Imagem da matéria: Quais os sinais de que o preço do Bitcoin já encontrou o fundo, segundo a Glassnode
Foto: Shutterstock

O preço do Bitcoin (BTC) continuou a se consolidar próximo dos US$ 20 mil na última semana conforme o mercado lidou com a volatilidade extrema de junho. Os preços subiram, começando em uma baixa semanal de US$ 18.971 e chegando a um auge de US$ 22.230.

À medida que o preço do BTC caiu em mais de 75% desde o recorde, até mesmo os holders mais “pulso firme” e antigos de bitcoin estão sentindo a pressão. Tanto holders a longo prazo como mineradores são o foco dessa semana conforme o mercado tenta encontrar um fundo em meio à persistente incerteza macroeconômica.

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Nesta edição, a Glassnode quer extrair e identificar características-chave que historicamente descreveram a formação dos preços mínimos em ciclos de baixa do bitcoin. É um período em que vendas forçadas acontecem, a exaustão por vendedores é atingida e a pressão de baixa começa a enfraquecer. Iremos explorar isso de inúmeros ângulos que variam de:

– uma descarga final de até mesmo as maiores “mãos de diamante”, criando uma exaustão entre vendedores;

– a redistribuição de riquezas por holders de baixa e alta convicção na criptomoeda;

– uma recuperação de demanda tanto por entidades pequenas como por grandes;

– uma capitulação do grupo de mineradores que parece estar a caminho.  

Preço do bitcoin na vigésima oitava semana do ano (Imagem: Glassnode)

Redistribuição de riquezas

O atual mercado de baixa possui diversas similaridades com o fim de 2018 em termos de estrutura de mercado, que podem ser visualizados na métrica de queda desde o preço recorde. As descrições a seguir comparam o atual mercado de baixa de 2022 com o mercado de baixa de 2018:

Entre dezembro de 2017 e março de 2019, a queda do auge parabólico de 2017 se estendeu por quase 15 meses, resultando em uma queda de 85% da alta recorde. A faixa de US$ 6 mil pode ser considerada como o nível base de ruptura antes da capitulação final (desistência de ganhos pela venda de posições em épocas de queda), em que mais 50% de capital foi removido do mercado durante o período de um mês.

Entre novembro de 2021 e julho de 2022, o atual mercado de baixa passa por uma queda de 75% desde o preço recorde, em que o preço mínimo de US$ 29 mil atua como um nível similar de ruptura. A capitulação mais recente em junho fez o preço despencar 40% para apenas US$ 17,6 mil em apenas duas semanas.

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Queda no preço desde a alta recorde do bitcoin (Imagem: Glassnode)

Um dos principais resultados de um longo mercado de baixa é a redistribuição de riqueza entre os stakeholders que restaram. Essa progressiva mudança de bitcoin de mãos pode ser analisada pelo rastreio da métrica URPD — distribuição de preço realizado de transações não gastas (UTXO) em bitcoin.

Conforme destacado anteriormente, ciclos de baixa anteriores têm duas fases distintas:

Após a alta recorde: Onde investidores e especuladores a curto prazo (com baixa convicção) gradualmente aceitam a realidade do mercado de baixa e saem durante uma tendência de desvalorização de preço. Além disso, alguns participantes tentam negociar contra a tendência de mercado, resultando em múltiplos ralis temporários de alívio (como o “pulo do gato morto”, em que preços sobem rapidamente durante um ciclo de queda antes de continuarem caindo).

A fase de descoberta de fundos: A diminuição da rentabilidade e um período extenso de resultados de dor financeira na queda de nova demanda criam condições favoráveis para uma capitulação final.

Primeiro, será analisado o mercado de baixa entre dezembro de 2017 e março de 2019. Note como o preço atua como um ímã, primeiro atraindo a oferta dos principais compradores próximo aos US$ 6 mil e, depois, uma enorme redistribuição acontece após a capitulação na faixa entre US$ 3 mil e US$ 4 mil. Isso descreve um ciclo de capitulação em duas partes e uma possível formação de fundos.

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Distribuição de preço realizado de transações não gastas (UTXO) em bitcoin (URPD) entre dezembro de 2017 e março de 2019 (Imagem: Glassnode)

No atual mercado de baixa de 2022, existe uma estrutura similar até agora após o preço recorde de novembro de 2021. É possível ver um padrão parecido de redistribuição próximo ao preço mínimo de US$ 30 mil, originalmente definido entre maio e julho de 2021.

Entre maio e junho de 2022, foi possível ver o preço cair próximo dos US$ 20 mil, o que se tornou um ponto desencadeador tanto para a capitulação de investidores como para novos compradores, além de ser um nó para moedas sendo negociadas.

Distribuição de preço realizado de transações não gastas (UTXO) em bitcoin (URPD) entre novembro de 2021 e julho de 2022 (Imagem: Glassnode)

Capitulação pelos mãos de diamante

Com a perda do nível de preço de US$ 30 mil, mineradores e holders a longo prazo estão sob pressão. Para demonstrar a contínua capitulação por holders de longo prazo entre 2021 e 2022, podemos monitorar sua rentabilidade em ambos os frontes: seu prejuízo atualizado (gastos) e prejuízo não realizado (moedas armazenadas abaixo da base de custo).

A proporção de lucro em transações gastas por holders a longo prazo (ou LTH-SOPR) é uma métrica que indica a proporção de lucro obtida por holders a longo prazo (um valor de 2,0 indica que esses holders estão gastando moedas a um preço que equivale ao dobro de sua base de custo). Assim, quando o LTH-SOPR é inferior a 1, esses participantes têm prejuízo ou gastam moedas a um preço abaixo de sua base de custo.

O SOPR está em 0,67, indicando que o holder a longo prazo está gastando suas moedas a um prejuízo de 33%.

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Lucro (SOPR) por holders a longo prazo de bitcoin (média móvel de 30 dias) (Imagem: Glassnode)

A base de custo por holders a longo prazo estima o preço médio que holders a longo prazo pagam por suas moedas. Além disso, conforme a avaliação de mercado cai abaixo da base de custo de holders a longo prazo, pode-se dizer que esse grupo está em um prejuízo agregado. De forma parecida, holders a longo prazo estão com patrimônio líquido negativo em média, possuindo um prejuízo não realizado de -14%.

Proporção de valor de mercado/valor realizado (ou MVRV) de bitcoin (Imagem: Glassnode)

O gráfico abaixo combina esses conceitos e mostra intervalos que satisfazem ambas as condições (cor verde). Esses momentos são quando holders a longo prazo estão com seu patrimônio líquido negativo por estarem armazenando moedas e registram prejuízos com base em seus gastos. No total, indica que existe uma crescente probabilidade de acontecer uma capitulação por holders a longo prazo.

Com o atual valor do SOPR por holders a longo prazo em 0,67 e a atual base de custo por holders a longo prazo em US$ 22,3 mil, significa que holders a longo prazo estão realizando prejuízos a uma média de -33% por cada moeda gasta, apesar de preços “spot” (ou à vista) estarem apenas 6% abaixo de sua base de custo.

Isso significa que holders a longo prazo que adquiriram moedas a preços bem mais altos são os participantes que mais estão gastando neste momento — e aqueles que ainda armazenam moedas do ciclo entre 2017 e 2020 (ou até mesmo antes) estão aguentando firme.

Rastreio de capitulação por holders a longo prazo (Imagem: Glassnode)

A transferência de prejuízo

Uma consequência dos eventos de capitulação é uma redistribuição imediata de moedas para novos compradores, que são geralmente classificados como holders a curto prazo. No entanto, ao longo do tempo, a dominância de holders a longo prazo entre o fornecimento tende a aumentar à medida que especuladores interesseiros são expulsos do mercado.

A formação de fundos geralmente é acompanhada por holders a longo prazo que lidam com uma proporção cada vez maior de prejuízo não realizado. Em outras palavras, para que um mercado de baixa atinja um preço mínimo final, a participação de moedas mantidas em prejuízo deve ser transferida primeiramente para aqueles que não se abalam tanto com o preço e que têm mais “pulso firme”.

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Isso é consequência de dois mecanismos:

– A saída de entidades com menos convicção (holders a curto prazo);

– A transferência gradual de moedas a entidades com forte convicção que são relativamente indiferentes ao preço (holders a longo prazo).

Nas profundezas dos mercados de baixa anteriores, a proporção de fornecimento armazenada por holders a longo prazo e em prejuízo chegou acima de 34%.

Enquanto isso, a proporção armazenada por holders a curto prazo caiu de apenas 3% para 4% do fornecimento. Neste momento, holders a curto prazo ainda armazenam 16,2% da oferta em prejuízo, sugerindo que moedas recém-redistribuídas agora devem passar pelo processo de amadurecimento nas mãos de holders “mãos de diamante”.

Isso indica que, embora existam muitos sinais de formação de fundos, o mercado ainda precisa de um elemento de desconforto referente à duração e ao tempo para definir um fundo resiliente. Investidores de bitcoin ainda não estão fora de perigo.

Oferta em lucro/prejuízo por holders a curto/longo prazo de bitcoin (média móvel de sete dias) (Imagem: Glassnode)

A recuperação da demanda

Um componente comum dos ciclos anteriores de mercado é a expulsão dos “turistas do mercado”. Uma observação feita foi o crescimento notável do saldo por camarões e baleias.

Na sequência, é apresentado um novo indicador que visa rastrear a atividade relativa “on-chain” (verificando movimentações registradas na própria blockchain) por pequenas e enormes entidades (indicador originalmente criado por CryptoVizArt).

Considerando os dados históricos das transações da rede Bitcoin, o valor médio do volume diário de transferências é maior do que o valor mediano. Isso é resultado de haver uma quantidade maior de transações de pequeno valor e uma quantidade menor de transações de alto valor.

É possível visualizar a disparidade consistente entre o tamanho das transações em dólar da média 🔴 e da mediana 🔵 ao longo do histórico do Bitcoin. Portanto, a distribuição do valor de transações “on-chain” do Bitcoin demonstra uma assimetria positiva.

Assimetria é o grau de obliquidade observada em uma distribuição. A assimetria positiva acontece quando a média é maior que a mediana. Isso indica que existe um número maior de transações de pequeno valor do que transações de alto valor.

Mediana e média ajustada por variações no volume de transações da rede Bitcoin (Imagem: Glassnode)

Essa observação pode ser usada para desenvolver uma estrutura macro para avaliar um nível comparativo de atividade e a demanda por pequenas e enormes entidades. Os osciladores abaixo foram criados ao calcular a proporção entre os volumes de transação em dólares da média móvel de sete dias e da média móvel de 365 dias da mediana (pequenas entidades 🔵) e média (enormes entidades 🔴).

Quando pequenas entidades 🔵 excedem as enormes entidades 🔴, isso geralmente sugere um fluxo de pequenas transações e está associado à empolgação dos mercados de alta e da crescente especulação.

Quando os indicadores estão subindo, pode ser um sinal de maior demanda desse grupo de entidades.

Quando os indicadores estão diminuindo, pode ser considerado como um sinal de baixa demanda desse grupo de entidades.

O que pode ser observado no atual ciclo de mercado é que a curva vermelha foi sempre negociada acima da curva azul. Isso indica que a atividade de enormes entidades (provavelmente, instituições) foi drasticamente mais alta que a do varejo, tanto ao longo do ciclo de alta como mais recentemente, durante os eventos de capitulação.

Além disso, é possível notar que entidades menores continuam bem ativas em relação a mercados de baixa anteriores, mas ainda não houve uma reversão de baixa ou recuperação. É uma característica a observar para a expansão da demanda de ambos os grupos de entidades.

A principal conclusão dessa métrica é que, embora a atividade esteja em território de formação de baixa, como a conclusão acima, ainda não se reverteu ao modo de recuperação.

Atividade relativa com bitcoin por pequenas e enormes entidades (Imagem: Glassnode)

Capitulação por mineradores

Por fim, a atenção está no grupo de mineradores, que tendem a ser uma fonte influente de pressão de venda durante os estágios finais de mercados de baixa. É resultado da natureza cíclica de sua receita e o atual mercado de baixa não é uma exceção dessa tendência.

Para rastrear se está acontecendo uma capitulação por mineradores, é possível consultar um modelo de duas partes, que busca a convergência entre o estresse de renda implícito (múltiplo de Puell) e a queda observada na “hashrate” (compressão do “ribbon” de dificuldade).

– O múltiplo de Puell 🟠 rastreia a renda total em dólar por mineradores em relação à média de um ano. É possível notar que, atualmente, mineradores de bitcoin estão ganhando apenas 49% do que a média anual. Isso sugere que o estresse de receita é um fator provável.

– A compressão do “ribbon” de dificuldade 🟣 sinaliza que o hashrate (velocidade de processamento de dados em uma blockchain) está caindo, fazendo com que a dificuldade do protocolo também caia de forma significativa e estatística. É uma observação explícita de que ASICs estão sendo desligadas por conta do estresse de receita.

– O risco de capitulação por mineradores 🟡 destaca períodos em que ambas as métricas sinalizaram baixas significativas e geralmente se correlacionaram com extremas baixas de bear market e um risco elevado de ocorrerem eventos de capitulação por mineradores.

Rastreio da capitulação por mineradores de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Após a confirmação de que o risco da capitulação por mineradores é um fator, é possível afirmar que os saldos totais de mineradores passaram por uma distribuição de até 4,47 mil BTC por mês. Essa tendência começou principalmente após o colapso do projeto LUNA/UST.

O estresse de renda desses mineradores resultou em uma distribuição total de 7,9 mil BTC de seus caixas durante um período de mais de dois meses. Dito isso, mineradores desaceleraram seus gastos recentes e, neste momento, estão distribuindo de seus caixas armazenados a uma taxa de 1,35 mil BTC por mês.

A duração da capitulação por mineradores no mercado de baixa entre 2018 e 2019 durou cerca de quatro meses e o atual ciclo começou há apenas um mês. Atualmente, mineradores armazenam cerca de 66,9 mil BTC em suas reservas e, por isso, o próximo trimestre poderá passar por ainda mais distribuições a menos que o preço da criptomoeda se recupere de forma significativa.

Variação de posição líquida por mineradores de bitcoin (excluindo Patoshi & outros mineradores) (Imagem: Glassnode)

Conclusões

A atual estrutura de mercado possui muitas características no estágio final de um mercado de baixa, onde os grupos “mãos de diamante” (holders a longo prazo e mineradores) estão sob incrível pressão para se render.

O volume de oferta em prejuízo agora atingiu 44,7%, e a maioria está sendo mantida pelo grupo de holders a longo prazo. No entanto, continua sendo um grau menos severo em comparação a ciclos de baixa anteriores.

Também foi apresentado um novo indicador que rastreia o nível de atividade de pequenas e enormes entidades como uma ferramenta para mapear a recuperação de mercado. Isso fomenta a observação de que o mercado ainda está em baixa, mas ainda não formou um fundo definitivo — que ainda está por vir.

Ao todo, o vestígio de uma ampla capitulação e do extremo estresse financeiro certamente existe. Contudo, ainda pode haver uma combinação de desconforto referente ao tempo de dor (à duração) e, talvez, ainda mais risco de queda para testar completamente a convicção de investidores e permitir que o mercado defina um fundo resiliente.

Sobre o autor

Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.

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