É só analisar de perto as principais stablecoins — criptomoedas lastreadas no preço de um outro ativo, como moedas fiduciárias — e você verá que as coisas não são tão estáveis assim.
Um exemplo é a stablecoin mais usada no mundo, Tether (USDT), que possui uma opaca estrutura de governança, já foi multada pela Procuradoria-Geral de Nova York e mantém parte da reserva da USDT em papéis comerciais que não divulga aos investidores.
Stablecoins descentralizadas tentam evitar esses problemas de governança ao manter seus lastros por meio de algoritmos em vez de vastas reservas de dinheiro em espécie e dívida.
TerraUSD (UST), produzida pela Terraform Labs, é uma dessas stablecoins. Mantém seu lastro ao dólar americano por meio de uma rede de arbitradores que compram e vendem LUNA, a criptomoeda volátil da Terra e que é, atualmente, a sexta maior criptomoeda do mercado. LUNA também é um token de governança e concede poder de votação no protocolo.
Quem criou a Terra?
O ecossistema Terra foi criado por uma startup chamada Terraform Labs em 2018, fundada por Do Kwon e Daniel Shin.
Como a Terra funciona?
Para manter o equilíbrio de suas stablecoins, Terra emite e queima tokens enquanto incentiva a arbitragem. Antes de você poder comprar UST, você terá de emitir alguns tokens. Para fazer isso, você precisará pagar a taxa em LUNA.
O protocolo queima a quantia de LUNA utilizada na taxa, diminuindo sua oferta e podendo fazer o preço da LUNA subir um pouco e vice-versa: para emitir LUNA, você precisará converter stablecoins UST, que são queimadas e fazem o preço da UST subir um pouco.
Para que fazer isso? Além de usar os ativos para algum serviço ou utilidade, existe uma possível oportunidade de arbitragem.
Arbitradores — traders que lucram com pequenas diferenças no preço de um ativo — ajudam a manter o preço da UST sob controle ao vender LUNA por UST quando o preço da UST estiver abaixo de US$ 1 além de comprar LUNA quando UST estiver valendo mais do que US$ 1.
Se, por exemplo, UST cair para US$ 0,95, traders podem comprar a stablecoin por esse preço e vendê-las por US$ 1 de LUNA. Ao fazer isso, a oferta de UST é reduzida e, assim, o preço volta a subir.
O mesmo mecanismo é responsável pelas outras stablecoins da Terra, incluindo uma stablecoin lastreada no won sul-coreano e outra lastreada em uma cesta das principais moedas mundiais mantida pelo FMI chamada “Special Drawing Rights” (“Direitos de Saque Especiais”).
O whitepaper da Terra afirma que a elasticidade da oferta da LUNA significa que as stablecoins nunca sairão do controle. Ainda assim, seu sucesso depende do interesse contínuo de arbitradores em UST.
Se esse grupo decidir que UST está fadada ao fracasso e movimentar seu dinheiro para outro projeto, alguns analistas temem que UST pode ter dificuldade em voltar ao seu lastro de US$ 1.
Assim como muitos projetos cripto comprometidos com o livre mercado, o espírito da comunidade é fundamental.
O que mais tem de tão especial sobre a Terra?
As moedas são desenvolvidas no ecossistema Cosmos, uma estrutura de blockchain compartilhada pelo Cosmos Hub, Cronos e Thorchain.
Diferente do Ethereum, onde todos os tokens são assegurados pela mineração proof of work (PoW) da rede principal do Ethereum, protocolos do Cosmos podem ser apoiados por mineradores independentes e de aplicações específicas.
Já que Cosmos e, por consequência, Terra, é um protocolo de contratos inteligentes, você pode usar moedas da Terra em qualquer uma das aplicações desenvolvidas no protocolo.
É possível usar moedas da Terra entre blockchains por meio do Mirror Protocol da Terraform Labs, que fornece ações que refletem o preço das principais empresas dos EUA.
No fim de setembro de 2021, Terra lançou uma atualização chamada Columbus-5 que trouxe protocolo Inter Blockchain Communication (IBC) para a Terra, permitindo que a rede se tornasse interoperável com outras blockchains.
Os destaques incluem um protocolo de seguros chamado Ozone e o suporte para UST da ponte cross-chain Wormhole V2.
Ainda em 2021, a UST destronou DAI e se tornou a maior stablecoin descentralizada por capitalização de mercado. UST tem uma valor de mercado de US$ 13,4 bilhões, enquanto DAI registra US$ 9,6 bilhões.
No entanto, ambas estão distantes de stablecoins centralizadas nesse ranking, como USDT (US$ 80 bilhões) e USDC (US$ 53 bilhões).
Quem desenvolve os serviços na Terra?
Anchor: um protocolo de empréstimos na Terra que possui um valor total bloqueado (TVL) de US$ 11,5 bilhões.
Lido: um protocolo de staking que permite que você gaste ativos em staking.
Astroport: um formador automatizado de mercado (AMM) para tokens Terra.
Onde comprar Terra (LUNA)?
É possível comprar a principal criptomoeda da Terra em diversas corretoras centralizadas. Os maiores mercados de LUNA estão na Binance, Kucoin, Huobi e ByBit.
O futuro da Terra
O futuro do protocolo Terra é na verdade uma discussão sobre o futuro das stablecoins que lhe servem de alicerce.
Será quie stablecoins centralizadas e lastreadas no dólar americano vão se tornar tão enraizadas no sistema financeiro americano (talvez por meio de uma moeda digital de banco central – CBDC) que alternativas descentralizadas vão sair de moda?
Por outro lado, stablecoins descentralizadas vão se afastar de lastros em dólar e se tornarão lastreadas pela liquidez pertencente ao protocolo? Ou os arbitradores se cansarão de LUNA e derrubarão o preço de todas as stablecoins dentro de seus protocolos, enterrando-as no mesmo cemitério de Basis e Empty Set Dollar?
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.