O estado do Texas, nos Estados Unidos, consolidou-se como a localidade mais atrativa para empreendimentos em blockchain e criptomoedas. As estratégias incluem um forte lobby político junto ao governo do estado, impostos baixos sobre mineração de criptomoedas, energia elétrica barata e infraestrutura favorável.
Cidades como Dallas e Austin, onde foi realizada a convenção “Consensus”, no início de junho, são as que mais se destacam. A seguir, analisaremos como esse cenário foi estruturado e o que ele representa no futuro das indústrias tech e blockchain.
O avanço da mineração de criptomoedas no Texas
É fato que criptomoedas não necessitam de uma localidade singular que sirva de base estável e definitiva. Essa tecnologia se tornou dinâmica, politicamente independente e praticável de qualquer lugar. O funcionamento das criptomoedas e blockchains, em si, é determinado pela distribuição, armazenamento e processamento de toda informação por meio de uma “rede de neurônios”, sem a necessidade de um “cérebro central”, como em corporações tech tradicionais.
Ainda assim, o estado do Texas começou a despontar como polo cripto após o banimento e o êxodo das mineradoras de criptomoedas para fora da China. As fazendas de Bitcoin/Ethereum passaram a buscar alternativas e muitas encontraram, no Texas, energia elétrica barata, infraestrutura adequada para suas instalações e uma política fiscal amistosa. Algumas se instalaram junto aos campos de petróleo texanos, enquanto outras fazem uso de antigas instalações eletricamente intensas de antigas beneficiadoras de alumínio, como as da cidade de Rockdale.
As atividades de mineração se expandiram ao longo do Texas desde 2021. Dados do órgão “Electric Reliability Council of Texas” apontam que, de todo o volume de consumo de energia elétrica para mineração de criptomoedas nos EUA, ao menos 40% vem do Texas.
O maior crescimento vem principalmente da região de Dallas-Fort Worth. A Blockmetrix, por exemplo, é uma startup de mineração de Dallas que já arrecadou US$ 50 milhões em investimentos desde julho de 2021. Já Fort Worth se tornou, em abril, a primeira cidade dos EUA a minerar Bitcoin. A prefeitura adquiriu três máquinas de mineração de Bitcoin, doadas pelo Conselho Blockchain do Texas, que agora funcionam em tempo integral nas dependências públicas municipais.
Esse evento simboliza e reforça, ainda mais, a postura proativa e amigável da comunidade local diante da indústria blockchain e do mercado cripto.
O desenvolvimento de tecnologia blockchain no Texas
No que se refere ao desenvolvimento de novas tecnologias e qualificação profissional em blockchain, inovação e cultivo de talentos, as cidades de Dallas e Austin saem na frente.
Leia Também
Dallas é um centro econômico blockchain, utilizado como matriz de instalação por muitas empresas e startups que trabalham nesse campo. Acredita-se que Dallas será, nos próximos anos, o foco norteando investimentos e a concentração de recursos dirigidos ao mercado blockchain.
Austin, por outro lado, é a cidade mais procurada pelos profissionais quando o assunto é desenvolvimento de aplicativos e programação em blockchain e criptomoedas. Tanto que, entre 9 e 12 de junho deste ano, essa cidade sediou a maior convenção tech de criptomoedas e blockchain do mundo, a Consensus. O evento, organizado pela Coindesk, havia sido feito apenas de forma virtual remota, em 2021, devido à pandemia do Covid-19.
A regulamentação de criptomoedas e blockchain no Texas
Nos Estados Unidos, os três estados que mais se destacam na regulamentação de cripto e blockchains são Texas, Wyoming e Oklahoma. Uma das maiores vantagens que o Texas possui, em relação a outras regiões dos EUA e do mundo, é uma legislação específica extremamente bem estabelecida e favorável.
Grande parte dessa responsabilidade se deve a um projeto sem fins lucrativos para lobby junto ao governo do estado, o Conselho Blockchain do Texas (TBC). Esse grupo foi formado com intenção de catapultar a economia cripto do estado e servir de liderança e exemplo para o restante do país.
A iniciativa foi dada em 2020, diante da visão competitiva de que o Vale do Silício poderia ser facilmente ultrapassado pelo polo Dallas-Fort Worth, caso este saísse na frente e tomasse para si o domínio sobre a tecnologia blockchain. Isso seria possível uma vez que a questão legislativa estivesse resolvida.
Hoje, o TBC conta com um escritório em Richardson, 90 membros corporativos e 450 membros individuais. Pode-se dizer que o grupo vem alcançando seus objetivos pré-estabelecidos em 2020.
Caso a Web3 venha a revolucionar a internet e desbancar as Big Techs através da tecnologia blockchain, é possível que ocorra um shift econômico entre Califórnia e Texas ao longo dos próximos anos ou décadas.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. Atua como Business Development Manager Brasil na Kucoin.