Tecnologia blockchain no mercado de seguros

Autor explica as principais implementações internacionais para o setor
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O modelo de negócios envolvendo contratos entre empresas seguradoras e segurados representa uma importante ferramenta econômica de gerenciamento de riscos. Ele já era utilizado desde o terceiro milênio A.C., pelos povos babilônios, chineses e indianos. Apesar de o mercado de seguros ser bastante conservador e tradicional, tendências modernas têm sido introduzidas no setor na forma de tecnologias de digitalização e automatização de operações. A mais promissora delas é a tecnologia Blockchain.

Blockchains

As blockchains já são bastante conhecidas por aqueles que se interessam pelo mundo cripto, pois elas compõem as bases computacionais que permitem o alto nível de segurança e descentralização desses sistemas. Funcionam como redes P2P, integrando nós (computadores) pela internet e mantendo inúmeras cópias idênticas de livros-razão públicos, onde se registram todas as transações e operações realizadas.

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Além de terem tornado possível a utilização de moedas 100% digitais e descentralizadas, como o Bitcoin, existem várias blockchains que permitem o registro e a execução automática de dados e scripts, chamados de contratos inteligentes (smart contracts).

A pioneira nesse assunto foi a blockchain Ethereum, que ainda é a líder no setor de desenvolvimento de dApps (aplicativos descentralizados). Contudo, várias outras plataformas para contratos inteligentes, tanto públicas quanto privadas, vêm conquistando mais espaço no mercado. Um dos interesses dos desenvolvedores do ramo é, justamente, trazer inovações para o setor de seguros e liderar este nicho de mercado.

Principais implementações internacionais

As principais entidades responsáveis pelo casamento entre a tecnologia blockchain e o mercado de seguros na atualidade, são a Rede IBM, a Enterprise Ethereum Alliance (EEA) e a Blockchain Initiative B3i.

O projeto da IBM é focado em soluções para automatizar o processo de subscrição e liquidação de sinistros. Um exemplo é o openIDL, uma rede na IBM Blockchain Platform em parceria com a Associação Americana de Serviços de Seguros (AAIS). A AAIS automatiza os relatórios de regulamentação de seguros e desburocratiza os requisitos de conformidade. Isso proporciona uma melhoria de eficiência e precisão, tanto para as seguradoras quanto para os departamentos de seguros estaduais.

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A Enterprise Ethereum foca no desenvolvimento de contratos inteligentes entre contas blockchain, para deixar as transações mais rápidas e seguras. Enterprise Ethereum refere-se a um apanhado de diretrizes e especificações técnicas para acelerar a adoção da tecnologia blockchain pelas empresas de todo o mundo. A aliança foi criada em 2017 e é composta por mais de 500 empresas globais — como a Marsh, uma das líderes no mercado internacional de seguros.

A Blockchain Initiative B3i (“Iniciativa Blockchain da Indústria de Seguros B3i”) foi fundada em 2016 e é composta por 40 entidades, dentre elas 21 corporações do mercado internacional de seguros. O foco da iniciativa está em aumentar a eficiência na troca de dados entre resseguradoras e seguradoras, diminuindo o alto custo administrativo e a demora na execução de atividades. Entre as startups que oferecem soluções no ramo, podemos citar a Fidentiax e a Lemonade.

A Fidentiax é um mercado de blockchain e contabilidade digital para negociação de apólices de seguro, lançado em 2018. A aplicação desenvolvida chama-se ISLEY, descrita pela Fidentiax como o “companheiro de seguros” dos consumidores. Ele permite aos usuários armazenar, visualizar e receber alertas de seus portfólios, que podem inclusive ser compartilhados com entes queridos (designados por meio da blockchain), ajudando no pagamento do beneficiário após a morte.

A Lemonade une tecnologia blockchain com inteligência artificial, oferecendo seguros — como seguro de locatários (fiança) e apólices de vida — a preços mais baixos. De acordo com a plataforma, o modelo de negócios absorve uma taxa fixa a cada pagamento mensal e aloca o restante para reivindicações futuras. Quando alguém faz um acionamento de seguro, os contratos inteligentes da blockchain verificam a veracidade do ocorrido imediatamente e de forma automática, simplificando o pagamento ao cliente.

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Vantagens e desvantagens associadas à implementação de blockchains

As iniciativas mencionadas acima procuram pôr fim aos principais obstáculos enfrentados hoje pela indústria de seguros, que estão relacionados à necessidade de intervenção humana direta em operações de rotina. Apólices são processadas em contratos de papel, clientes ligam por telefone para adquirir e fechar novas contratações, etc. Esses métodos-legados são vulneráveis à ocorrência de erros humanos, intencionais ou não. Nos EUA, a Coalizão Contra Fraude em Seguros notificou que as fraudes são responsáveis por 10% das perdas de seguros de propriedade e acidentes, um prejuízo de US$ 80 bilhões por ano.

Em contrapartida, a digitalização e a automatização proporcionadas pelos sistemas com livro-razão distribuído (blockchain) solucionam esses entraves. A aplicação direta pode ser feita nas seguintes linhas de negócios:

● registros de itens de alto valor e garantias;

● Procedimentos de “conheça seu cliente” (KYC) e “anti-lavagem de dinheiro” (AML);

● produtos paramétricos (baseados em índice);

● práticas de resseguro;

● execução de acionamento de seguro;

● métodos de distribuição;

● modelos ponto-a-ponto (P2P).

Mesmo assim, a implementação da tecnologia passa por alguns obstáculos. Além da substituição completa dos sistemas-legado, as empresas seguradoras precisam se adaptar às questões regulamentares e legais pertinentes, para que possam transicionar completamente.

A descentralização estimula o compartilhamento de informações e dados pessoais, e diminui as vantagens que a assimetria de informações pode oferecer. Esta questão é especialmente importante neste momento histórico, em que as leis de proteção de dados estão sendo estabelecidas e passam a vigorar nos principais países e polos econômicos mundiais.

Conclusão

A aplicação da tecnologia blockchain ao setor de seguros é promissora e tem o potencial necessário para solucionar problemas críticos da indústria. O principal obstáculo para esse salto está no alinhamento geral de padrões e processos, bem como no entendimento e adaptação a questões éticas, legais e regulamentares.

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Uma vez que esses obstáculos e necessidades de segurança tenham sido resolvidos, as startups e iniciativas de consórcios existentes deverão liderar o setor de seguros em uma transformação completa, para um ambiente blockchain digital, automatizado e mais eficiente.

Sobre o autor

Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. É fundador da empresa Growth.Lat e do projeto Growth Token.

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