A tokenização está transformando a forma como enxergamos ativos financeiros e mercados de capitais – e instituições como o BIS (Bank for International Settlements) e o BCB (Banco Central do Brasil) têm liderado essa discussão. Essa inovação tecnológica, que consiste em representar digitalmente ativos em plataformas programáveis, tem implicações profundas para os mercados financeiros globais.
No recente relatório “Tokenisation in the context of money and other assets: concepts and implications for central banks”, emitido no final de 2024 pelo BIS em parceria com o CPMI (Committee on Payments and Market Infrastructures), em resposta a um pedido do G20, é apresentado como os tokens digitais podem transformar a infraestrutura financeira mundial. O documento aborda os impactos dessa evolução para bancos centrais e o sistema financeiro global.
O BIS – conhecido como o “Banco Central dos Bancos Centrais” – tem uma longa história de atuação no desenvolvimento de diretrizes e padrões globais para estabilidade financeira.
Quando o BIS se posiciona sobre inovações como a tokenização, o mercado tradicional presta atenção, pois sua influência molda o cenário regulatório e operacional.
No relatório, a tokenização é descrita como “a representação digital de ativos financeiros ou reais, registrada em plataformas programáveis”. Essas plataformas oferecem eficiência, transparência e novos casos de uso que podem remodelar transações financeiras.
Enquanto o BIS lidera iniciativas globais, no Brasil o BC tem se destacado com ações concretas. Um exemplo é o projeto do Drex, a versão tokenizada do real. Como já ressaltou o ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, o Drex vai além da digitalização ao promover a tokenização do sistema bancário. Essa iniciativa integra-se à agenda mais ampla do BC, que combina ferramentas como Pix e Open Finance para criar um sistema financeiro mais moderno e acessível.
No entanto, os desafios não são poucos. O BC enfrenta a missão de desenvolver uma estrutura regulatória que equilibre inovação com segurança. Em nível global, o BIS lidera projetos como o “Agorá”, que explora soluções para superar ineficiências estruturais em pagamentos internacionais, conectando moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) e formas tokenizadas de depósitos bancários.
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O projeto busca reduzir custos, mitigar riscos e acelerar os tempos de processamento, ao mesmo tempo em que promove maior interoperabilidade entre sistemas financeiros globais. Além disso, o BIS enfatiza a colaboração público-privada como essencial para evitar fragmentação de mercado e garantir interoperabilidade entre plataformas.
Os riscos associados à tokenização – como concentração de mercado, governança inadequada e cibersegurança – estão no radar do BIS. Por isso, a entidade defende que bancos centrais assumam um papel ativo na supervisão e no desenvolvimento de padrões técnicos e regulatórios. O objetivo é maximizar os benefícios dessa tecnologia, como inclusão financeira e eficiência operacional, enquanto mitiga seus riscos.
Como alguém que transita entre os mundos do mercado financeiro tradicional e o universo dos ativos digitais, vejo a tokenização como uma ponte para um futuro financeiro mais eficiente, inclusivo e inovador. Essa jornada exige uma coordenação cuidadosa entre tecnologia e regulação. Iniciativas como o Drex e os projetos do BIS indicam que estamos no caminho certo, mas o sucesso dependerá da capacidade de adaptar estruturas existentes a essa nova realidade.
O Brasil tem uma oportunidade única de liderar essa transição global. O Drex, ao lado de iniciativas como o Pix e Open Finance, posiciona o país como referência em inovação financeira. No entanto, será crucial garantir que esses avanços beneficiem não apenas grandes players, mas também cidadãos e pequenos empreendedores, promovendo uma economia digital mais inclusiva e resiliente.
Estamos vivendo uma transformação profunda – e cabe a nós moldar como essa realidade tokenizada beneficiará a todos. O futuro já está aqui – e ele é tokenizado.
Sobre a autora
Camila Cavaton é coordenadora de Compliance do MB – Mercado Bitcoin e atua no mercado financeiro e de capitais desde 2012. Formada em Administração pela PUC-SP e MBA em Agronegócios pela USP/ESALQ, é membro de comissões da OAB, ANBIMA e CWC.
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