda sofre muitas críticas e pessoas que não acreditam no seu potencial como investimento.
“A gente ainda vê um bloqueio, uma dificuldade do entendimento do que é o Bitcoin. Não do que é tecnicamente, mas da revolução que ele proporciona, o poder da autocustódia, da liberdade, da autonomia de você transacionar livremente, sem depender de entes centrais. Acho que a mensagem do futuro de Bitcoin na B3 mostra que isso está mudando”, diz Tota.
Na mesma linha, Beto Fernandes, analista da Foxbit, ressalta que o brasileiro está ganhando mais uma forma de negociar Bitcoin no país, o que considera ótimo para a indústria como um todo. “Mais do que isso, ela repercute como o Brasil se tornou uma região crypto-friendly em comparação com outras”, avalia.
Segundo ele, esse tipo de novidade dá suporte até para a questão regulatória de todo o ecossistema de criptomoedas, desde os clientes até os players, como as próprias exchanges.
Já Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da Ripio, destaca que agora os investidores têm acesso a um instrumento financeiro atrelado às variações do Bitcoin pela cotação da moeda fiat. “Esse instrumento permite que os day traders e swing traders se exponham ao preço do ativo e aproveitem as flutuações do Bitcoin, que apresenta alta volatilidade – uma característica intrínseca desse mercado”.
A oferta de contratos futuros de Bitcoin era uma demanda antiga na B3, já que é um produto que existe no exterior. E o primeiro dia de negociação mostrou o interesse do público, com 7,4 mil contratos transacionados na quarta-feira. Além dos negócios concretizados, o BIT recebeu cerca de 111 mil ordens de compra ou venda em tela, segundo a B3.
“Esse é o primeiro derivativo ligado a uma cripto aqui na B3 e ele foi bastante demandado pelo mercado, o que justifica os bons números do primeiro dia”, disse Marcos Skistymas, diretor de produtos listados da B3, destacando que o BIT também será uma boa ferramenta para traders operarem a volatilidade dos preços com o halving que ocorreu na última sexta-feira (19).
Novas estratégias para negociar Bitcoin
Apesar de ser uma novidade positiva, Fernandes acredita que o futuro de Bitcoin na B3 não deverá levar a uma mudança de comportamento do mercado nacional como um todo, sendo que o produto deverá ser muito mais usado por “traders experientes e quem já opera no mercado financeiro”.
Como aponta Ana, em um cenário especulativo como o das criptomoedas, a volatilidade é positiva, pois grandes flutuações compõem o ambiente adequado para o investidor de perfil arrojado, que opera com capital alavancado e precisa desenvolver estratégias de trading mais avançadas.
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“Um dos exemplos mais comuns são as estratégias de hedge para proteção do dinheiro, ou estratégias em que o trader precisará assumir posições mais agressivas para especular no mercado. Nestes casos, a volatilidade de preços junto à liquidez de negociações em bolsa são itens indispensáveis para o sucesso das operações”, explica ela.
Fernandes ainda complementa que, por ser um produto correlacionado ao índice Nasdaq, há uma negociação mais direta do Bitcoin em dólares. “Isso muda a perspectiva do investidor que precisa estar mais atento ao que acontece em termos de política e economia nos Estados Unidos – ambiente mais estável – do que no Brasil”, avalia.
“Esses futuros também têm a chancela da B3, o que faz com que seja um produto operado como se fosse um ativo tradicional”, completa o analista.
Cuidados do investidor
Por fim, os especialistas apontam alguns cuidados e pontos negativos que o futuro de Bitcoin pode ter para os investidores.
Para Tota, um primeiro ponto a ser considerado é que o mercado não funciona 24 horas, o que, diante da volatilidade, pode elevar muito os riscos dos traders. Ele cita o exemplo do Carnaval, em que a B3 não opera durante dias. Em um cenário em que o Bitcoin passe por mudanças bruscas de preço, o investidor exposto a esse produto não poderá fazer nada.
Já Fernandes destaca que o investidor precisa ter cuidado, já que esse é um produto avançado, em que são exigidas margens, depósitos e outras garantias para a operação. “Ele tem um foco bastante especulativo e para quem de fato conhece os mecanismos específicos de investimento em derivativos”, diz.
Tota complementa sobre o risco da possibilidade de se fazer grandes alavancagens, reforçando que é nessa operação – principalmente quando o investidor sofre uma stop order – que as corretoras ganham mais dinheiro.
“Essa possibilidade excessiva de alavancagem em um ativo tão volátil, eu acho que ela pode ser perigosa. Depois as pessoas colocam a culpa no ativo, sendo que todo mundo que conhece um pouquinho de cripto sabe que justamente o mais interessante é um investimento com um horizonte de longo prazo”, afirma.
Além disso, há a questão das taxas, que são maiores do que operar por outros produtos como ETFs ou até mesmo diretamente a criptomoeda em uma exchange.
“Algumas taxas também podem estar acrescidas na manutenção de posições abertas, assim como há um período de vencimento, o que gera um custo operacional maior ao investidor do que a simples compra do token em uma exchange e uma flexibilidade menor”, diz o analista da Foxbit.
Lembrando que comprar um contrato futuro não significa a compra da criptomoeda em si, ou seja, o investidor não terá posse daquele ativo e não há como manter em carteira ou sacar os BTCs.
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