Quem se recorda do lançamento em dezembro de 2017 do contrato futuro de Bitcoin na CME, tradicional bolsa de commodities de Chicago, provavelmente está com frio na barriga nesta segunda-feira (23).
Aquela data marcou exatamente o pico de preço próximo de US$ 19.800 após dois anos de intenso rali, conforme o gráfico abaixo:
Poderia o lançamento da Bakkt igualar tal feito?
Hoje, iniciou-se a negociação do contrato futuro de Bitcoin na Bakkt, exchange que conta com a NYSE (gigantesca bolsa de ações de NY) como principal sócio.
É possível acompanhar a cotação e volume diário do contrato futuro na página da ICE, dona da NYSE. Até as 10:40 (horário de brasília), haviam sido negociados por volta de 30 BTCs, um volume muito baixo.
O lançamento foi um fracasso?
De forma alguma. Muitos clientes ainda estão em processo de abertura de conta, alguns há mais de 3 semanas. Conversei com uma gestora de criptomoedas regulada que trabalha com operações offshore (fundos fora do Brasil) que explicou a principal diferença da Bakkt para as exchanges existentes: intermediário.
A Bakkt é uma bolsa de valores, logo, os clientes são obrigados a operar através de uma corretora. Pra quem conhece um pouco de Bovespa, deve saber que a abertura de conta e envio de ordens ocorre através de intermediários: XP Investimentos, Itau, ModalMais, Genial, etc.
Que corretoras trabalham com a BAKKT?
São as mesmas que realizam operações com ações e commodities (ouro, petróleo, soja, etc) nos EUA. No momento, apenas 3 oferecem este produto: Wedbush, ED&F Man e Philips Capital, mas a tendência é que este número cresça bastante.
Além de ser necessário abrir conta nestas corretoras tradicionais, é obrigatório um contrato com a Bakkt Warehouse, entidade separada responsável pela custódia (armazenamento) dos Bitcoins.
Qual a diferença na prática pro cliente?
Vencido esta batalha burocrática de abertura de conta em 2 entidades: corretora tradicional mais Bakkt Warehouse, além de assinar um termo de responsabilidade gigantesco da ICE, dona da BAKKT, o cliente deve aguardar ser aprovado.
Uma diferença gritante, segundo me informou este fundo de investimento de criptos, é que a corretora oferece alavancagem (crédito). Ou seja, é possível depositar US$ 50.000 e comprar 100 contratos de Bitcoin futuro na Bakkt, uma operação de US$ 100.000. A corretora assume este risco, da mesma forma que grande parte das corretoras tradicionais de Bovespa oferece tal serviço.
E a tal liquidação física?
Esta é a grande jogada da Bakkt. Este primeiro contrato lançado é com liquidação em D+1, ou seja, no dia seguinte ao trade. Na prática, funciona como um mercado spot (à vista) uma vez que na própria Bovespa a liquidação (entrega das ações e valores) ocorre somente 3 dias úteis após o trade. Este artifício foi criado pra enquadrar a bolsa nas regras da CFTC, agência reguladora dos EUA responsável por mercados futuros.
Afinal, vai permitir finalmente a entrada de institucionais?
Certamente é um caminho bem menos tortuoso e regulado uma vez que os clientes institucionais já estão acostumados a operar neste tipo de corretora, além de confiar na clearing (liquidação financeira) e custódia da NYSE, dona da BAKKT.
Infelizmente não é todo tipo de fundo de investimento que pode operar mercados futuros, mas certamente é um passo na direção certa. Se vai ganhar liquidez rápido, ainda é uma questão em aberto. De qualquer forma, um evento positivo na indústria.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017 faz arbitragem e trading de criptomoedas, além de ser cofundador do site de análise de criptos RadarBTC