“Acabou a era do fascínio. A meta é entender como utilizar o blockchain para criar oportunidades de negócio”. É dessa maneira que Ana Paula Assis, presidente da IBM para a América Latina vê a adoção corporativa da tecnologia que surgiu como bitcoin.
De acordo com uma entrevista ao Valor Econômico, para a executiva, a blockchain passou do ponto de encantamento e agora se tornou “um jogo coletivo”, pois projetos relevantes resolvem problemas comuns a diferentes agentes das cadeias produtivas.
Isso, segundo ela, é que faz com que as empresas ajam juntas. “É vantajoso para todas”, disse.
Quando a tecnologia começou a ganhar o mainstream, Ana disse que foi difícil entrar na cabeça das empresas o funcionamento da rede. Foi “um misto de pânico e fascínio”, disse. Isso porque as pessoas não entendiam como uma tecnologia era capaz de gerar dinheiro ‘do nada’ e sem lastro.
Além disso, havia ainda os rumores do fim do sistema financeiro e que poucos sobreviveriam no mercado — o que foi desmistificado depois, segundo ela.
“As corporações entenderam que as redes públicas não são indicadas para os negócios e surgiram plataformas capazes de utilizar os recursos mais interessantes do registro distribuído em comunidades”.
Quando implementar blockchain
De acordo com a executiva, antes de uma companhia aderir ao sistema, primeiro ela deve entender que blockchain é uma questão de negócio, não de tecnologia.
Para isso, deve-se primeiro mapear os problemas de impacto e avaliar se eles são comuns em outras companhias — parceiras e até concorrentes. “Blockchain faz diferença no uso coletivo, é um jogo de ecossistema”, avaliou.
O segredo, disse, está em descobrir as partes interessadas em resolver um certo problema e jogarem juntos, pois para isso existe um código aberto e haverá transparência em todo o ciclo.
Ela explicou o porquê da avaliação antes. Se há um problema, ele tem que ser avaliado qual seria o custo para resolvê-lo, pois há casos que podem ser resolvidos através das tecnologias tradicionais.
“Se um problema pode ser resolvido, com baixo custo e eficiência, pelas tecnologias tradicionais, o registro distribuído dificilmente será a melhor alternativa”.
Próximos desafios
Ana acredita que um próximo passo importante é a integração das diferentes redes. “Nós veremos o surgimento de diversas comunidades para o uso de blockchain”, comentou. No entanto, ela disse que as cadeias produtivas não são isoladas.
“Logística conversa com mercado financeiro, ambas conversam com as fábricas. Neste cenário, haverá aplicações para troca de informações. Vale lembrar que, em uma estrutura blockchain, é possível selecionar as informações que serão compartilhadas entre estas redes”.
Adoção em massa
Segundo a executiva, se for confirmada a previsão de que em alguns anos 10% do PIB global estará registrado em blockchain, conforme estimou o Fórum Econômico Mundial, a tecnologia deve se tornar um padrão para transações e transferência de ativos.
Desta forma, “a base estará consolidada e a adoção em massa será questão de tempo”, avaliou.
Escalabilidade
Questionada sobre a capacidade de escala, em suportar um grande número de transações, Ana disse que a adoção e a evolução da tecnologia têm mostrado que isso não é um problema.
Para dar exemplo, ela citou a plataforma da IBM, que opera com mais de cem organizações globais e processa cerca de 10 milhões de transações por semana.
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