No cenário cada vez mais dinâmico do mercado de criptoativos, os derivativos desempenham um papel essencial tanto para investidores institucionais quanto para traders individuais. Renan Ramos, Head da Deribit para a América Latina, compartilhou em entrevista exclusiva ao Portal do Bitcoin insights sobre o mercado de derivativos na América Latina, as particularidades da região, e o que podemos esperar para o futuro dessa classe de ativos.
Ramos inicia ressaltando a diversidade do cenário de criptoativos na América Latina, destacando as particularidades de cada país, com o Brasil se sobressaindo como um exemplo positivo nesse contexto.
“Para o Brasil, temos um cenário regulatório mais avançado e favorável, com grandes bancos e instituições do mercado tradicional já operando ou buscando operar criptoativos. Instituições como Itaú e BTG Pactual já estão inseridas nesse mercado”, comenta.
O executivo também abordou o cenário de competição no mercado de derivativos no Brasil, destacando a importância da concorrência para o desenvolvimento da indústria e para o benefício dos investidores.
“Competição é sempre importante, e quem se beneficia no final é o investidor na ponta. Se olharmos para os Estados Unidos, temos três, quatro bolsas operando, e em qualquer jurisdição pujante vemos opcionalidade. No mundo cripto não é diferente”, explica.
Ele ressalta que a competição entre exchanges de cripto leva a spreads menores e taxas mais baixas para os investidores, o que é saudável para o mercado. Além disso, Renan elogiou a B3 pela sua entrada no mercado de futuros de Bitcoin, mas acredita que o Brasil se beneficiaria ainda mais com novos players à altura da B3.
“A competição com a B3, no mercado de derivativos, é algo que vejo com bons olhos e acredito que seja até necessário para o desenvolvimento sustentável do mercado brasileiro”, completa.
Sobre outros países da região, Ramos observa que a Argentina é a segunda colocada em termos de adoção, em grande parte devido à inflação e flutuações cambiais. No entanto, ele ressalta que o mercado institucional tradicional ainda não chegou ao país.
“O que vemos na Argentina são principalmente players cripto nativos, como mineradoras e exchanges”, explica. Já a Colômbia, segundo ele, está avançando rapidamente com iniciativas como as do Banco Colômbia, que detém 70% do mercado local e está se tornando “Crypto Friendly”, oferecendo serviços relacionados à cripto.
Por fim, menciona o Uruguai e o Paraguai, que, embora estejam mais focados em mineração, também estão encontrando suas posições dentro do ecossistema cripto.
Europa e o impacto do caso FTX
Comparando a América Latina com a Europa, Renan Ramos afirma que o cenário regulatório europeu está mais desenvolvido, com players buscando licenças como a MiFID e a MiCA para operar no mercado à vista. Ele também menciona o impacto significativo do colapso da FTX no amadurecimento da indústria.
“O caso FTX foi terrível para a indústria como um todo e nos atrasou bastante, mas, por outro lado, acelerou a implementação de melhores práticas. Hoje, temos uma separação clara da custódia, com vários players no mercado”, diz. Ele acredita que esse amadurecimento do mercado, tanto de cripto quanto de derivativos, deve muito às lições aprendidas após o colapso da exchange.
Quando questionado sobre a importância dos derivativos no desenvolvimento do mercado cripto, Ramos explica que o volume negociado em derivativos é de 5 a 10 vezes maior do que no mercado à vista, como ocorre em qualquer mercado financeiro.
“Derivativos são essenciais, especialmente em um ambiente de alta volatilidade como o de cripto. Para qualquer instituição, a primeira coisa que você pensa ao estruturar uma mesa de trading ou tesouraria é proteção, e a melhor maneira de fazer isso é com derivativos”, esclarece.
Ramos destaca várias estratégias que já são comuns no mercado tradicional e que estão sendo aplicadas no meio cripto, como cash and carry e covered calls, ajudando a trazer previsibilidade e proteção a mineradores e investidores institucionais.
A expansão do mercado de derivativos
Em relação aos novos lançamentos da Deribit, o executivo falou sobre o lançamento de opções de ouro, motivado pelo cenário geopolítico e o crescente interesse institucional nesse ativo. Além disso, a Deribit está focada em permitir que os usuários obtenham rendimento sobre seu colateral, com produtos como o stETH (Lido), que oferece rendimento sobre as margens.
Ramos também mencionou uma possível parceria com a BlackRock, permitindo que os clientes gerem rendimentos com margens colaterais usando produtos da gigante financeira.
Encerrando a entrevista, Renan Ramos falou sobre a participação da Deribit no Digital Assets Conference (DAC), realizado na semana passada, no Brasil. Ele destaca o apetite institucional demonstrado no evento e a qualidade dos participantes. “Foi o maior evento institucional de cripto que já aconteceu no Brasil, um verdadeiro ‘bridge’ entre o mercado tradicional e de digital assets“, avalia.
Com a regulação avançando e o crescente interesse das instituições, o mercado de derivativos de cripto está em rápida evolução. Nesse cenário promissor, há uma tendência de expansão dos derivativos e uma maior aproximação com investidores institucionais, tanto na América Latina quanto em outras regiões.
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