Depois de atrair milhares de investidores, ganhar as páginas de sites de notícias como CNN Brasil e ser listada em uma exchange brasileira, a Vira-Lata Finance (REAU), criptomoeda inspirada no “vira-lata” caramelo lançada no mês passado, desvalorizou 90%% desde a quinta-feira (1º), quando atingiu seu topo.
Naquele dia, segundo dados da exchange Dex Guru, a criptomoeda era negociada a 0,00000009587 BNB na Binance Smart Chain. No domingo (4), o ativo digital caiu 92%. Nesta segunda-feira (5), a criptomoeda conseguiu recuperar parte do valor e é negociada a 0,00000001644 BNB – preço ainda longe do topo alcançado na semana passada.
A queda acentuada ocorreu logo após a publicação de um dossiê anônimo que aponta que o ativo digital — semelhante ao Dogecoin (DOGE) — tem indícios de ser um golpe. Em resumo, o documento de 21 páginas diz que o projeto seria um tipo de ‘pirâmide financeira’ ou ‘esquema ponzi’, no qual o sucesso do negócio dependeria da entrada de novos investidores.
Diz também a equipe por traz do REAU – que é desconhecida — estaria inflando o preço do ativo de forma artificial para lucrar com as vendas, estratégia conhecida como pump and dump.
O relatório aponta, por exemplo, que cerca de 25% dos 475 trilhões de REAUs disponíveis no mercado estavam concentrados em duas carteiras de criptomoedas. A primeira tinha 56 trilhões e a segunda 65 trilhões. Essas wallets redistribuíam os ativos digitais para outras carteiras pertencentes ao grupo, criando uma ‘malha’ de ocultação de patrimônio.
“O objetivo de desmembramento desses tokens tem como objetivo a ilusão de que os tokens se encontram na mão de diversos investidores, e não concentrado em uma única pessoa. Mas quando identificamos uma transferência da carteira primária para secundária, e transações entre elas, isso não investidores ‘trocando’ tokens entre si, isso é típico de uma ‘malha’ disfarçada e oculta”, diz o documento.
O que disse a REAU
A reportagem do Portal do Bitcoin contatou a equipe do projeto por meio de grupo do Telegram, mas não houve resposta. Nas mensagens fixadas na sala de conversa, no entanto, o criador — ou criadores — da criptomoeda publicou uma nota de esclarecimento sobre as acusações.
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Em resumo, na nota o Vira-Lata FInance diz que as alegações do dossiê são falsas e que o objetivo do documento é “denegrir a imagem” do projeto. O desenvolver — ou desenvolvedores — também diz que a REAU não é pirâmide ou ponzi, pois não oferece lucro garantido.
Sobre o preço inflado e concentração de criptomoedas em carteiras, o comunicado alega que “em qualquer mercado, seja na bolsa de valores ou cripto mercados, haverá pessoas com maior poder financeiro concentrado e que podem sim gerar oscilação no mercado”.
Shitcoin
O fundador do plataforma Coinsamba, Gustavo Toledo, comentou o dossiê e o projeto a pedido da reportagem. Ele disse que não dá para afirmar que o REAU é de fato uma pirâmide ou golpe, pois a pessoa – ou equipe – que criou o projeto já não é mais ‘dono’ do ativo.
“Quando você cria o contrato de um projeto, você pode virar ‘dono’ dele. No caso do REAU, o criador – ou criadores – renunciou a propriedade, termo conhecido como ‘renounce ownership’. Quando isso acontece, o contrato deixa de ter dono e não existe mais a possibilidade de o criador imprimir ou excluir mais moedas”.
No entanto, segundo Toledo, os participantes da Vira-Lata Finance estão atuando como se estivessem em uma pirâmide financeira:
“O problema nesses tokens que surgem assim é que o dono cria muitas moedas, distribui entre carteiras que ele conhece e fala para os amigos comprarem mais barato. Diz também para eles começarem a divulgar para pessoas que estão em grupos de pump and dump e só querem o dinheiro e não entendem nada de criptomoeda”.
Essas pessoas que entram no início da moeda, segundo ele, começam a comprar bastante ativos, o que faz o preço deles subir. Logo depois, no entanto, eles vendem e fazem o famoso ‘rug pull’ — expressão em inglês que no mercado financeiro significa tirar um suporte.
“Com isso, os caras simplesmente vendem tudo, a moeda passa a valer nada, quem iria comprar vê a queda e não compra mais e quem já tinha comprado a moeda não vai conseguir vender mais, porque acabou a liquidez”, disse.
Outro problema com o REAU, segundo Toledo, é que seu código é copiada de outras criptomoedas. “É uma shitcoin basicamente copiada de outros contratos. A pessoa – ou equipe – por trás do REAU, portanto, não programou nada”, falou.
Toledo disse que o contrato do Vira-lata Finance usa o mesmo código da HoneyBee Finance, que durou pouco tempo e não está mais online, e da SafeMoon, por exemplo.