O Oriente Médio está novamente em guerra, com as tensões crescentes entre Israel e Irã assustando os mercados e derrubando os preços tanto de ativos tradicionais quanto de criptomoedas, como o Bitcoin e o Ethereum, que atingiram mínimas semanais. Mas será que os investidores em Bitcoin devem entrar em pânico? Os dados atuais não apoiam essa visão.
Na manhã deste sábado (14), o Bitcoin registra um leve ganho de 0,6% nas últimas 24 horas, sendo negociado a US$ 105.079, enquanto o Ethereum mostra a mesma recuperação, para US$ 2.534.
Na tarde passada, à medida que o agravamento das tensões no Oriente Médio provocava uma forte aversão ao risco nos mercados de criptomoedas, o BTC caia 4% e o ETH mais de 8%. A liquidação, que começou durante o pregão asiático em 13 de junho, eliminou mais de US$ 420 bilhões do valor total de mercado das criptomoedas e desencadeou liquidações alavancadas no valor de US$ 1,2 bilhão.
Após a notícia de que Israel havia lançado uma grande operação militar contra o Irã, os ativos digitais de fato despencaram. Os ataques aéreos antes do amanhecer, que miraram instalações nucleares e militares iranianas, causaram ondas de choque nos mercados financeiros globais, com as criptomoedas sofrendo a maior pressão vendedora, à medida que os investidores corriam para ativos considerados mais seguros.
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As chances de uma escalada tão dramática pareciam remotas até poucos dias atrás. A probabilidade de um ataque israelense ao Irã era negociada abaixo de 20% ao longo da semana no mercado de previsões Polymarket, chegando a cair para 11% em determinados momentos.
E este é o problema para os mercados — não a guerra em si, mas a incerteza. Atualmente, no Myriad Markets — um mercado de previsões desenvolvido pela empresa-mãe do Decrypt, Dastan — as chances de um acordo nuclear entre EUA e Irã até o fim da semana caíram para apenas 4,7%.
Enquanto isso, o S&P 500 caiu 0,66% e o índice Dow Jones recuou 1,17%, com investidores buscando refúgios tradicionais. O ouro disparou 1,8%, atingindo US$ 3.445 por onça, aproximando-se de sua máxima histórica de US$ 3.500,05, enquanto o preço do petróleo Brent saltou até 9,21% durante o pregão asiático, antes de se estabilizar com alta de cerca de 7%, a US$ 72,6 por barril.
Os movimentos bruscos nas commodities refletiram preocupações reais com a oferta. O Irã, terceiro maior produtor da OPEP, controla infraestrutura crítica de petróleo, e qualquer conflito prolongado pode afetar seriamente os mercados globais de energia. As ações do setor de defesa, como esperado, dispararam. Para efeito de comparação, Lockheed Martin e Palantir subiram cerca de 3%, com investidores se posicionando para uma possível escalada militar.
Medo ainda não domina mercado cripto
O Índice de Medo e Ganância das criptomoedas, que mede o apetite dos investidores por esses ativos de risco, recuou de 65 para 54, passando de “ganância” para “neutro” — uma correção saudável, e não um sinal de pânico extremo, como os normalmente associados a fundos de mercado.
Essa mudança moderada no sentimento, combinada com entradas contínuas de US$ 86,31 milhões em ETFs de Bitcoin, apesar da queda nos preços, sugere que a convicção institucional permanece firme.
Bitcoin mostra resposta controlada
Diante desse cenário de pânico nos mercados tradicionais, a queda atual do para o nível de US$ 105 mil parece notavelmente contida. Sim, a principal criptomoeda provocou liquidações alavancadas de US$ 1,2 bilhão ao romper abaixo do nível psicologicamente importante de US$ 106 mil. Mas, considerando a magnitude do choque geopolítico, a liquidação carece das características típicas de um verdadeiro pânico.
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A análise técnica reforça essa tese. O Índice de Força Relativa (RSI) do Bitcoin no gráfico diário está em 47 — abaixo dos níveis de sobrecompra próximos a 80 na semana passada, mas ainda firmemente em território neutro. Isso sugere realização de lucros, e não capitulação.
O Índice Direcional Médio (ADX), que mede a força de uma tendência independentemente da direção, está agora em 17, indicando um impulso direcional fraco. Isso significa que o movimento atual carece da convicção normalmente observada durante quedas impulsionadas por crises, o que está alinhado com a recente lateralização da moeda.
A Média Móvel Exponencial (EMA) do Bitcoin é ainda mais reveladora. A EMA mede o preço médio de um ativo ao longo de determinado período. A EMA de 50 dias do Bitcoin, em US$ 102.513, serviu como resistência inicial na tentativa de recuperação, sugerindo que os níveis técnicos ainda importam — um sinal de que negociações algorítmicas, e não pânico emocional, estão guiando a ação de preço. A EMA de 200 dias está bem mais abaixo, em US$ 92.687, mostrando que a tendência de alta de longo prazo continua intacta.
Para o Bitcoin, o teste imediato é recuperar o nível de US$ 105.757 (confluência das EMAs de 50 e 200 dias). Caso não consiga romper esse patamar, os alvos passam a ser: US$ 100.000 como suporte psicológico e US$ 95.000 como suporte visível nos gráficos.
A resistência superior está em US$ 110.000, com a recente máxima histórica próxima a US$ 111.891 permanecendo como o nível-chave a ser reconquistado pelos compradores.
Ethereum e altcoins sofrem mais
A queda mais expressiva do Ethereum desde o aumento dos conflitos no Oriente Médio, atingindo a mínima diária de US$ 2.439, reflete a típica rotação de risco das altcoins para o Bitcoin durante períodos de estresse no mercado. Apesar de registrar 19 dias consecutivos de entradas em ETFs, o ETH não conseguiu se manter acima de US$ 2.700, com traders reduzindo exposição.
Os indicadores técnicos da segunda maior criptomoeda pintam um cenário mais pessimista do que o do Bitcoin. Com RSI em 50,6 e ADX em 22 — mostrando que o impulso da recuperação está muito fraco e que a tendência de baixa de longo prazo ainda se mantém — o Ethereum apresenta um movimento direcional mais forte para baixo.
O preço está atualmente próximo da EMA de 200 dias (US$ 2.473), tendo rompido esse nível durante a liquidação. A EMA de 50 dias está em US$ 2.417, e um rompimento abaixo desse patamar indicaria uma mudança de tendência mais significativa.
Os compradores do Ethereum, portanto, precisam defender o nível atual de US$ 2.552 para evitar uma correção mais profunda. Os níveis-chave a observar são as resistências em US$ 2.738 e um suporte imediato próximo aos níveis psicológicos de US$ 2.417.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.