*Atualização: Um contraponto foi enviado pela defesa do jogador e incluído no final do texto. No título, a palavra “empresa” foi incluída.
Uma empresa que Anderson, o ex-jogador do Grêmio e do Internacional, tem em sociedade com Anderson Boneti tentou comprar bitcoin após receber R$ 14 milhões de uma complexa operação de fraude que desviou R$ 30 milhões da conta da metalúrgica Gerdau no banco Santander.
Esse foi o motivo pelo qual o ex-meia foi alvo de uma operação deflagrada no final de junho pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul cujo objetivo era desmantelar a quadrilha responsável pelo roubo.
Procurado, o MP não confirmou o nome de nenhum dos envolvidos. Contudo, o Portal do Bitcoin teve acesso ao pedido de investigação criminal do Santander à promotoria. Lá, além dos detalhes relacionados ao esquema, constam as transações para a empresa do ex-jogador da dupla Grenal que chegou a vestir a camisa do Manchester United e a da Seleção Brasileira.
Conforme o requerimento, os R$ 14 milhões foram transferidos à House Tecnologia Ltda por meio de quatro transferências para uma conta do Banco do Brasil e outra do Banrisul. A empresa é de Porto Alegre e tem como sócios Anderson Boneti e Anderson Luis de Abreu Oliveira, este último o jogador de futebol.
O documento mostra que as transferências foram de um valor elevado: duas delas são de R$ 4,5 milhões e outras duas de R$ 2,5 milhões. O pedido de investigação mostra em detalhes o registro da operação:
Em seu perfil nas redes sociais, Anderson mostrou dados de diversas negociações que fez com bitcoin nos últimos meses e disse que negociava criptomoedas há mais de 4 anos.
Porém, é Boneti, o sócio do jogador, quem responde pela empresa. Em contato com a reportagem, ele confirmou o recebimento do dinheiro desviado do Santander, mas disse que não sabia da origem ilícita.
“Eu executo as ordens financeiras. O Anderson tinha me dito que esse valor ia cair e que era para enviar os bitcoins para uma carteira”, disse.
Questionado sobre a realização de procedimentos de compliance — algo comum em grande operações de compra e que permite saber a origem do dinheiro —, ele afirmou que errou ao não fazer a devida checagem, mas que estava obedecendo às instruções do sócio.
Os valores desviados chegaram em dois dias (15 e 16 de abril). Em ambos foram feitas tentativas de compras de criptomoedas. No primeiro, eles conseguiu adquirir R$ 4 milhões em bitcoin. No segundo, foram R$ 9 milhões, dos quais sete o Santander conseguiu bloquear antes que a transação fosse feita.
Boneti afirma que a operação era algo normal do mercado. Ele estava apenas tentando recomprar os bitcoins que havia enviado para o cliente:
“A House tem condições de ter essa posição. Os bitcoins eram nossos e nós mandamos. Agora estou com as minhas contas bancárias congelada”, contou.
No momento, ele está vendo como pode reaver o dinheiro e diz se arrepender de não ter checado a origem dos R$ 14 milhões.
Procurado, o jogador Anderson não respondeu aos contatos pelas suas redes sociais. Ele também estava sem telefone celular, que foi aprendido na operação do Ministério Público.
Entenda o caso
Entre os dias 15 e 16 de abril, uma empresa do Rio Grande do Sul chamada Mundial conseguiu entrar dentro da conta da metalúrgica Gerdau no banco Santander e programar o envio de TEDs para diferentes empresas no valor total de R$ 30 milhões.
A fraude foi tão complexa que causou estranheza à própria investigação interna. O singular é que as transferências não foram feitas a partir de um login da conta da Gerdau. O débito foi efetuado por uma outra empresa, também correntista.
Por meio do internet banking da Mundial, os golpistas conseguiram programar e realizar as TEDs. Ao final da operação houve uma manipulação da codificação do canal do interno do sistema. Ou seja: o dinheiro não saiu da conta da empresa que estava logada, a Mundial, mas sim da Gerdau.
O Santander reconheceu a falha no sistema, assumiu o prejuízo da Gerdau e então foi à caça do caminho do dinheiro, que acabou indo para algumas empresas brasileiras de bitcoin. Uma vez convertido na criptomoeda, as chances de rastrear e congelar os valores se tornam muito mais difíceis do que pelo sistema tradicional.
O que diz a defesa do jogador:
A defesa do jogador enviou ao Portal do Bitcoin a nota abaixo:
Os advogados Mateus Marques e Samir Nassif, que atuam na defesa de Anderson Oliveira, informam que receberam com perplexidade a notícia veiculada pelo site Portal do Bitcoin, aonde há atribuição de fato criminoso ao ex-jogador de futebol, há de esclarecer que existe apenas procedimento investigativo sem conclusão cuja responsabilidade do Ministério Público revelará a veracidade do acontecimentos. No contraponto rechaçasse veementemente o crime apontado na matéria jornalística.
Veja o vídeo feito pelo MP para explicar a fraude: