Imagem da matéria: Por que o WhatsApp Pay, Cielo, Mastercard e Visa marcaram um golaço
Foto: Shutterstock

Passada um pouco a euforia com o lançamento do WhatsApp Pay, ou Facebook Pay, fica claro que essa novidade (não diria que é uma inovação) foi uma goleada dos grandes bancos, da Cielo e das bandeiras que nascem conectadas ao arranjo: Visa e Mastercard e, logo em breve, Elo.

Mas vejo que estrategicamente é um movimento muito forte de defesa da atual infraestrutura de pagamentos contra a novidade que vem chegando: o PIX.

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Mas mesmo no modelo de WhatsApp há alguns sacrifícios por esses incumbentes e que não são pequenos, como falam “vão-se os anéis mas ficam os dedos”, e que dedos! Vamos analisar pelos pontos mais óbvios:

Penetração

Se um gol pudesse valer 2 pontos na partida de futebol, seria esse. WhatsApp no Brasil é universal. Todo mundo tem, ponto!

Se você hoje em dia não tem WhatsApp é quase considerado um ser de outro planeta (ou da Coreia do Norte). Fora a possibilidade de entrar no Facebook e no Instagram.

Já por outro lado o PIX vai demandar tempo e investimento para ficar conhecido pela grande população.

Há também a vontade dos participantes do PIX se organizarem e investirem em comunicação para que isso aconteça, já que me parece que o BC não tem mandato de gastar dinheiro público com campanhas de marketing.

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Mas não estou dizendo que isso não possa acontecer. Só acho difícil.

Experiência do Usuário (UX)

Mais um gol de placa, daqueles feito de fora da área sem chances para o goleiro.

O WhatsApp já é usado há anos e conhecido por todos, 120 milhões de brasileiros. Vai ter apenas mais um ícone na função compartilhar.

Já o PIX tem o QR Code de pagamento. Olha! O WhatsApp também! Só que hoje está limitado a mandar uma mensagem para um determinado telefone (clique aqui para conhecer). Lógico que eles também vão criar uma forma de enviar um pagamento.

Além disso, o WhatsApp vai comandar uma experiência única, criada por uma empresa, o Facebook, especialista no assunto, enquanto o PIX vai depender dos bancos e wallets, e por mais que o BC tenha feito um manual bem legal, cada um vai ter a sua UX.

Aceitação

Aqui é mais uma aposta, mas para mim o ganhador é o WhatsApp.

Já tem uma base de usuários forte, um APP voltado para os pequenos negócios e uma família de APIs prontas para eventuais integrações. Enquanto o PIX, ainda vai iniciar em Novembro… sorry PIX. Mais um gol para o WhatsApp.

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Custo para o cliente

Bom, outro gol para o WhatsApp Pay. É grátis! Melhor só se tiver CashBack (Wallets, vocês ainda têm fôlego?).

E o BC acusou o golpe. Pela primeira vez vi o Carlos Brandt e Brenno Lobo, do Banco Central — que diga-se de passagem, estão fazendo um excelente trabalho conduzindo o projeto do PIX — falarem que vão pleitear junto a CMN um pacote de gratuidades para pessoas físicas usarem o PIX.

Para quem perdeu o LIFT Talks sobre o PIX recomendo assistir: https://youtu.be/RldZB3wMsf8.

Receita para os bancos

Aqui o gol é dos bancos, bandeiras e adquirentes.

Como o amigo Edson Santos bem colocou no seu artigo ‘Facebook Pay – pagamento através do WhatsApp, a solução é baseada nas infraestruturas de esquemas de cartão à moda antiga.

E à moda antiga foram mantidos os custos e também as receitas. Não há mais a receita do P2P entre usuários, que já vinha morrendo com a profusão de TEDs grátis oferecidas pelos novos bancos digitais (vão-se os anéis), mas mantiveram a receita do MDR, que é a taxa que os adquirentes cobram dos comerciantes de cartões e é repartida na cadeia.

Isso é muito importante, pois no PIX existe o risco dessa receita sumir, principalmente para os intermediários da cadeia, os adquirentes e as bandeiras.

Controle do arranjo

Uau! Gol de bicicleta! Como comentado acima, foram usadas infraestruturas de cartões à moda antiga e com isso também temos as dificuldades e custos de usar essas infraestruturas.

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Hoje o backbone do sistema é o Visa Direct e o Mastercard Send, assim o sistema está limitado a bancos e adquirentes integrados com esse sistema.

Em breve estará entrando o sistema da ELO e juntamente o Bradesco. Isso limita muito a entrada de novos players e wallets pela complexidade da cadeia e praticamente barra a entrada de wallets que não são emissoras de cartões.

Quero ver como outras bandeiras como o Hipercard ou a Cabal vão entrar nesse arranjo. E por fim como as outras adquirentes vão entrar no circuito. Isso pode levar tempo e colocar a Cielo em uma posição muito confortável nesse período.

Custo para os negócios

Aqui é um gol para cada lado. Apesar de eu acreditar fortemente que o PIX vai ter um custo muito menor pela questão da facilidade e da desintermediação da cadeia, no final do dia, varejista quer vender.

Está todo mundo achando caro os 3,99%, mas caro mesmo é não vender por não oferecer a solução. E com certeza serão fechados acordos com grandes cadeias e varejistas com taxas mais baratas de MDR.

Acho que o WhatsApp vai ser sim um grande facilitador de vendas e por isso o custo não vai fazer diferença para os varejistas na ponta. Especialmente os pequenos, que hoje pagam caro em plataformas que não ajudam em quase nada nas suas vendas.

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Resumindo, esse movimento do WhatsApp foi um golaço para os envolvidos. Sai na frente Cielo, Nubank, BB e Sicredi. Bradesco deve vir em breve.

WhatsApp larga na frente com escala, modelo de receita claro e sem entrar na briga das Wallets (ver meu post “In a Gold Rush, don’t dig gold, sell shovels”).

Mas esse artigo aqui é apenas uma provocação para discutirmos o que vem pela frente. De tudo, a única certeza é que apesar de importante, esse anúncio é apenas o início do que está por vir.

Sobre o autor

Carlos Lino é empreendedor, fundador da Zigpay, um sistema para pagamentos em eventos e baladas, e da iUPAY, cuja solução Rede iU permite pagamentos instantâneos entre instituições financeiras.

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