A empresa baseada em Santos chamada BWA Brasil parou de pagar os clientes provocando angústia e desespero em boa parte da elite local. Ela pertence ao Paulo Roberto Ramos Bilibio, que foi sequestrado por policiais civis em novembro de 2018.
Quem entra na plataforma de empresa, que recentemente passou a se chamar Alpen Global, consegue ver os saldos mas não há mais os dados sobre a rentabilidade. Também não é possível retirar os recursos aportados.
Desde que a notícia do sequestro Paulo Roberto Ramos Bilibio se espalhou, houve uma corrida de saques e a BWA começou a ter problemas para realizar os pagamentos.
O Portal do Bitcoin conversou com duas pessoas prejudicadas pela empresa que têm valores entre R$ 30 mil e R$ 300 mil. Ambas confirmaram a impossibilidade de fazer as retiradas.
A empresa atuava em um segmento mais rico de clientes, uma vez que o aporte inicial era de R$ 30 mil. Quanto maior o valor, maior a rentabilidade. Além disso, o esquema era realizado por consultores que faziam as vendas dos produtos.
“Em janeiro deste ano, coloquei R$ 30 mil. Todo mês o dinheiro rendia em torno de 3%. E aí tinha uma opção de pagar de forma automática na minha conta bancária”, disse um dos prejudicados, que é morador de Santos.
O santista conta que os consultores também eram moradores da cidade, o que passava mais credibilidade.
“Meus amigos me mostravam os saldos mês a mês e eu nunca quis entrar. Quando decidi fazer o aporte de quase R$ 300 mil, eles pararam de pagar”, disse um paulistano que também está com dinheiro preso.
Já existem pelo menos três processos na Justiça contra a empresa cuja associação com o Bitcoin Banco sempre foi nebulosa.
Em uma nota enviada aos clientes, a empresa disse que estava com problemas nas suas operações e que um novo comunicado seria enviado no dia 15 de janeiro de 2020.
Como é sabido, Bilibio não está mais no Brasil. Em seu depoimento à polícia, ele afirmou que estava morando na Flórida, nos Estados Unidos.
O que é a BWA Brasil
Na época do sequestro, em depoimento à polícia, o empresário Paulo Bilibio disse ser o dono da empresa BWA. Contudo, no quadro societário atual não consta mais seu nome.
Há duas empresas praticamente homônimas com mesmos sócios: Jéssica da Silva Farias, Marcos Aranha e Roberto Willens Ribeiro. Apesar de pequenas diferenças e de se tratar de CNPjs distintos, tudo indica se tratar de um mesmo negócio.
Uma se chama BWA Brasil e a outra BWA BR. Ambas administradas por uma mulher chamada Jéssica da Silva Farias, mas a BWA Brasil iniciou suas atividades em 2017. Já a BWA BR foi constituída em março de 2019.
De acordo com os dados da BWA Brasil fornecidos à Receita Federal, essa empresa apesar de não ter entre os sócios nenhuma pessoa chamada Paulo Bilibio, consta o seu nome no endereço eletrônico da empresa.
Um outro detalhe curioso sobre essa relação societária é que, segundo o Whois, o domínio do site da BWA Brasil também pertence à Paulo Roberto Ramos Bilibio.
Antes de vir à tona a história do sequestro, a BWA Brasil atuava nas sombras. Era pouco divulgada no mercado e em seu site não havia qualquer informação sobre arbitragem ou qualquer coisa que remeta a investimento com criptomoedas.
Atuando desde 2017, era direcionada para um seleto grupo de clientes convidados — por isso a suspeita de que tenha atingido parte da elite santista.
Numa postagem feita em rede social, contudo, foi encontrada uma incongruência. A empresa fundada em maio de 2017 teria celebrado em dezembro de 2018, “3 anos de história”. O evento que ocorreu no Atrium em Santos, contou com o show do ator e comediante Leandro Hassum.
Uma mulher de nome Letícia Henrique, na postagem, chega a parabeniza os sócios Marcos Aranha, Beto “Eillens” (que seria o Roberto Willens) e Paulo Bilibio, mas nada é mencionado sobre a Jéssica Farias.
Marcos Aranha, no entanto, é uma pessoa já conhecida no setor de investimentos. Antes ele atuava como um líder da UP! Essência, empresa que passou a ser investigada pelo Ministério Público Federal depois de serem verificados indícios de lavagem de dinheiro.
A atuação da empresa de arbitragem ainda é uma incógnita, uma vez que no site não consta quaisquer informações sobre isso. A entrada das pessoas se dá por indicação apenas e para conseguir acesso ao sistema é requerido do interessado informações sensíveis como o CPF e quem teria indicado o interessado.
Dívida, sequestro e extorsão
O sequestro do dono da BWA teria ocorrido por conta de uma dívida. Guilherme Aere dos Santos, suposto mandante do crime, teria comprado Bitcoins por meio da BWA, mas teve suas criptomoedas retidas numa das empresas do grupo Bitcoin Banco (GBB).
Em novembro de 2018, Santos investiu R$ 3 milhões em criptomoedas. A transação teria ocorrido com o uso da tecnologia de arbitragem da BWA por meio de uma empresa chamada Calegari.
Em depoimento, Santos disse que havia procurado Bilibio por esse ter afirmado que resolveria o problema do GBB. O suposto sequestrador ainda afirmou que Bilibio era o verdadeiro dono do Bitcoin Banco, o que foi negado pelo empresário santista.
*Colaborou Cláudio Goldberg Rabin
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