A vida de quem está com dinheiro preso em uma corretora brasileira de criptomoedas

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(Foto: Shutterstock)

Nome sujo, dívidas de milhares de reais e empréstimos inseguros fazem parte da rotina dos trabalhadores que investiram na exchange curitibana de criptomoedas Coinx e que estão há três meses sem poder sacar ou o movimentar o próprio dinheiro.  

O dinheiro retido, estimam os prejudicados, soma mais de um milhão de reais. Engana-se, porém, quem pensa que os clientes lesados são pessoas ricas. A maioria dos investidores é formada por trabalhadores que viram na promessa de taxa zero da Coinx uma boa oportunidade de lucrar e, agora, afundam em dívidas.

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Um dos prejudicados é o produtor rural Diego Soares, de 28 anos, da cidade de Nanuque, no interior de Minas Gerais. Ele calcula ter perdido R$ 32 mil, dinheiro que investia para comprar uma casa que dividiria com sua noiva.

Soares conta que, no começo de 2017, assistiu a alguns vídeos sobre Bitcoin no YouTube e decidiu aplicar sua reserva de finanças em criptomoedas. Iniciou por meio da corretora Mercado Bitcoin, mas não gostava das altas taxas para depósito, transferência e saque em reais.

Quando conheceu a Coinx com sua promessa de taxa zero, migrou na hora.

“No começo foi muito bem”, conta Soares. “Fiz compra e venda, fui ganhando e investindo. Aí quatro meses atrás começaram as desculpas”.

Desde agosto ele não consegue mexer nas suas criptomoedas que estão na corretora. A justificativa da Coinx para impedir as movimentações foi que a companhia adotaria uma nova moeda, a Zeus. O lançamento, porém, nunca aconteceu.

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O pior, conta Soares, foi que nesses meses todas as moedas que a corretora trabalha (Bitcoin, Ethereum e Litecoin) se desvalorizaram e nenhum dos clientes pôde fazer nada. Antes, disse ele, seus criptoativos valiam R$ 23 mil e agora não chegam a 12 mil.

Quando conversou com a reportagem, por telefone, não escondia seu desespero: “Tô com a cabeça a mil, não consigo dormir. Minha fazenda é pequena, o dinheiro é pouco. Comecei a investir para conseguir comprar minha casa e me mudar com minha noiva, mas fui obrigado a adiar os planos. Não tenho dinheiro pra construir nada”.

“Estou falido”

O técnico em informática Atila Barbosa, de Brasília, também está com uma grande quantia de dinheiro retido na corretora. De acordo com ele, seus investimentos, advindos de day trades com as criptomoedas, estavam em R$ 43 mil quando a plataforma parou de funcionar.

Toda manhã ele liga e envia mensagens para a Coinx, mas a resposta é sempre a mesma: um pedido de desculpas e a promessa de que haverá bonificação. Barbosa também mostrou ao Portal do Bitcoin gravações de ligações com o serviço de atendimento da empresa. Todas elas dizem que “não há previsão para resolução”.

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Estou praticamente falido. Meus cartões de créditos estão estourados por conta das dívidas que não consegui pagar. Meu nome está sujo, estou com parcelas atrasadas, renegociei empréstimo que provavelmente não conseguirei pagar

Segundo Barbosa, suas dívidas por conta dos juros ultrapassam os R$ 110 mil. O salário, conta, serve só para pagar aluguel, água, luz e comida. Ele não esconde que, se a situação se mantiver, entrará numa situação financeira insustentável.

Sem esperanças, ele crê que nunca verá a cor do dinheiro:

“Eles falam que deu problema no site por causa da nova moeda ou então que pagaram muita gente duplicado e que resolverão tudo na próxima semana. Só que essa semana nunca chega. Já disseram que virá um dinheiro da Coreia, mas já passaram quase três meses e nada”.

Conforme mostramos em reportagem anterior, a Coinx está registrada nos nomes de três representantes da comunidade sul-coreana, Myungsun Jung (cuja casa serve de sede da empresa, em Curitiba) Yang Lim Chang Suh, Paula Yun Joo Chang, e do brasileiro André Gardenal.

Eles prometeram, em página oficial do Facebook, pagar os usuários da plataforma em cinco parcelas a partir de 04 de setembro. Até agora, porém, a maioria dos clientes diz não ter recebido nada.

150 mil reais presos

“Não sei se é golpe, mas pode virar. A irresponsabilidade foi gigante”, diz o servidor federal Anderson Valle, de 39 anos, morador de Uberlândia, Minas Gerais.

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Valle foi o primeiro a entrar com ação direta para que o dinheiro que havia aplicado na Coinx — cerca de R$ 150 mil — fosse liberado.

“Tentei bloqueio das contas judicialmente, mas eles não têm bens localizados. A Polícia Civil indicou a Federal, que está com a ação há meses. Tenho audiência com [a Coinx] eles na próxima semana, mas eles não têm dinheiro, não têm bem de empresa, não há nada. Não há qualquer garantia. Os clientes estão na mão”, disse Valle.

Para Valle, a história de pagamento duplicado é papo furado. “Desculpa esfarrapada”, diz ele. “A história da Coinx no Brasil é de mentira atrás de mentira. Eles estavam fazendo ilegal, provavelmente fazendo transações na Coreia do Sul, onde o preço do Bitcoin era mais alto, e aí perceberam depois”.

Para o servidor, falta regulamentação no setor de criptomoedas. A pouca legislação que existe deixa o usuário completamente desprotegido.

“Nada impede que a exchange pegue seu dinheiro, bote numa aplicação e tenha rendimento sem que você ateste. Isso é muito sério”, diz.

Para abrir o negócio, opinou ele, a Coinx tinha que ter seguro ou patrimônio vinculado. “O cara (da Coinx) tem R$ 10 mil de contrato social e que se dane. Os caras estavam operando milhões de reais. Isso é muito sério”.

Enquanto o dinheiro não vem, os clientes da Coinx se organizam em grupos de WhatsApp. Toda manhã perguntam se há novidades e quase sempre a conversa termina com xingamentos aos donos da exchange curitibana.

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“O site está aberto para depósitos em reais e bitcoins, isso prova a pilantragem deles”, diz um dos clientes. “Esses caras têm que ser presos!”, diz outro.

O clima de pouca informação também traz alguma paranóia para vários membros. Quando uma das pessoas fica dias sem responder, os outros acham que ela recebeu o dinheiro e estão sendo passados para trás.

De todos os clientes ouvidos pela reportagem, seja em grupos de WhatsApp, por telefone ou por redes sociais, apenas três afirmaram ter recebido uma parcela de pagamento.

Sem querer ter seu nome exposto pela reportagem, uma das pessoas disse ter recebido R$ 14 mil. Faltam seis mil.

“Perdi dinheiro, sem dúvida”, contou, via WhatsApp. “Além de ter pago juros sobre um montante que estava pendente devido à retenção do valor, quanto mais tempo passa, mais se desvaloriza o dinheiro”.

Quando questionado se acreditava que a operação da Coinx se tratava de um golpe, ele ponderou: “Não sei dizer se é golpe. Se fosse, não teriam pago alguns. Mas que é um crime o que estão fazendo, isso é”.