Em 2024, a América Latina viveu uma virada silenciosa, mas poderosa, no setor de criptoativos. De um cenário de incerteza regulatória e desconfiança institucional, a região passou a experimentar um avanço acelerado de projetos voltados à adoção de ativos digitais. Esse movimento, que mistura pragmatismo e ousadia, prepara o terreno para que 2025 seja um dos anos mais decisivos da história do cripto na região.
No Brasil, o protagonismo é institucional. O Banco Central lidera a implementação do Drex, a moeda digital brasileira que promete integrar o sistema financeiro com soluções blockchain. Com apoio maciço de bancos, fintechs e gigantes da tecnologia, o Drex não é apenas uma inovação monetária — é um exemplo de como o setor público pode puxar a fila da transformação digital.
A Argentina, por sua vez, avança com uma solução mais orgânica. A população já adotou as stablecoins como proteção contra a inflação e a volatilidade cambial. Agora, o governo busca formalizar esse uso, criando regras para stablecoins reguladas. Uma forma de dolarizar a economia sem abrir mão do controle político e fiscal — e, ao mesmo tempo, promover uma digitalização financeira mais segura.
Na Colômbia, os bancos começam a testar o terreno. O lançamento da Wenia pelo grupo Bancolombia mostra que o interesse institucional existe, ainda que a regulamentação local não esteja madura. Ao operar de fora para dentro, o banco avalia tanto a receptividade dos consumidores quanto o apetite do regulador, traçando um caminho cauteloso e inovador.
O México vive um dilema semelhante: há interesse, mas também receio regulatório. A solução pode vir por meio de estruturas criativas, como subsidiárias internacionais ou parcerias com fintechs.
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Já a Bolívia, ao suspender a proibição do cripto em 2024, entrou rapidamente no jogo. O banco Bisa deu o pontapé inicial, e outros devem seguir em breve.
Por fim, El Salvador segue como laboratório regional. Apesar dos desafios na adoção do Bitcoin como moeda corrente, o país se consolida como um hub de tokenização e inovação em blockchain. A decisão da Tether de transferir sua sede para lá reforça essa estratégia. O investimento em educação digital nas escolas pode gerar, no médio prazo, uma nova geração de cidadãos fluentes em criptoeconomia.
Apesar das diferenças culturais, políticas e econômicas entre esses países, um ponto em comum une todos eles: a busca por soluções financeiras mais eficientes, inclusivas e resilientes diante de contextos históricos de instabilidade.
Sejam impulsionados por governos, bancos ou pela própria população, os esforços giram em torno de um mesmo objetivo — integrar a América Latina, de forma criativa e digital, à nova economia global. Em 2025, o cripto deixa de ser promessa para se tornar ferramenta concreta de transformação.
Sobre o autor
Luis Ayala é diretor da BItGo para a América Latina.