O que aconteceu com a empresa brasileira que teve todas as criptomoedas roubadas

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(Foto: Shutterstock)

“Sobrou só US$ 20 mil dos quase US$ 2 milhões arrecadados”, relembrou Thiago Regis, o criador da Taylor, uma empresa fundada por brasileiros perdeu quase todos os fundos em um ataque hacker após fazer um ICO na Estônia.

Depois de meses sem notícias, com pesadas acusações recaindo sobre ele e sem equipe, Regis decidiu retomar o projeto do aplicativo de trading de criptomoedas.

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“Perder o dinheiro não foi a pior parte. Mesmo que com ele a gente pudesse rodar a empresa por cinco anos sem precisar de outra fonte de investimento,isso não foi o pior. A parte de ser chamado de malandro é que foi bem difícil. A perda da confiança do mercado”, diz ao Portal do Bitcoin.

Ele assumiu o cargo de Ceo da empresa há um mês, após Fábio Seixas anunciar que deixaria de exercer essa função na Taylor. Desde então tem se dedicado uma vez por semana ao menos para trabalhar no desenvolvimento do aplicativo que deve ter sua versão beta lançada até o final deste trimestre.

A promessa é que antes de julho os usuários deverão ter acesso a essa plataforma.

Roubo das criptomoedas

O aplicativo deveria ter sido lançado no ano passado. O projeto, contudo, teve de ser interrompido após a companhia ter perdido todos os tokens emitidos pela própria Taylor (TAY), que seriam usados para financiar o app de trading de criptomoedas.

Em maio, porém, ocorreu a invasão hacker. Além dos tokens TAY, foram roubados, no total, 2.579 Ethers, que na época valiam quase US$ 2 milhões. Os únicos tokens que sobraram foram os dos Conselheiros e dos fundadores porque havia um contrato inteligente que os tornavam inacessíveis no momento.

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Régis diz que retomou o projeto há um mês sem equipe fixa já que não teria como pagar pelos serviços.

“Levaram praticamente todos os nossos fundos. Depois daquele problema que ocorreu no hack ficou impossível de manter qualquer pessoa na empresa pagando salário”.

Régis afirma que o caso de terem levado os tokens de Taylor não foi o maior dos problemas, mas sim terem sacado os ethers que seriam usados para financiar o projeto. “Eles levaram o nosso dinheiro. Se fossem só os tokens Taylor, a gente cancelaria o ativo e emitiria um novo como foi feito e isso resolveria o problema”.

Erro reconhecido

Régis reconhece que deixar os ativos numa hot wallet conectada à internet e portanto muito exposta à ataques foi um erro imenso e algo que beira a ingenuidade. A cold wallet sem conexão com a internet havia sido comprada mas ainda não tinha chegado, conta.

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“Deixar os tokens na hot wallet foi o nosso grande erro. Foi totalmente falha nossa. A gente poderia ter evitado essa catástrofe se fizéssemos algo que sabíamos que deveria ter sido feito. Depois da invasão, tudo que sobrou de tokens e a nova emissão foi para cold wallet”.

Na época do roubo, o especialista em segurança Leandro Trindade, afirmou que era estranho que a empresa não tivesse adotado medidas físicas de segurança: “Esse negócio de deixar todos os ovos na mesma cesta é muito estranho. É terrível não ter uma cold wallet e ainda deixar os fundos acessíveis via internet”.

A segurança tão relapsa com o dinheiro alheio foi o que suscitou a desconfiança do mercado. Um modelo de crime é justamente arrecadar fundos e deixá-los expostos para facilitar um suposto ataque hacker.

O empresário conta que naquele período em que fez o lançamento do ICO (Initial Coin Offering) havia tanta coisa na campanha que lhes faltou a devida atenção sobre os tokens estarem na hot wallet. “A gente negligenciou nesse ponto, mas estávamos tomando a ação de jogar para cold wallet. Só não deu tempo.”

Ele afirma que todos os investidores receberam os novos tokens do projeto. Isso, contudo, não ocorreu de modo imediato. “A gente fez a distribuição de 99% dos novos tokens. Alguns não receberam logo porque havia confusão de alguns números.”

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Régis diz que caso os tokens fossem enviados de forma equivocada, não tinha como retornar a operação e nisso ele explica que “aqueles que não tinham recebido era só entrar em contato com a gente comprovando que o token era dela”.

“Muita gente comprou em exchange descentralizada e tinham alguns que já haviam até vendido para outras pessoas. Então tivemos de verificar para não cometer engano”.

Novos tokens

Segundo Regis, os novos tokens foram emitidos em julho do ano passado e a criptomoeda mudou de nome:

“Quando a gente fez o token sale, o nome da criptomoeda seria TAY, mas aí como o hacker levou uma quantidade significativa desses tokens, a gente decidiu cancelar aquele e emitir um novo que se chama TAYLR”

Atualmente, ele trabalha uma vez por semana no projeto.

“Não estou dedicado ainda 100% porque não tenho como me pagar por isso. Tenho um trabalho full time, mas fiz um acordo com o meu empregador para dedicar um dia à Taylor. Não tem investimento de fora”.

Questão de honra

Ele afirma que negou três ofertas de investimento para a continuidade do projeto.

“A gente foi acusado de golpista desde o início e por longos messes. Isso foi a pior parte. Preciso resolver tudo sozinho agora”.

Para ele, retomar esse projeto é importante não apenas para lançar o aplicativo no momento favorável às criptomoedas, mas também para entregar ao mercado algo que suscitou tanta desconfiança.

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“Estou fazendo o que tínhamos de fazer continuar e com um tempo mostrar que não estávamos mal-intencionados a fim de aplicar golpe em ninguém”.