Imagem da matéria: Entenda como a “cultura do cancelamento” acontece no setor de criptomoedas
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Brantly Millegan não é um nome muito conhecido, nem mesmo entre usuários cripto. Sua conta no Twitter, com um avatar de token não fungível (ou NFT, na sigla em inglês), sutilmente destacou sua relativa anonimidade no setor. Ele é um desenvolver, e não um fundador ou CEO.

Mas, na semana passada, o diretor de operações do Ethereum Name Service (ou ENS) foi alvo de críticas por um tuíte que havia publicado em 2016: “Atos homossexuais são maléficos. O transgenerismo não existe. Aborto é assassinato. Métodos contraceptivos são uma perversão, assim como masturbação e pornografia”.

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Millegan chamou seus críticos de “gangue”, apesar de não estarem em posse de forquilhas ou chamas, e sim de respostas e retuítes revoltados.

Após defender suas afirmações, as quais ele atribuiu à sua crença católica, Millegan viu a organização sem fins lucrativos que financia o ENS encerrar sua contratação.

Uma dinâmica similar aconteceu nos últimos dias com Ashley Christenson, gestora de comunidade do mercado NFT SuperRare.

Christenson tuitou a letra de uma música de Kanye West que continha uma palavra de cunho racista (para pessoas não negras) em 2011 e, bem recentemente, acusou pessoas de não reconhecerem as contribuições de grupos marginalizados à Web 3.

Após a aparente contradição, destacada por usuários atentos do Twitter, Christenson pediu desculpas e se afastou para “refletir e aprender com meus erros”.

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Segundo uma publicação do SuperRare, que não mencionou o nome de Christensen, a empresa “se desvinculou com a pessoa envolvida”.

O conceito de “cancelamento” (pelo menos em sua utilização atual e pós-Direitos Civis) percorre a cultura popular.

De um lado, é um desenterramento fomentado por um grupo de pessoa que usa as opiniões de uma pessoa para expulsá-la de seu emprego, remover suas plataformas ou diminuir seu status cultural.

Por outro lado, está responsabilizando, de forma justa, pessoas por suas ações passadas. No entanto, grande parte das pessoas concorda que essa se tornou uma prática complicada de determinar o que deve ser considerado fora dos limites na sociedade atualmente.

Para alguns, é ser um nazista. Para outros, é tuitar letras de Kanye West com palavras ofensivas.

Embora muito tenha sido debatido sobre esse fenômeno, até recentemente, era um conceito desconhecido no setor de criptomoedas, graças ao pequeno tamanho da indústria, tendências libertárias e conforto na anonimidade.

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Cripto era mais provável de dar as boas-vindas a excluídos do que humilhá-los. Nesse pequeno setor, até os defensores mais públicos de políticas geralmente antiprogressistas foram tolerados (e até idolatrados) contanto que amassem o bitcoin (BTC) e não confiassem no governo.

Um exemplo é Nick Szabo, que algumas pessoas acreditam ser o inventor do Bitcoin Satoshi Nakamoto. Ele regularmente retuíta opiniões controversas sobre raça, covid-19 e transgenerismo.

Mas conforme a indústria amadureceu, naturalmente entrou em contato com o mundo fora do cripto.

O primeiro indício da mudança provavelmente foi a tentativa da Coinbase em se afastar da cultura política moderna.

Em uma publicação em setembro de 2020, o CEO Brian Armstrong, antecipando a futura eleição presidencial dos EUA (cujos resultados foram questionados pelo presidente Donald Trump), que foi alvo de “inquietação social, grandes protestos e rebeliões” e outros problemas antes de concluir que a empresa não iria se envolver com problemas “não relacionados à nossa missão principal” de criar um sistema financeiro que esteja disponível a todos.

Armstrong continua bem-resguardado em sua liderança da empresa agora listada em bolsa, mas seus comentários geraram críticas. Ele previu que funcionários poderiam se demitir e ofereceu a eles pacotes de rescisão.

E ele acertou: 60 funcionários, cerca de 5% de sua força de trabalho, aceitaram o pacote.

Um mercado de alta em 2021 (movido por auxílios, DeFi e NFTs) reformulou grande parte da conversa cultural sobre cripto por conta do preço. E, por um momento, tópicos mais “cabeça” ficaram de lado.

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Mas agora, conforme mais pessoas estão envolvidas com cripto do que nunca, o grupo está atraindo novas críticas dentro e fora do setor.

Externamente, os debates sobre esquemas fraudulentos de Ponzi e o impacto ambiental estão mais fortes do que nunca.

Na própria comunidade cripto, uma classe de pessoas que se acostumou a trabalhar de forma anônima (seja usando um pseudônimo ou não), graças à obscuridade da indústria, agora estão pensando bastante em suas ações.

Cooper Turley é um bom exemplo disso. Turley é um influenciador cripto de 20 e poucos anos que está bastante envolvido no setor de organizações autônomas descentralizadas (ou DAOs).

Por meio de sua identidade “Cooopahtroopa” no Twitter, ele espalha a palavra de organizações descentralizada e tuita chavões inspiradores. Quando adolescente, ele usava o mesmo nome de usuário para tuitar a palavra de cunho racista diversas vezes, algo pelo qual ele se desculpou.

Após seus tuítes ressurgirem, ele deixou suas posições de liderança em diversas DAOs.

Um comentário em resposta ao tuíte de Turley aconselha: “É só seguir anonimamente”, disse o usuário “BowTiedNightOwl”, cujo avatar é uma coruja em desenho. “Deixe as pessoas de cabelos azuis tentarem cancelar todos até que só sobrem uns aos outros.”

Por enquanto, diversas pessoas importantes desenvolvem produtos, lideram projetos e opinam sobre questões do dia por trás de seus avatares. No entanto, conforme a indústria se populariza, a anonimidade não será uma opção por muito tempo.

*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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