O mercado financeiro é lugar de mulher | Opinião

Annalisa Blando explica por que empresas melhores são formadas por um maior equilíbrio entre gêneros, diversidade e inclusão
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Há muitos anos, o mês de março vem sendo utilizado como uma oportunidade de celebrarmos o poder da mulher ao redor do mundo. Mais do que um momento de dar flores e chocolates às mulheres, essa é uma oportunidade para refletirmos sobre o papel do sexo feminino na nossa sociedade e, no meu caso em particular, no mercado financeiro.

Como já contei em outra coluna aqui no Portal do Bitcoin, comecei ainda muito nova a cuidar das finanças de casa. Casei aos 17 anos com um atleta e sabíamos que ele acabaria se aposentando muito cedo. 

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Por isso, tomei as rédeas da situação, fomos cuidando de fazer o nosso pé de meia para o futuro e eu iniciei minha jornada de aprender a investir. Sorte a minha que eu não sabia que este era um “universo masculino”. Só descobri isso bem depois, quando já era um caminho sem volta. 

Tentei ser trader, lia tudo o que encontrava sobre o assunto, estudei análise gráfica e fundamentalista. A crise de 2008 me mostrou que eu precisava aprender mais, então fiz uma pós-graduação em investimentos e mercado de capitais. 

Porém, só decidi atuar profissionalmente quando conheci a profissão do planejador financeiro pessoal e obtive a certificação CFP (Certified Financial Planner), que me habilitou a aconselhar financeiramente as pessoas. 

E foi através deste trabalho que surgiu a ParMais, empresa de gestão de patrimônio e planejamento financeiro focada em cuidar da longevidade financeira das pessoas e em realizar seus objetivos financeiros (em especial os de longo prazo!). 

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E, nesse cenário, me deparei com inúmeros desafios. Alguns, claro, naturais de qualquer carreira empreendedora e outros que enfrentei exclusivamente por ser mulher.

Logo percebi que alguns clientes (independente do gênero) não iriam delegar os cuidados com o dinheiro a uma mulher, então andava sempre acompanhada de um dos meus sócios. Piadinhas por conta do cabelo loiro sempre foram comuns, e, nesse ponto, confesso, achei que jogavam a meu favor, afinal, quando a expectativa é baixa, e a “loira” fala alguma coisa de interessante, isso às vezes até ajudava.

Onde o machismo mais me atrapalhou foi na jornada de fundadora de startup: quando iniciamos a busca de investidores, percebi o quanto o sexismo era evidente! Conseguir ser ouvida e convencer que o negócio era bom tornou-se uma tarefa extremamente difícil! 

Ao longo dos anos, fui entendendo melhor que as situações que eu passava não eram exclusivas da minha realidade, mas sim construídas a partir de um machismo enraizado em nossa sociedade. É o machismo estrutural, presente dentro de nós e que nem sequer percebemos. 

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A reprodução desses comportamentos é realizada pela família, escola e outras esferas sociais, todas compostas por 50% de mulheres. Por isso, não se trata em levantar uma bandeira de homens versus mulheres, ao contrário, podemos juntos enxergar nossa cultura, nossa forma de “pré-julgamentos” para ajustar distorções históricas e trazermos uma nova maneira de olhar o mundo, mais justo e equilibrado para todos nós.

Acredito que a melhor forma de corrigir esse cenário é por meio de educação e autoconhecimento. O grupo Mulheres do Brasil, do qual faço parte, me ensinou muito! Aos poucos fui aprendendo que “ela foi muito macho” e que “você trabalha como um homem”, não deveriam ser elogios, justamente porque minha capacidade de entrega não está atrelado a um gênero do qual eu não faço parte. 

Entendi que gravidez não atrapalha crescimento profissional e que ser firme em minhas convicções não quer dizer que agi assim “porque estou na TPM” ou porque sou “autoritária”, e sim porque fui assertiva. 

Hoje, eu entendo que empresas melhores são formadas por um maior equilíbrio entre gêneros, por mais diversidade e inclusão e, assim, tenho a convicção de que, sim, o mercado financeiro é lugar de mulher e de quem quiser estar nele.

Sobre a autora

Annalisa Blando é planejadora financeira certificada pela Planejar (CFP) e fundadora e CEO da ParMais, a primeira Wealth Management Tech do Brasil. Também é líder do grupo Mulheres do Brasil em Florianópolis.

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