Hoje já é possível afirmar que o surgimento das criptomoedas revolucionou o cenário financeiro global. Baseados na robusta tecnologia blockchain, esses tipos de ativos chamam a atenção do público por trazer um alto grau protetivo para as transações de seus detentores.
No entanto, da mesma forma em que as moedas digitais continuam a despertar a atenção do mercado, ainda existem muitas dúvidas que pairam sobre elas. Nesse sentido, talvez o principal dos questionamentos passa justamente pela alta flutuação de suas cotações, característica que as acompanha desde o seu surgimento.
Em vias diretas, podemos dizer que o maior responsável pela alta volatilidade dos preços dos ativos digitais é o fato de que todo o fundamento ocorre sobre bases tecnológicas ainda não tão difundidas para a sociedade em geral. Para alguns investidores, é um problema não existir algo “do mundo real” por trás do Bitcoin, por exemplo. Como consequência, isso o torna especulativo e volátil.
É justamente pensando em trazer mais transparência e confiabilidade para o mercado, uma nova modalidade dentro do setor tem ganhado bastante força nos últimos meses. Trata-se do processo de tokenização de ativos do mundo real, ou Real World Assets, também conhecido pela sigla RWA. A partir desse conceito, os bens do mundo real como, por exemplo, imóveis, obras de arte, commodities e títulos governamentais, são transformados em tokens digitais em uma blockchain.
Ou seja, a tokenização converte ativos físicos em representações digitais, tornando-os divisíveis, transferíveis e negociáveis através da tecnologia DeFi – abreviação de Finanças Descentralizadas. Com isso, há uma maior democratização do acesso aos serviços financeiros, tais como empréstimos, transferências e sistemas de pagamentos, sem a necessidade de intermediários tradicionais, como bancos ou corretoras.
Sendo assim, imagine, por exemplo, uma casa que é representada por tokens. A partir dessa projeção, o imóvel agora pode ser trocado ou usado como garantia para transações em protocolos DeFi.
Dessa forma, todas as regras das operações e os acordos previamente estabelecidos passam a existir em um ambiente auditável e imutável, garantindo mais segurança a todas as partes e aumentando ainda mais o potencial do que pode ser feito na rede.
Potencial mensurável
Hoje, já é possível vislumbrar uma conexão muito próxima do conceito RWA aos criptoativos nos próximos anos. Não é à toa que esse mercado movimentou mais de R$ 3 bilhões somente em 2023, segundo dados levantados pela RedStone Finance, o que representa um impressionante crescimento de 453% em comparação a 2022.
Isso acontece, principalmente, porque a aproximação dessas duas noções gera alguns motivadores essenciais para alavancar ainda mais o mercado de criptoativos, como, principalmente, a tangibilidade e a adoção em larga escala.
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Para entender melhor cada um desses cenários, é preciso, antes de mais nada, ter a clareza sobre como ocorre o ritmo do mercado hoje em dia. Funcionando a partir da lei da oferta e da procura, ou seja, de forma idêntica a qualquer ativo, o valor das criptomoedas são atrelados aos momentos de alta e baixa do seu próprio mercado.
Dessa maneira, quando a sua cotação começa a subir, por conta da maior procura, a moeda tende a se valorizar, muitas vezes a ponto de atingir um valor irreal, ocasionando uma demanda ainda mais elevada. É justamente nesse momento que a tendência se satura, o que faz com que o valor do ativo caia posteriormente por conta de uma menor procura.
Aqui, a introdução dos RWA pode assumir um papel essencial. Atualmente, graças a essa tecnologia é possível que a cripto, alocada dentro de um espaço digital, passe a ter um referencial de valor baseado no mundo real. Assim, uma vez que o token assume um vínculo com um ativo palpável, toda a receita gerada por esse bem pode ser utilizada como um módulo de securitização para os momentos de oscilação da moeda.
Um exemplo prático é uma criptomoeda vinculada a um empreendimento imobiliário. Nesse caso, toda a receita que está sendo gerada pelo aluguel de um ativo real, como de um apartamento, por exemplo, pode ser usada para proteger os holders durante o inevitável momento de instabilidade da moeda.
Todo esse processo ajuda a conceder um alto nível de tangibilidade ao seu ativo digital, além de ser fundamental no combate aos riscos dos seus recursos a partir de algo mais concreto do que o mercado de moeda digital, que é sempre flutuante.
Não só isso, todos esses elementos somados acabam por gerar uma percepção de valor importantíssima para criptomoeda, o que gera potencial gigante para uma adoção em larga escala do ativo, uma vez que é mais fácil de tangibilizá-lo em comparação a um que seja 100% digital.
A aproximação das criptomoedas e os tokens atrelados a um ativo físico é uma forma de gerar mais consistência e assertividade a um mercado em crescimento exponencial. É o real e o digital ditando os novos caminhos do universo cripto.
Sobre o autor
Eduardo Carvalho é CEO e cofundador da Dynasty Global AG, empresa de criptoativos que usa o mercado imobiliário como referência para emissão de tokens de pagamento.
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