*Atualização: Após a publicação da reportagem, Saint Clair enviou as respostas dos nossos questionamentos
“Seu ativo está parado, então você aluga ele para a gente”. Era com frases desse tipo que Saint Clair de Izidoro, Ceo da 3xbit, captava investidores para um contrato de leasing de criptomoedas. O esquema provocou um prejuízo em centenas de pessoas.
Numa dessas reuniões, um cliente resolveu fazer um vídeo, no qual fica clara a atuação do dono da empresa que conseguiu por meio desse contrato custodiar 1.193 bitcoins.
O vídeo foi gravado no final de 2018 numa sala que teria sido alugada no Paraná. Um investidor que preferiu não se identificar contou ao Portal do Bitcoin que essa reunião ocorreu numa pequena cidade chamada Apucarana, a qual fica há 1 hora de Londrina.
No passado, o empresário chegou a negar a existência tal produto. As imagens, contudo, comprovam que ele não só sabia, como também era um dos promotores.
“Na reunião estavam presentes cerca de 20 pessoas”, conforme mencionou o investidor. O vídeo foi gravado às escondidas, uma vez que Saint Clair não permitia o uso de celulares durante essas reuniões.
A tática de convencimento utilizada pelo empresário Saint Clair é daquelas em que a pessoa fica com receio de estar perdendo um grande negócio. Ele iniciou a palestra dizendo: “Leasing nada mais é que o aluguel de sua criptomoeda”.
Em seguida, mencionou que a pessoa, com a criptomoeda, tem a liberdade de fazer a custódia de seu próprio ativo, mas corre riscos:
“Quando eu falo de ônus e bônus é que você pode perder essa chave e ter um grande prejuízo, como você pode guardar e aproveitar a valorização. A gente pensou que tem pessoas que só compram para resguardar, daí pensamos no aluguel”.
Veja o vídeo abaixo:
O leasing da 3xbit
Nesse ponto, Saint Clair prosseguiu afirmando que o contrato mais antigo do mundo, o aluguel poderia trazer benefícios para a pessoa que está com as criptomoedas paradas. “Se seu Bitcoin está parado, você aluga ele para a nossa”.
A partir de então é que vem o ponto em que o dono da 3xbit mostra uma solução sem problemas. Ele afirma que como num contrato de aluguel de doze meses a pessoa pode desistir a qualquer momento sem qualquer custo.
“Todo mês daqueles 10 bitcoins que você tem aqui na sua carteira, você tem o rendimento do percentual da moeda”.
Após convencer a plateia de que o contrato parece um negócio da China, Saint Clair então menciona que os rendimentos serão pagos em Bitcoin e nunca em dinheiro fiat. A questão aqui é, e se houver uma desvalorização da criptomoeda? Como ninguém na plateia perguntou, ele também não comentou.
O investidor disse que não foi Saint Clair que alugou o espaço, mas sim os sócios da G2 Consultoria Investimentos: Diego Rissi e Marcelo Belinato. Eles atuavam como intermediários na negociação do leasing.
Tudo por intermediários
Nada era feito diretamente com a 3xBit, segundo revelou esse investidor que foi lesado em mais de 10 bitcoins. A plataforma contratava outras empresas para captar e intermediar as negociações e uma delas era G2 Consultoria.
O investidor falou que ao acessar o site da G2 com seu login e senha, consegue ver o saldo das criptomoedas e que, apesar de não ter feito o negócio diretamente com a 3xBit, consta lá o contrato com a plataforma de criptomoedas.
Ele afirmou que os chamados licenciados ou representantes credenciados, ou seja, as empresas intermediárias, recebiam uma porcentagem por cada contrato: “Era algo por volta de 10%”.
Contraponto
O pagamento pela recompensa por indicados se assemelha àqueles utilizados em empresas de marketing multinível. Mas a diferença, conforme disse o investidor, é que não existe o nome “recompensa binária” ou algo semelhante.
Não se sabe ao certo quem começou com toda essa história de leasing de criptomoedas. O investidor que chegou até a receber duas parcelas do aluguel, no entanto, afirmou que tudo teria começado numa aliança feita entre Otávio de Paula (COO da 3xbit), Marcelo Belinato e o Diego Rissi.
A 3xbit não possui mais canais de comunicação. A antiga assessoria de imprensa da empresa afirmou que não trabalha mais para o cliente.
Resposta de Saint Clair
Após a publicação da matéria, Saint Clair respondeu aos questionamentos enviados pelo Portal do Bitcoin. Ele negou que estivesse vendendo leasing no vídeo. Saint Clair contou que foi convidado para fazer uma palestra no âmbito técnico e que pediram para ele falar no final sobre o produto.
Saint Clair afirmou que a 3xbit estabelecia contratos com a empresas intermediarias como a G2. Mas que “o objetivo não era comercial e sim técnico, por isso tercerizamos”.
Ele explicou que o seu sócio, Octávio de Paula era quem acertava com essas empresas intermediárias como a G2:
“Os intermediários vieram de relacionamento prévio de meu sócio Octávio, eu até então não os conhecia, eles tinham relação jurídica no segmento de criptomoedas ou afins anterior a 3xbit, que também não tenho detalhes de quais sejam, mas não são sócios da empresa”.
Pouca fé no leasing
Ele mencionou ainda que a ideia do “leasing de bitcoin” foi de seu sócio, pois ele teria visto como uma saída jurídica tendo em vista que o Bitcoin não se tratava de um ativo financeiro.
Saint Clair declarou que “foi idealizada uma plataforma whitelabel para teste inicialmente para alcançar o objetivo futuro de entregar um produto como um leasing da Poloniex”.
Esse produto, segundo o Ceo da 3xbit, funcionaria como empréstimos entre os clientes e a corretora, a qual receberia fees. Ele contou que a ideia seria de “automatizar tecnicamente todo o processo e permitir que fosse feito apenas entre eles (clientes) dentro da corretora para alavancar as operações”.
Quanto ao vídeo, se defendeu afirmando que jamais fomentou esse produto.
” Fui convidado por um desses intermediários, ou representante comercial, inicialmente achei que era uma palestra educativa, mas na verdade o objetivo deles era fechar mais negócios para a plataforma”
Saint Clair disse que não acreditava no leasing a longo prazo “senão a forma automatizada que citei”. Ele , no entanto, afirmou que mesmo crendo que isso se encerraria, “não esperava que seria dessa forma como aconteceu”.
Apesar de não acreditar no projeto, conforme ele mesmo disse, “dava continuidade, pois não decidia sozinho como algumas pessoas pensam”.
Saint Clair lembrou que no vídeo falou “sobre a liberdade de ter seus próprios bitcoins em sua carteira e gerir ele” e no final da palestra teria lhe sido pedido para que falasse sobre a vertente do Leasing também.
“Usei pouquíssimo tempo no final para falar sobre o leasing e não havia autorizado a filmagem exatamente porque discordo do modelo que se perdurava esperava logo poder encerrar e honrar os contratos já vigentes para dar foco no que realmente acreditava, os produtos e disrupção que sempre construí”.