As recentes quedas nos preços das criptomoedas, derivadas da enorme pressão no volume de venda por parte do credor da falida Mt. Gox, assustaram muitos investidores. O ciclo de tendência negativa que começou em janeiro de 2018 parece finalmente caminhar para o fim (a ver!).
*As opiniões expressas nesse artigo representam a minha visão e não servem, de forma alguma, de aconselhamento financeiro. Pessoalmente, tenho investimentos realizados em alguns dos projetos mencionados em baixo. Sejam críticos e partilhem o máximo de conhecimento possível. É a única forma de todos nós crescermos
Avaliando a linha de pensamento das pessoas, podemos rapidamente chegar à conclusão que o interesse geral em Bitcoin tem caído, talvez mais ainda do que o seu preço.
Mas nem tudo são más notícias . Apesar de toda a recente negatividade à volta das criptomoedas, foquemo-nos nos aspectos positivos (nem que seja só por uns minutos).
Desenvolvimento Tecnológico
Existem dois aspectos muito importantes relativamente ao Bitcoin e à blockchain que podem, e com certeza irão, alterar o potencial de escalabilidade de ambas tecnologias.
1. Segwit: com o desenvolvimento desta tecnologia é possível diminuir o tamanho de cada bloco, o que significa mais transações por bloco. Isto foi possível ao retirar parte da hash de cada bloco referente a transações mais antigas. Cada bloco fica, no fundo, com data referente ao bloco imediatamente anterior (remoção da chamada segregated witnessing signature).
Contudo, muitas das bolsas e empresas ligadas à criação de Bitcoin não ativaram esta nova funcionalidade até há bem pouco tempo. Isto significa que finalmente o custo médio por transação pode realmente diminuir bastante. Podemos ver pelo gráfico em baixo que o número de transações com segwit activo mais que duplicou nos últimos meses!
2. The Lightning Network (LN): com a adoção da segwit é possível implementar um sistema off-chain, isto é, será possível adotar um sistema de canais que funcionem fora da blockchain, onde agentes podem interagir e trocar valor e apenas os balanços finais dessas transações (quando os canais são fechados), são adicionados à blockchain. Esta tecnologia de canais fechados entre agentes está a ser desenvolvida por múltiplos grupos, mas chamo a atenção para The Lightning Labs, empresa responsável pelo desenvolvimento desta versão da LN que irá brevemente entrar em produção! Curiosos relativamente ao número de nodes (ou servidores) já disponíveis?
Se ambas as tecnologias parecem poder realmente resolver alguns problemas de escalabilidade, aguarde até chegarmos às altcoins. É que as boas notícias ainda mal começaram!
Muitas das ICOs do verão de 2017, e também muitos projetos de 2016, começam agora a revelar produtos e desenvolvimentos absolutamente fascinantes.
Prontos para o que vem por aí?
- Ethereum: a equipa liderada por Vitalik Buterin tem concentrado grande parte dos seus recursos a tentar melhorar a estabilidade e escalabilidade da rede. Para isso existem no fundo duas grandes possibilidades. A incorporação de um mecanismo alternativo de Pos (proof-of-stake) chamado Casper, que irá brevemente ser lançado na rede de testes, ou a adpção do mecanismo de Sharding. Aconselho que leiam sobre ambas, visto que são duas fortíssimas possibilidades de caminhos possíveis para a rede Ethereum. Mas visto que na verdade o maior caso de uso para esta rede tem sido a criação de tokens por meio de de crowdsales, penso que é apenas lógico referir os projetos mais interessantes (mais uma vez, é apenas a minha opinião!):
(a) The Raiden Network: este projecto quer criar um sistema de pagamento IoT dentro da rede ethereum, isto é, quer adicionar features e mecanismos que tornem possível e fácil a interação econômica entre máquinas. O mecanismo de funcionamento é semelhante ao da LN, discutido anteriormente. A equipe liderada pela magnífica programadora Loredana apresentou um protótipo incrível, que me fez realmente cair de joelhos: demonstraram como será possível, por exemplo, pagar a um drone para sobrevoar uma plateia e tirar umas quantas fotos da cara surpresa da audiência. Se não estão bem a visualizar a cena, abram este vídeo. Os mais impacientes, façam o favor de saltar para o minuto 10’30”.
(b) Bitclave/Basic Attention Token: a Bitclave penso que foi um dos primeiros projectos a abordar o tema motor de busca descentralizado. O mecanismo de funcionamento é simples: ao partilharem os seus dados e interesses os utilizadores podem ganhar tokens, CAT. Absolutamente incrível! Já o Basic Attention Token conseguiu criar o primeiro browser verdadeiramente descentralizado, de nome Brave, onde utilizadores podem bloquear publicidade, optar por receber anúncios à troca de um incentivo, que neste caso são tokens (BAT) e ainda contribuir com tokens para o conteúdo que mais gostarem. Uma verdadeira democracia de conteúdos na internet!
(c) OmiseGo/Status: o primeiro projeto também é apoiado pelo fundador do Ethereum, Vitalik Buterin, e quer criar uma rede de pagamentos no Ethereum, por meio de uma aplicação que permita muito facilmente transferir valor (inclusive através de mensagens) entre utilizadores. O projeto Status, que finalmente caminha para o lançamento da primeira versão beta, quer implementar um sistema descentralizado de mensagens, podendo os utilizadores não só conversar anonimamente, mas também efetuar pagamentos e transferências na própria aplicação. Ambos os projetos querem incorporar várias outras criptomoedas nos seus sistemas de pagamento e transferência.
(d) Golem/Upfiring: a rede Golem conseguiu criar, e já tem disponível em versão beta, a Brass, uma plataforma que permite a partilha de poder computacional para designers e artistas gráficos. Desta forma torna-se incrivelmente fácil e acessível a todos poder rapidamente correr modelos com a qualidade que apenas super-computadores conseguiriam. Isto porque existe a partilha de recursos na rede Golem (cujo token funciona sobre a rede ethereum). Já o projeto Upfiring vai construir uma rede descentralizada de partilha de espaço no computador, para que os utilizadores possam facilmente guardar os seus ficheiros (encriptados) numa rede cloud descentralizada. Para isso qualquer pessoa pode alugar espaço no seu computador, recebendo tokens (UFR) como contrapartida.
Fora do espaço Ethereum também muitos projectos tiveram melhorias incrivelmente positivas.
2. Litecoin: fundada por Charlie Lee, esta versão silver do bitcoin tem features incorporadas que tornam as suas transações muito baratas. Para além disso, este projecto foi pioneiro na implementação da segwit e LN. Tornou-se desta forma mais simples para quem desenvolve sobre a blockchain, avaliar o verdadeiro impacto que cada alteração poderia ter e que problemas acarretariam. Esta abordagem altruísta permite que avanços tecnológicos sejam primeiramente realizados numa network já em produção, Litecoin, e só depois implementados no bitcoin. Obrigado, Charlie!
3. Cardano: este projecto que é liderado por Charles Hoskinson é o primeiro protocolo a implementar uma abordagem acadêmica na forma como são avaliados e expostos os seus papers, ou seja, peer-reviewed. Desta forma, toda a tecnologia que é desenvolvida pela IOHK, o grupo responsável pelo Cardano e ETHClassic, tem uma validação bastante formal. O facto de todo o processo ser escrutinado pela academia leva a que os produtos desenvolvidos, como a carteira Daedalus, tenham a possibilidade de conseguir atingir um nível qualitativo superior. Se têm dúvidas comparem, por exemplo, o número de commits no gitehub do IOHK quando comparado com um projeto mais valioso, como é o caso da IOTA.
4. EOS: Dan Larimar, fundador da Steemit e Bitshares é o responsável por detrás deste grupo. O objetivo? Criar a primeira blockchain technology sem fees. O que é muito interessante no EOS é o facto da blockchain já incorporar DPos, isto é, Delegated Proof-of-Stake, onde os detentores de tokens podem votar para eleger um validador, que no fundo vai verificar o estado de cada transação e, sobretudo, de disputas entre agentes.
A Usabilidade
O fator mais importante para uma adoção massiva de criptomoedas, nomeadamente bitcoin, será obviamente o acesso a aplicações que permitam transacionar e trocar valor eletronicamente tão ou mais facilmente do que através de um banco ou home banking.
Mesmo com bloqueios governamentais, como vimos na China e Índia, as pessoas não deixaram de comprar e vender criptomoeda. O objetivo final de qualquer regulamentação será permitir às pessoas um acesso mais seguro a criptomoedas. Entidades reguladoras terão de adaptar as regras a estes novos negócios. Fará sentido tratar tudo da mesma forma, alegando que tokens = ações? E quando tokens tem também uma faceta de utilidade, como, por exemplo, não só distribuir lucros pelos detentores ou criar mecanismos de votação democráticos na rede, mas também permitir a aquisição de funcionalidades ou de um produto? E se criadores de conteúdo online (artigos, vídeos, fotos, código, design, etc) puderem optar por monetizar tudo aquilo que for da sua autoria?
Para finalizar esta pequena análise, gostaria de vos deixar algumas fontes que influenciaram positivamente a minha forma de pensar e, sobretudo, olhar para criptomoedas. Cá estão elas: Hacked, Andreas Antonopoulos, Ivan on Tech, Boximing, Coin Mastery, Data Dash, Richard Hart, Jimmy Song, Vitalik Buterin, Charles Hoskinson, Dan Larimar, David Sonstebo, Crypto Investor, Alessio Rastani, They call me Dan.
Compartilhem sempre que possível o máximo de conhecimento e informação. Como sempre, comentários serão muito bem-vindos!