Imagem da matéria: Existe potencial, mas criptoativos têm longo caminho para substituir SWIFT | Opinião
(Foto: Shutterstock)

A transferência de recursos durante períodos de conflitos e guerras modernas se tornou mais complexa nas finanças tradicionais, principalmente devido ao sistema integrado do SWIFT, que permite às potências ocidentais a possibilidade de impor sanções e bloqueios nas transferências.

Exemplos podem ser vistos nas sanções à Coreia do Norte, bem como à Rússia, após a entrada na guerra contra a Ucrânia. Uma alternativa a esse sistema, é a utilização de criptoativos que, por não possuírem intermediários, não podem ser censurados (pelo menos quando em auto-custódia).

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A Chainalysis, empresa focada em dados On-Chain e serviços para blockchains, realizou um estudo na qual rastreou carteiras marcadas como associadas ao terrorismo, e notou que apenas uma pequena parte dos recursos enviados para service providers acabava nas wallets dos terroristas, de quase US$ 83 milhões processados, apenas US$ 450 mil terminaram nas mãos erradas, cerca de 0,5% do total.

Obviamente, qualquer recurso enviado para estes fins é negativo, mas o ponto é que cripto ainda não é uma ferramenta conhecida e utilizada em larga escala por estes atores.

Repare, porém, que, apenas transferir dinheiro por cripto não resolve o problema, a Binance e a Tether, por exemplo, anunciaram o bloqueio de, respectivamente, 100 contas que estariam associadas ao financiamento do Hamas e US$873 mil em USDT associados a terroristas.

É de extrema importância ressaltarmos o papel da custódia nesses casos, o tradicional clichê ‘not your keys, not your coins’ se aplica perfeitamente nesta situação. E não são só nesses eventos de conflitos que isso fica evidente, com a derrocada da FTX e diversos outros custodiantes de cripto, como a Celsius e a BlockFi, os usuários perderam acesso a ‘seus’ fundos, justamente por não serem realmente ‘seus’.

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É claro que existe um outro lado nessa história, manter um saldo em exchanges facilita muito a obtenção de liquidez dos ativos e permite maior celeridade em movimentações e alterações nos portfólios, mas isso vem ao custo de perda ou bloqueio total dos ativos e deve ser ponderado pelo investidor ou instituição envolvida.

Existem outras críticas associadas também à infraestrutura, hoje em dia o SWIFT processa cerca de 42 milhões de mensagens financeiras por dia, em média. Apesar de a cada dia visualizarmos avanços em cripto, ainda estamos longe de ter essa capacidade na indústria, principalmente quando se trata de transações em moedas de privacidade, ou por meio de mixers.

Para se ter uma ideia, o principal mixer da rede da Ethereum, o Tornado Cash, tem apenas 12.250 usuários únicos, que realizaram apenas 165 mil depósitos desde a criação da aplicação em 2019, conforme dados do Dune Analytics.

Apenas criptoativos de privacidade e mixers podem ser utilizados para evasão de sanções e outros crimes cibernéticos, e estes ainda representam pouquíssimo volume perto de outras ferramentas.

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Grande parte do ainda pequeno volume de criptoativos trafega em redes transparentes e não pode ser utilizado para esse fim. Outra parte também está em posse de entes centralizados, que podem exercer censura e travar os montantes envolvidos por tempo indeterminado.

Porém, a possibilidade de se realizar esses movimentos, pode atrair interesses de todos os lados envolvidos, sejam eles positivos ou negativos.

Além disso, substituir o sistema SWIFT, pelo menos no nível de infraestrutura atual, está fora de questão, haja vista a necessidade de grande escalabilidade envolvida.

É possível concluir então que censuras continuarão ocorrendo e o sistema deverá evoluir consideravelmente nos próximos anos, caso deseje se tornar o modelo padrão de remessa de dinheiro internacional.

Sobre o autor

Rony Szuster é Engenheiro Químico com pós-graduação em Engenharia de Software, imerso no mercado cripto desde 2019 e contribuidor do Messari Hub desde 2021. Atualmente integra a equipe de analistas de criptoativos do Mercado Bitcoin.

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