Não basta o Bitcoin (BTC) ter começado 2022 com a pior cotação em nove meses, uma assustadora “cruz da morte” pode estar chegando para desafiar a recuperação da criptomoeda líder do mercado.
A cruz da morte é um indicador de baixa que se forma quando a média móvel de 50 dias do preço do bitcoin cai abaixo da média móvel de 200 dias.
Se o bitcoin continuar em queda, a cruz da morte se concretizará, e com base no histórico da criptomoeda, isso não tende a ser um bom sinal.
Um levantamento do Rekt Capital de junho do ano passado mostrou que após o BTC romper a cruz de morte, o seu comportamento de queda pode ser parecido ao período pré-cruzamento.
Quando o ativo atingiu o pico em 2013, por exemplo, caiu 73% antes da cruz da morte daquele ano. Após o evento, caiu ainda mais 71%. Outra vez em 2017, o mesmo padrão se repetiu: o BTC caiu 70% antes da cruz da morte e após ultrapassá-la, recuou mais 65% antes de voltar a subir.
Mas isso nem sempre acontece quando o bitcoin cruza o indicador. De acordo com a pesquisa da exchange Kraken compartilhada pelo Coindesk, quando a cruz da morte chegou ao bitcoin em junho do ano passado, final de março de 2020 e outubro de 2019, elas não passaram de “armadilhas de urso”, ou seja, falsos sinais de baixa.
Armadilha da Cruz da Morte do Bitcoin
Em junho de 2021, por exemplo, o bitcoin fez o cruzamento, mas pouco tempo depois deu início ao bull run que culminou num novo recorde de preço em novembro.
A exchange não deixa de notar, no entanto, que quando o indicador foi atingido em 2014 e 2018, aconteceu “uma liquidação nos dias que se seguiram ou uma tendência macro de baixa contínua que confirmou um mercado em baixa”.
Esses dados sinalizam que a cruz da morte parecia ter um impacto mais negativo no bitcoin no passado, mas que a partir de 2019, um mercado mais consolidado ao redor da moeda foi capaz de evitar quedas mais graves.
Na visão do fundador da Nox Bitcoin, João Paulo Oliveira, o bitcoin se comportou bem após atingir o indicador nos últimos anos, uma tendência positiva que poderia se repetir neste momento.
“Em março de 2020 o bitcoin passou pela cruz da morte após a pandemia, mas o seu preço explodiu apesar do indicador. Mais uma vez em junho de 2021 quando o bitcoin valia US$ 35 mil, teve a cruz da morte e caiu um pouquinho para US$ 29 mil, mas depois subiu para US$ 68 mil”, lembrou o especialista em conversa com o Portal do Bitcoin.
Por essa razão e por ser apenas um indicador de análise gráfica entre tantos outros, Oliveira acredita que a cruz da morte “não significa muita coisa”.
“Não é nada conclusivo que a gente deva levar ao pé da letra. Mas é claro, quando muita gente tem expectativa de alguma coisa, entramos numa profecia autorrealizável. Se muita gente acha que o bitcoin vai cair porque existe a cruz da morte, é possível que haja uma pressão vendedora que reflita no preço a curto prazo”, disse.
Para onde vai o bitcoin
Embora a cruz da morte possa não ser o fim do mundo para o ativo, parte da comunidade se assusta ao ver a cotação da moeda abaixo de US$ 40 mil pela primeira vez desde abril de 2021, principalmente após o ótimo desempenho no final do ano passado.
Quando o ativo bateu recorde de preço em novembro, impulsionado pela aprovação nos EUA de ETF de futuros de bitcoin, muitos especialistas projetaram que a moeda estava pronta para ultrapassar a barreira psicológica dos US$ 100 mil — o que não aconteceu.
A longo prazo, no entanto, o otimismo prevalece pela consolidação do mercado cripto como um todo.
“Existem fenômenos acontecendo, como a chegada do mercado de games, as finanças descentralizadas e o próprio conceito de NFT que está ficando mais popular, que são fatores que podem levar o preço do bitcoin para cima ou pelo menos impedir que ocorra uma queda abrupta”, disse Oliveira acrescentando a aprovação de um ETF à vista de bitcoin nos EUA como outro fator que pode fazer a moeda valorizar.
Na visão do trader, em 2022 o bitcoin vai passar por um superciclo e espera que não ocorra quedas significativas de preço.
“Quando falamos de superciclo usamos como referência a lógica de que a cada quatro anos o bitcoin tem uma alta absurda, e no ano seguinte, ele tem quedas bruscas. A gente viu isso em 2014, quando teve quedas do bitcoin de 60%-70%. Em 2018 teve quedas da mesma ordem de 50% e 60% em relação ao 1º de janeiro do mesmo ano. Mas o que eu considero superciclo é o bitcoin não ter queda ou mesmo ter pouquíssima queda esse ano”, explicou.
Ele alertou que embora a longo prazo o cenário seja positivo, a comunidade deve estar preparada — e acostumada — a volatilidade: “Se o ativo cair 30% ou subir 30%, está dentro da volatilidade esperada e não significa muito para você analisar sozinho”.