Foto do busto do youtuber Rogério Betin
(Divulgação)

O empresário Rogério Betin, de Curitiba (PR), que usa seu canal homônimo no YouTube para denunciar golpes, recebeu recentemente uma série de ameaças após expor três plataformas com foco em apostas que, segundo ele, estão enganando investidores. As ameaças foram reveladas em um vídeo publicado no último domingo (16).

“Ligou para o celular da minha esposa, ameaçou a minha família, diz que vai atrás dos meus filhos, da escola dos meus filhos… Olha que absurdo”, relata Betin no vídeo, onde ele mostra trechos de gravações de ligações telefônicas anônimas. Agora, ele cogita até mesmo em se mudar para o exterior, a fim de preservar sua família e o seu trabalho.

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O youtuber revelou que as ameaças vieram depois que ele expôs três supostas empresas de investimentos: Starbets, Btrader e Plimbet. Ele acredita que as ligações podem ter vindo de pessoas ligadas a essas empresas, já que as denunciou. Agora, Betin disse que vai procurar a polícia pessoalmente para registrar um boletim de ocorrência.

Na sexta-feira (21), a reportagem do Portal do Bitcoin conseguiu falar com o youtuber, que se dispôs a contar mais sobre a situação. 

Sobre as ligações recebidas, Betim comentou:

“Eu me sinto ameaçado por todos eles, as três pirâmides. O CEO da Btrader, senhor Roberth Mendes, me ligou com tom de ameaça; dias depois, recebi outra ligação de ameaça mesmo. O Renan, da Plimbet, me ofereceu dinheiro para eu parar de denunciar ele. Tentou me comprar, mas eu não aceitei — eu não aceito dinheiro nenhum para parar com essas denúncias. E o César Augusto, da Starbets, ele não falou em tom de ameaça, mas ele não gostou nada do que eu fiz. Mas eu confio na proteção divina, sou uma pessoa bastante religiosa, e eu acredito que essas ameaças não vão se concretizar. Estou procurando me defender como eu posso, mas não tenho muito o que fazer. Eu tenho que continuar o meu trabalho”.

“Combater esses golpes é ajudar as pessoas. Eu recebo muitos comentários nos meus vídeos de pessoas agradecendo por não ter caído em tal golpe — eles dizem ‘não investi por causa do seu vídeo, você me salvou’. Cada golpe financeiro destrói milhares de famílias. A maioria delas perde tudo. Isso destrói casamentos, destrói vidas, fica um trauma para sempre na vida dessas pessoas”, acrescentou.

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Sobre deixar o Brasil, ele comentou:

“Eu penso sim seriamente nessa possibilidade [de ir para os EUA]. Eu só não saí do Brasil porque eu não consegui. Porque ainda não tive condições de fazer isso. E eu não quero ficar clandestino ou como turista — ficar lá sem status. Eu quero ir como estudante ou até mesmo para aperfeiçoar o meu inglês enquanto trabalho com mais segurança. Se não der certo para os EUA, pode ser Canadá ou Europa — algum lugar seguro onde eu possa trabalhar sem me preocupar com a pilantragem dos bandidos aqui do Brasil”, explica. 

“Muita malandragem” e golpes na internet motivaram denúncias

Perguntado porque resolveu denunciar golpes na internet, Betin disse que desde sua adolescência tinha o desejo de trabalhar pela internet. Quando ele passou a trabalhar no mercado financeiro, no setor de consignados, ele resolveu apostar no YouTube. “Quando eu comecei, eu quis fazer vídeos que ajudassem as pessoas de alguma forma… É uma coisa natural minha”, disse.

Conforme relata, na época o YouTube já contava com bastante entretenimento e piada, e ele resolveu partir para outro tipo de conteúdo, mais  focado para ajudar o consumidor. Ele então gravava em supermercados, lojas, entre outros segmentos. Em algum momento, no entanto, ele percebeu que havia “muita malandragem” na internet e passou a denunciar “coisas erradas”.

“Foi assim que eu comecei e não parei mais”, disse à reportagem, acrescentando que por um tempo ficou com as duas atividades até escolher definitivamente seu trabalho pelo YouTube. Atualmente, Betin se reveza entre produção de conteúdo na plataforma e o seu negócio no ramo de alimentos, onde fabrica alho triturado, cujo produto leva seu nome.

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Cavalinho sem perna

Descrevendo como foram suas primeiras denúncias, Betin citou um programa de TV controverso, do “cavalinho sem perna” — uma imagem com fileiras de cavalos, na horizontal e vertical, sendo que um deles teria algo diferente. Mas ele relembrou que na época havia muitos golpes do mesmo tipo e que estavam há anos no ar.

“Tinha um que era do cavalinho sem perna que a apresentadora falava: ‘ache o erro’… Estava fácil de achar; era só bater o olho e encontrar. E várias pessoas ligavam e erravam. Só que era uma armadilha”.

Ele conta que quem assistia ao programa e via as pessoas errando uma coisa tão fácil, ficavam incentivados a ligar para ganhar a ‘bolada’. No entanto, disse Betin, quando a pessoa ligava caia em uma armadilha, pagando R$ 6 por minuto de ligação e eles não te colocavam no ar.

“Deixavam você lá 20, 30 minutos respondendo perguntas idiotas que valiam pontos; quem fizesse mais pontos entrava no ar. Mas era mentira. Eles colocavam no ar pessoas da quadrilha, combinados ali para errar de propósito… Era uma fraude que tinha no Brasil. E eu fui o primeiro a ligar para o programa, gravar e expor no Youtube. O vídeo então viralizou, eles quebraram e saíram do ar”.

Youtuber sofre ameaças

Esta não é a primeira vez que Rogério Betin sobre retaliações devido ao seu trabalho investigativo. Há três anos, ele também foi alvo de ameaças depois de ter denunciado uma quadrilha de estelionatários que aplicavam golpes através de uma rede criminosa chamada ‘123 Importados’ que vendia produtos on-line, como televisores por exemplo, mas não os entregava.

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Descobriu-se também na época que a mesma gangue era envolvida com um esquema chamado ‘Investimento Bitcoin’, que roubava dinheiro de investidores prometendo lucros estratosféricos em falsos investimentos; na época, seis pessoas foram presas.

Sobre o caso ‘123 Importados’, ele disse ao Portal do Bitcoin: “Eu fiz o boletim de ocorrência, eles investigaram e encontraram a pessoa que me fez a ameaça”.

Starbets, Plimbet e Btrader; as empresas denunciadas pelo youtuber

Starbets

Conforme apurou o Portal do Bitcoin no site da Receita Federal, a Starbets — Star Servicos Online LTDA — é uma microempresa (ME) criada em novembro do ano passado, com endereço na Av. Paulista, em São Paulo, que, dentre os ramos de atuação, está o de desenvolvimento e licenciamento de programas de computador e intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral.

O sócio da empresa, César Augusto, que se apresenta no Instagram como “César Imperador, Filho amado de Deus, Trader milionário”, faz constantes lives para seus seguidores. Em uma delas, publicada na manhã de quinta-feira (20), ele falou sobre motivação, comentando casos de superação. Ao final, ele convida os seguidores: “Vamos pra luta, fazer money, fazer dinheiro, 1% todo dia”.

Portanto, conforme César sugeriu no vídeo, quem apostar na Starbets terá um rendimento de cerca de 30% ao mês. O modo como o negócio opera não é revelado, mas os depósitos em pix são feitos diretamente para uma conta da empresa no Banco do Brasil.

Procurada para comentar o assunto, até a publicação deste artigo, a Star Servicos Online LTDA não respondeu a um e-mail enviado pela redação.

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Btrader

No site da Receita, a Btrader Tecnologia e Sistemas LTDA é registrada como empresa de pequeno porte (EPP), criada em maio deste ano, com endereço na Vila Gomes Cardim, bairro do município de São Paulo. De acordo com o registro, o ramo de atuação é o de “desenvolvimento e licenciamento de programas de computador; atividades de intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral; atividades de consultoria em gestão empresarial; e promoção de vendas”.

No Instagram, o perfil de Roberth Mendes o apresenta como “CEO da Btrader” e em postagens “renomado especialista no mercado financeiro” que em 4 anos “alcançou um nível de expertise impressionante no mercado de câmbio (FOREX)”.

Pelo menos uma das publicações de Mendes revela o lado mais controverso do negócio: um banner com uma espécie de tabela de ganhos referentes a um período de 40 dias onde o investidor pode dobrar o seu aporte, ou seja, 100% de rendimento, um número surreal para qualquer aplicação financeira no mercado forex, que inclusive é proibido no Brasil, de acordo com a CVM.

Recentemente, a Btrader prometeu um iPhone para o afiliado que trouxesse mais pessoas para o negócio, e fez outras promoções relâmpagos.

Por meio de um e-mail, a reportagem pediu informações sobre como funcionam os investimentos na Btrader e de que forma a empresa consegue entregar 100% de rendimento em 40 dias. Foi perguntado também se Roberth Mendes é um agente autônomo de investimento e se a possui autorização ou dispensa da CVM para gerenciar fundos de terceiros.

A empresa também não retornou a um e-mail enviado pela reportagem com pedido de comentários.

Plimbet

No site da Receita, a Plimbet Tecnologia e Intermediações LTDA consta como uma empresa de pequeno porte (EPP), criada em dezembro de 2021, com atividade principal “intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral, exceto imobiliários”. O endereço da empresa fica no bairro Parque Industrial, no município de São José dos Campos, interior de SP.

“Lucre de forma 100% automática através da nossa tecnologia PLIMBOT”. A chamada está na página da Plimbet, uma suposta empresa de investimentos, também focada em apostas. No site, a informação é de que o negócio desenvolve “sistemas e tecnologias relacionadas ao mercado de Trader Esportivo”.

No Instagram, Renan Henrique se apresenta como fundador do negócio e afirma ser “trader esportivo profissional”. Seu perfil possui 140 mil seguidores. Já no Instagram da Plimbet, há uma informação de que a plataforma possui “mais de 45.000 usuários”.

Sobre o tal robô, a Plimbet diz o seguinte: “PLIMBOT é um software programado para fazer a leitura técnica e identificar padrões durante um jogo de futebol. Com um vasto banco de dados, O algorítimo realiza operações de forma automática em jogos com alta liquidez na maior bolsa esportiva do mundo, a BETFAIR. Ele trabalha a favor da bolsa e nunca contra ela, sendo assim obtém uma assertividade superior a 87% nas operações realizadas.

A forma de como funcionam os aportes em dinheiro no negócio, contudo, não é explicada. Mas uma tabela de lucro revela que mensalmente os clientes vêm tendo uma “média atual de lucro: + 29,69%”.

Até a publicação desta reportagem, a Plimbet não respondeu às perguntas enviadas por e-mail.

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