Imagem da matéria: Por que é uma má ideia exigir que emissores de stablecoins tenham reservas em dinheiro?
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Qual lastro stablecoins devem ter: dinheiro ou outros ativos também?

A questão sobre reservas de stablecoins tem sido o foco de debates acalorados entre legisladores e executivos cripto. Ainda assim, um relatório muito aguardado sobre stablecoins mal aborda esse assunto.

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O relatório, elaborado por um grupo de trabalho do presidente Biden que inclui a secretária do Tesouro Americano Janet Yellen e o presidente do Federal Reserve Jerome Powell, foi publicado este mês e a expectativa era que fornecesse clareza sobre como emissores de stablecoins, como Tether e Circle, devem lastrear seus tokens.

Em vez disso, continha apenas uma declaração definitiva e bastante retrógrada.

A declaração aborda o possível risco de uma “corrida” de stablecoins e como isso pode afetar os amplos mercados financeiros:

Os riscos de estabilidade financeira de uma corrida de stablecoins seriam enormes no contexto de stablecoins lastreadas por ativos possivelmente voláteis e ilíquidos do que no contexto de stablecoins lastreadas com paridade 1:1 por ativos líquidos de alta qualidade.

A consequência de uma corrida, de acordo com os autores, seria bem pior se as reservas da emissora contivessem ativos não monetários, como títulos comerciais (uma prática realizada por alguns emissores, como a Tether, pois permite que ganhem mais dinheiro sobre as reservas).

Porém, embora stablecoins lastreadas em ativos não monetários sejam mais propensas a prejuízos, não é o mesmo que uma enorme instabilidade financeira.

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Considerando o fracasso das pontocom no início deste século, que extinguiu US$ 8 trilhões da riqueza do mercado acionário dos EUA (uma quantia mais de 50 vezes maior que o mercado de stablecoins), mas que não gerou uma incerteza sistêmica e financeira.

Por outro lado, um fraco mercado de compensações em 2017 se tornou em uma crise financeira completa quando um fundo francês de US$ 2,2 bilhões do qual ninguém havia ouvido falar, com 1/3 de seus ativos em títulos de alto risco e de alta classificação, suspendeu os resgates e gerou uma corrida em todas as instituições financeiras e os ativos de alta classificação que estavam usando como garantia.

Diferente do colapso das ponto com, que foi limitado a mercados de ação, os problemas do fundo francês envolviam ativos que eram peças fundamentais do sistema bancário, resultando em um pânico financeiro devastador.

Stablecoins, por enquanto, não são conectadas dessa forma. Lembre-se de maio de 2021, quando o valor de todas as criptomoedas caiu US$ 470 bilhões ou mais de 20% em apenas dois dias. O que aconteceu depois? Nada.

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O sistema financeiro estava estável e a recuperação econômica continuou rapidamente. Tivemos sorte por cripto ser autossuficiente.

Esse pode não ser o caso se, assim como reguladores afirmaram em seu relatório, o Conselho de Supervisão à Estabilidade Financeira (ou FSOC) exigir que ativos de stablecoin sejam garantidos por ativos seguros.

O caso da Tether

Ao analisar melhor a Tether, emissora de stablecoin com uma reputação duvidosa, mostra por que seria imprudente exigir que tais empresas possuam todos os ativos em dinheiro físico.

Tether, que emitiu mais de US$ 70 bilhões em stablecoins, repetidamente encobriu informações sobre suas reservas e ainda se recusa a mostrar o que realmente está armazenado.

O que sabemos sobre o comportamento da empresa não é legal (alocações em títulos comerciais na China, empréstimos lastreados em cripto a outras corretoras, um grande depósito em um banco em retração nas Bahamas e assim por diante).

Tudo isso resultou em multas e investigações e esse problema jurídico não irá acabar tão cedo.

Se um fundo comum de mercados monetários (onde grandes corporações e fundos de pensão alocam seus ativos líquidos) passassem por pelo menos um desses incidentes, investidores teriam acabado com ele.

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Ainda assim, a Tether mais do que triplicou de tamanho em 2021 e compõe mais da metade do mercado de stablecoins.

Enquanto isso, um trader de cripto se preocupa que a Tether pode “quebrar o mercado” e ficar abaixo de US$ 1 (que foi o que aconteceu aos fundos de mercados monetários em 2018), apesar de as declarações da empresa sobre suas reservas ser, no máximo, duvidosa.

Tudo isso é explicado pelo fato de que Tether é um ecossistema presente nos mercados cripto e que continua popular por conta do valor em seus traders executados, dos enormes efeitos de rede e extensa interoperabilidade entre blockchains.

Isso não quer dizer que a Tether ou outras stablecoins não irão implodir um dia, principalmente dada a sua conexão com os voláteis mercados cripto.

Na verdade, não é difícil imaginar situações que podem colocar stablecoins em um loop de péssimo feedback: grandes quedas no preço das criptos, ajustes de margem, hacks ou falhas operacionais e assim por diante.

No entanto, se uma situação como essa ocorrer e uma corrida acontecer, a última coisa que vamos querer é que emissores de stablecoins tenham enormes depósitos em dinheiro físico, acordos de recompra de rápida maturação ou ligações com mutuários que estão no centro do sistema bancário.

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Por enquanto, é melhor deixar as stablecoins como estão no setor cripto em vez de ancorar esses ativos ao centro dos mercados financeiros.

Legislações do tipo bancárias (propostas pelo relatório) são absolutamente o caminho antes de stablecoins começarem a passar por ampla adesão e usos. Mas uma “solução” interina que exige que stablecoins lastreiem sua emissão com ativos seguros pode sair pela culatra.

Qualquer solução não deve “solucionar” o risco de uma corrida por traders cripto ao substitui-la com um maior risco de uma corrida de stablecoins que pode danificar nosso sistema financeiro principal.

*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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