Imagem da matéria: A ascensão e a estranha queda de um dos advogados mais promissores das criptomoedas
Kyle Roche em vídeo vazado (Fonte: Reprodução/Twitter)

A curiosa história de Kyle Roche, um advogado que ficou famoso por enfrentar grandes empresas de criptomoedas na Justiça mas que viu sua carreira desmoronar ao ter vídeos vazados na internet, foi contada em reportagem especial do The New York Times publicada no domingo (19).

Um entusiasta de Bitcoin desde os primeiros anos na faculdade de direito, Roche se tornou um nome conhecido no setor por processar empresas como Internet Computer, Tether — a emissora da maior stablecoin do mundo, USDT — e personalidades famosas como Craig Wright, empresário australiano que mente sobre ser o criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto.

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Neste último caso, Roche defendeu Ira Kleiman, que acusava Wright de fraudar seu irmão David, dizendo que o empresário ficou com bilhões de dólares em bitcoin que minerou com o irmão antes de ele morrer, aos 40 anos. Kleiman saiu vencedor, obrigando Wright a pagar uma multa de US$ 143 milhões.

Com esse caso, Roche ganhou destaque e abriu seu próprio escritório de advocacia, Roche Freedman, pelo qual entrou com várias ações judiciais contra exchanges e esquemas de pump and dump — fraude em que golpistas divulgam informações falsas para convencer pessoas a comprar um ativo para logo despejá-los no mercado e realizar o lucro à custa de outros investidores.

O caso mais famoso aberto por Kyle Roche foi contra o empresário britânico Dominic Williams, criador do projeto Internet Computer (ICP). Segundo o advogado, WIlliams lucrou bilhões de dólares promovendo a compra da moeda por trás do que chamava de “plano grandioso para revolucionar a computação”. Após o ativo subir, WIlliam e insiders realizaram vendas massivas de ICP, causando uma desvalorização de 92% do token. 

“Se cripto era o Velho Oeste das finanças, Roche havia se anunciado como o novo xerife. Mas os xerifes, como ele logo aprenderia, fazem inimigos”, diz um trecho da reportagem do The New York Times.

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O início do fim

Uma grande armação foi criada para frear Kyle Roche e descredibilizar seu trabalho como advogado cripto. Tudo teve início quando ele recebeu um email em dezembro de 2021 com um convite para viajar à Londres para se encontrar com um potencial cliente, um homem chamado Mauricio Andres Villavicencio de Aguilar, que dizia ser um associado de um investidor de risco Ager-Hanssen.

Com viagem paga e jantar em um dos restaurantes mais caros da capital londrina, Roche se encontrou com Ager-Hanssen, que supostamente estaria interessado no seu projeto chamado Ryval,  uma empresa que ajudaria pessoas a arrecadar dinheiro na blockchain da Avalanche para pagar por processos legais.

Ryval é apenas uma das conexões de Roche com a Avalanche. O advogado, na realidade, era parceiro da Ava Labs — empresa por trás da Avalanche — antes da blockchain ir ao ar, e foi pago com parte da oferta de AVAX por seus trabalhos, se tornando um multimilionário quando a criptomoeda foi lançada.

Conforme contou o advogado ao The New York Times, ele se encontrou com Ager-Hanssen no seu escritório e logo as coisas ficaram estranhas. O empresário pressionou o dedo indicador na testa de Roche e disse que, se fosse investir com ele, precisava saber tudo de que ele era capaz de fazer.

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O advogado interpretou a situação como um incentivo para vender mais seus trabalhos e disse que passou horas sendo incentivado a se gabar de seu relacionamento com o Ava Labs, enquanto era gravado secretamente por Villavicencio. 

O advogado disse que foi persuadido a dizer que tinha recebido 1% da oferta de AVAX — na época, isso era equivalente a mais de US$ 100 milhões, mas que havia exagerado o valor.

Também afirmou na conversa que a Ava Labs só não havia sido processada até então graças ao seu trabalho, dizendo que cuidava para garantir que os reguladores americanos da SEC e CFTC tivessem outros alvos para focar suas atenções.

Mais tarde naquele mesmo dia, o advogado se encontrou com Villavicencio em um restaurante, onde as conversas sobre negócios continuaram, assim como as gravações escondidas.

Porém, Roche argumenta que a noite não passou de um “borrão” e que acredita ter tido sua bebida misturada com drogas. Vídeos vazados posteriormente mostravam o advogado no restaurante falando tinha o poder de “esmagar” empresas cripto com processos e que a Ava Labs o fazia processar concorrentes “em nome da indústria cripto”.

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Os vídeos foram vazados meses depois em uma página chamada CryptoLeaks.

Os estragos

A carreira de Kyle Roche desandou depois que os vídeos foram vazados. A Ava Labs negou todas as acusações e para proteger seu escritório de advocacia, Roche desistiu dos processos que havia aberto contra empresas de criptomoedas. Posteriormente, ele se demitiu e a empresa foi renomeada para Freedman Normand Friedland.

Roche também vendeu toda sua participação na Ava Labs de volta para a empresa e parou de representá-la legalmente. 

“Roche sentiu que seu mundo estava desmoronando. Ele diz que ficou tão estressado que parou de comer e perdeu 10 quilos. Depois de várias semanas, ele e sua noiva voltaram para Miami, mas, ainda preocupados com sua segurança, mudaram-se para um apartamento alugado em nome de um parente”, relata o The New York Times.

Quem estava por trás da armação?

Para Roche, estava claro que Ager-Hanssen havia armado contra ele, algo que o empresário negou veemente, dizendo que Villavicencio havia filmado os vídeos em seu escritório sem seu conhecimento.

Depois do vazamento, Villavicencio sumiu do mapa. Já Ager-Hanssen, além de continuar administrando sua empresa de capital de risco, abriu um processo contra o advogado. Segundo a reportagem, o empresário há muito tempo tem um hobby de desenterrar sujeira em nome de clientes ricos envolvidos em disputas comerciais na Grã-Bretanha e na Escandinávia.

Pelo trabalho que exerceu a longo dos anos contra nomes poderosos na indústria cripto, não faltam pessoas que poderiam ter contratado os serviços de Ager-Hanssen.

Uma série de eventos faz com que Roche acredite que tenha sido Dominic Williams, do Internet Computer, quem patrocinou a armação — algo que o empresário nega.

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Uma dessas “provas” é que no mesmo dia que Williams tuitou que estava “procurando” seus críticos, o domínio cryptoleaks.info foi registrado.

Quando o site foi ao ar, publicou dois relatórios alinhados com os interesses de Williams. Um deles defendia uma teoria sobre a queda do token ICP que havia sido divulgada anteriormente por Williams, e outro atacava o The Times por causa de um artigo publicado sobre o acidente. 

Depois que os vídeos de Roche foram vazados, Williams e sua empresa Dfinity apresentaram uma moção para desqualificar o processo aberto no ano passado contra a empresa por Roche. 

Desde então, o advogado tenta reconstruir sua carreira, mas afirma que os vídeos vazados ainda o perseguem.

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