A apresentação do projeto piloto do Real Digital, realizada na segunda feira (6) pelo Banco Central, trouxe à luz uma série de novidades sobre os aspectos técnicos do projeto da CBDC brasileira. O Portal do Bitcoin conversou com Fúlvio Xavier, diretor de Projetos Especiais do MB (Mercado Bitcoin), para entender os detalhes técnicos do projeto do BC.
O MB fez um experimento dentro do LIFT Challenge — competição de desenvolvimento de conceitos do BC — colocando em prática a compra e venda de precatórios entre pessoas físicas no modelo P2P usando tokens para pagamento e validação da transação. O projeto foi uma parceria com a CPQD, Cheesecake Labs, Clear Safer e Stellar, blockchain onde ele foi executado.
Essa ação do MB foi o template do que o Banco Central quer fazer agora com o Real Digital: criar um ambiente que permita a negociação de títulos públicos federais e uma série de serviços financeiros entre pessoas físicas com contas em bancos diferentes e que façam isso com a simplicidade de comprar um tênis em uma loja online — algo tão simples quanto fazer um PIX, nas palavras de um diretor do BC.
Por detrás, toda a estrutura Web3 irá rodar para permitir segurança, privacidade e confiabilidade. O cronograma do BC prevê o lançamento dos serviços do Real Digital para a população no final de 2024, com uma avaliação dos resultados do piloto no meio do caminho, em março do próximo ano.
Conheça então a estrutura tecnológica que dará suporte à nova tecnologia financeira.
Piloto do Real Digital vai usar Hyperledger Besu
Um dos principais anúncio feitos pelo BC é que o piloto do Real Digital vai rodar na Hyperledger Besu, uma plataforma de Distributed Ledger Technology (DLT), um modelo que é parecido com uma rede blockchain.
A Hyperledger é um ambiente digital criada pela Linus Foundation em 2015. Nos últimos anos sua versão chamada Fabric vem sendo muito utilizada no mercado cripto, mas não é uma plataforma boa para criação de tokens, explica Araújo.
Trata-se de uma Distributed Ledger Technology — mas que não é chamada de blockchain por alguns detalhes. Por exemplo, nessa tecnologia nem sempre existe um processo de mineração sustentando a rede, além de outros mecanismos presentes de redes públicas, como Bitcoin e Ethereum.
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Já a Besu “é uma proposição da Hyperledger para criar uma rede compatível com Ethereum”, ressalta o especialista. Nessa plataforma, os desenvolvedores podem rodar um node e criar um aplicativo descentralizado (dApp) em uma rede pública compatível com Ethereum e só permitir que ele seja acessado por entidades com autorização, como é o caso do Banco Central.
“Também é possível subir um nó na Hyperledger Besu, colocar uma aplicação dApp e ir para uma rede pública mesmo”, explica Araújo.
Real Digital deverá ter rede própria
Segundo o especialista, para o projeto definitivo, Banco Central pretende criar uma própria rede, em cima da Hyperledger Besu, que será usada como infraestrutura básica. Não será uma plataforma de Camada Dois, mas sim uma rede de Camada Um do próprio BC.
“O Banco Central vai criar uma rede só dele, com os padrões dele, e ela vai ser permissionada. Isso significa que os nós terão que ser aprovados pelo BC. A tendência é que essa infraestrutura seja montada junto cos bancos, instituições financeiras e as instituições do governo”, afirma o diretor do MB.
O executivo explica que algumas exigências podem impedir o projeto de ir direto para uma rede pública, onde não exite necessidade de aprovação para participar: compliance e respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por exemplo.
Padrão ERC-20
Por fim, Araújo ainda informou que o Real Digital deve ser criado seguindo o protocolo ERC-20 da rede Ethereum. Trata-se do modelo utilizado para smart contracts e muito utilizado em diversos projetos DeFi.
“Já existem muitas wallets prontas para receber e enviar esse tipo de protocolo. Sendo Ethereum compatible, é muito mais fácil achar pessoas no mercado que trabalham com essa linguagem, do que outras programações não tão populares”, completa.
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