O ano de 2021 foi marcado por grandes conquistas do bitcoin: a moeda bateu US$ 68 mil, ganhou ETF de futuros regulados nos EUA e até mesmo moeda oficial de um país. Do ponto de vista técnico, o ano foi igualmente importante e trouxe ao ativo o Taproot, uma importante atualização que levou mais de quatro anos para ser ativada na rede principal.
A demora para alcançar consenso na comunidade sobre qualquer alteração no código do bitcoin é uma realidade, mas existem propostas sobre as quais podemos esperar discussões mais acaloradas em 2022 e, quem sabe, um soft fork no final do ano que vem para implementá-las: BIP-119 e BIP-118.
BIP-119 (OP_CTV)
Uma mudança com chances de ganhar atenção em 2022 é a Proposta de Melhoria do Bitcoin (BIP) 119, que quer introduzir uma espécie de convênios (“covenants”) na rede do bitcoin.
Os covenants fazem parte de uma categoria de alterações que permitem definir as condições que um bitcoin pode ser gasto. Por exemplo, um covenant pode permitir apenas gastos com um conjunto de scripts da lista de permissões, como devolver bitcoins ao saldo do usuário ou gastos em um endereço de teste, conforme descrito no Bitcoin Opcore.
De forma geral, o convenant vai permitir que o bitcoin ganhe habilidades de contratos inteligentes à medida que torna possível definir como uma moeda pode ser gasta além da propriedade da chave.
Nesta categoria de melhoria, a proposta BIP-119 se mostra a mais avançada. Através dela, o convênio chamado OP_CHECKTEMPLATEVERIFY ou OP_CTV permite ao usuário pré-definir um esquema de gastos de moedas entre emissor e destinatário da transação.
Na véspera de natal, o desenvolvedor que escreveu a proposta, Jeremy Rubin, publicou um roadmap que traça uma possível rota de ativação da BIP-119 semelhante ao do Taproot.
De acordo com Rubin, há chances da BIP-119 ser integrada ao bitcoin através de um soft fork em novembro de 2022.
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Para isso acontecer, o seguinte cenário ideal deve se concretizar: Em março, desenvolvedores chegam a um acordo sobre a fusão da implementação da BIP-119. Em abril, um consenso é alcançado sobre as regras de sinalização que inicia em 1° de junho e vai até 1° de setembro. Nessa janela de três meses, a maioria dos mineradores sinalizam a favor da BIP-119 e a ativação final acontece em 10 de novembro.
Embora seja difícil saber se o cenário mais otimista vai se desenhar ao longo do ano que vem, Rubin parece confiante no sucesso do roadmap já que a BIP-119 seria “uma atualização limpa, bem contida e não problemática que vai entregar funcionalidades incríveis em serviço de escalabilidade, descentralização, autocuidado e privacidade”.
BIP-118 (Sighash_anyprevout)
Uma outra proposta de melhoria com chances de ser mais discutida no ano que vem é a BIP-188, chamada de SIGHASH_ANYPREVOUT para scripts Taproot. A proposta escrita pelos desenvolvedores Christian Decker e Anthony Towns existe desde 2017, mas dependia da ativação do Taproot na rede principal do bitcoin para avançar.
Conforme descrito no GitHub, a BIP-188 quer introduzir um novo tipo de chave pública para transações tapscript (BIP-342) que vai permitir que as assinaturas para essas chaves públicas não se comprometam com o UTXO exato que está sendo gasto.
Isso permite a vinculação dinâmica de transações a diferentes UTXOs (saída de transação não gasta, na sigla em inglês), desde que tenham scripts compatíveis.
De forma geral, o ANYPREVOUT passa a permitir que não seja preciso assinar a parte da informação referente à transação anterior. Ou seja, uma transação com esse tipo de sinalizador deixa de ser vinculada a transações anteriores.
Essa mudança vai beneficiar principalmente as soluções de segunda camada, como a Lightning Network, que processam transações off-chain.
Em alguns casos, uma solução fora da cadeia principal precisa responder a uma determinada transação com uma reação predeterminada, na forma de outra transação. Para isso ser feito atualmente, é preciso criar uma assinatura para cada possível transação à qual se deseja ser capaz de reagir. A nova proposta, portanto, elimina essa necessidade tornando as transações independentes.
Diferente da BIP-119, não há ainda um cenário claro para a implementação da BIP-118. No entanto, como uma das exigências para a atualização sair do papel era a ativação do Taproot, é esperado que a proposta ganhe um novo fôlego nos próximos meses. As discussões sobre as melhorias Drivechain (BIPs 300+301) e StratumV2 também devem ganhar força em 2022.