A Receita Federal dos Estados Unidos (IRS) está de olho no Bitcoin. E quando se trata de crime financeiro, há uma coisa que o órgão observa de perto: o Telegram.
De acordo com o IRS, os bate-papos secretos no Telegram — que preservam a privacidade e criptografam as mensagens dos usuários de ponta a ponta — são agora uma das coisas mais preocupantes para os encarregados da aplicação da lei.
Isso porque as exchanges P2P que operam no popular aplicativo de mensagens instantâneas podem rapidamente e facilmente transferir fundos sujos ou roubados, disse o agente especial da Unidade de Crimes Cibernéticos do IRS, Chris Janczewski, ao Decrypt.
Atualmente, o IRS está prestando muito mais atenção a crimes envolvendo criptomoedas – e ao mercado em geral. A administração do presidente Joe Biden revelou no mês passado um novo plano tributário que forçaria as empresas que realizam transferências de US$ 10.000 ou mais em criptomoedas a relatar esses negócios ao órgão
E na semana passada, o comissário do IRS, Charles Rettig, pediu autoridade explícita do Congresso para regular as criptomoedas e monitorar e coletar dados mais de perto. O Departamento do Tesouro dos EUA disse recentemente que “a criptomoeda já representa um problema de detecção significativo, pois facilita a atividade ilegal”.
Janczewski, que em 2018 ajudou a explodir um enorme site de pornografia infantil examinando transações de Bitcoin, disse que estava menos preocupado com a possível atividade ilegal em exchanges centralizadas ou até mesmo em protocolos de troca de moedas como o ShapeShift, que em 2018 foi o centro de uma investigação do Wall Street Journal sobre lavagem de dinheiro.
“Eu não acho, pessoalmente, que esses [tipos de corretoras] sejam uma ameaça tão grande quanto essas exchanges P2P – negociantes baseados na China que estão aninhados em outras exchanges”, disse. Ele acrescentou que muitas vezes existe uma “rede de pessoas que desejam converter criptomoedas em moeda fiduciária”.
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Esses grupos funcionam de forma muito semelhante a market places populares, como a LocalBitcoins.com, que anunciam listas de ofertas para comprar ou vender Bitcoins ou outros criptomoedas. Se parecer atraente, você simplesmente envia uma mensagem ao comprador/ vendedor e o negócio é fechado. E nenhum intermediário recebe uma parte, o que é o caso de exchanges como Coinbase, Kraken ou Binance.
Existem vários grupos como esses – formados por traders de mercado de balcão (OTC) – no Telegram. Muitos são secretos, mas se você souber onde procurar eles podem ser encontrados. A Decrypt encontrou ofertas para comprar criptomoedas no valor de US$ 150.000 em minutos no aplicativo. (É importante notar que os usuários que realizam negociações no aplicativo não são necessariamente criminosos – muitos apenas valorizam a privacidade ou estão em busca de bons negócios.)
Janczewski disse que, muitas vezes, os compradores estarão baseados na China ou em outros países com acesso a exchanges com regulações de ‘Conheça seu Cliente (KYC)’ mais relaxadas. Os fundos ilícitos podem então ser transferidos por meio de corretoras e convertidos em moedas fiduciários pouco a pouco – ou vice-versa.
“Eles geralmente terão acesso total ao sistema bancário”, disse ele. “Você pode mover US$ 100 milhões para o banco, mas eles não permitem que você troque US$ 100 milhões em uma corretora.”
Enormes quantias de dinheiro podem ser movimentadas. Janczewski fez referência a um caso no ano passado em que dois cidadãos chineses supostamente lavaram US$ 105,5 milhões em criptomoedas roubadas para o governo norte-coreano. Os fundos foram supostamente desembolsados para contas bancárias chinesas e cartões-presente do iTunes; eles também fizeram uso de pelo menos uma corretora com sede nos Estados Unidos.
Ironicamente, os criminosos que costumam lidar com Bitcoin podem acabar tendo mais problemas. Isso ocorre porque o BTC, ao contrário da crença popular, é uma rede de criptomoeda transparente e as transações são relativamente simples de rastrear na blockchain. Isso torna a atividade criminosa associada ao BTC fácil de ser seguida pelas autoridades policiais, como destacado recentemente pelo The New York Times.
*Traduzido e editado com autorização da Decrypt.co