Por dentro dos diários de Caroline Ellison, a ex-executiva que virou peça-chave no julgamento do criador da FTX

Em documentos vazados, Ellison desabafa sobre seus problemas no comando da Alameda Research e seu conturbado relacionamento amoroso com Sam Bankman-Fried
Caroline Ellison ex-CEO da Alameda Research

Caroline Ellison, a ex-CEO da Alameda Research (Foto: Reprodução/Twitter)

Caroline Ellison, ex-CEO da Alameda Research, braço de trading da falida corretora de criptomoedas FTX, teve uma série de arquivos de seu Google Docs vazados em meio ao processo que tramita contra a FTX na justiça norte-americana.

Ellison, que também teve uma relação amorosa com o criador da empresa, Sam Bankman-Fried (SBF), durante o período em que eram parceiros de negócios, desabafa sobre seus problemas nos documentos online que usava como espécie de diário.

Publicidade

Trechos dessas mensagens que circularam entre os advogados envolvidos no caso foram divulgados em uma reportagem do The New York Times desta quinta-feira (20). Os textos mostram o estresse pelo qual a empresária passou em frente à Alameda Research, meses antes de todo o esquema desabar e da revelação de que o império da FTX sumiu com mais de US$ 8 bilhões em criptomoedas dos clientes.

“Tenho me sentido muito infeliz e sobrecarregada com meu trabalho”, escreveu Ellison em um documento do Google de fevereiro de 2022. “No final do dia, mal posso esperar para ir para casa, desligar o telefone, tomar um drink e ficar longe de tudo.”

Em outro documento, ela escreve sobre sua insegurança como líder e sua sensação de inaptidão para administrar a Alameda. “Liderar a Alameda não parece algo em que eu tenha uma vantagem comparativa ou seja adequada para fazer”, escreveu ela.

SBF queria fechar a Alameda

Em paralelo a esses sentimentos, Ellison também precisava lidar com o afastamento de Sam Bankman-Fried da Alameda, empresa que ele criou em 2017 após deixar a Jane Street, firma de trade quantitativo em que trabalhou após a faculdade. 

Publicidade

Foi na Jane Street que Sam conheceu Carol, e a convidou para trabalhar como trader na Alameda. Em 2021, ela se tornou co-CEO da Alameda junto com Sam Trabucco.

Segundo os registros judiciais vistos pelo The New York Times, Sam havia perdido fé na Alameda no outono passado, e considerou fechar a empresa. Na época, ele investiu mais de US$ 400 milhões na Modulo Capital, que era comandada por outra ex-trader da Jane Street, com quem ele também tinha namorado no passado.

Nos seus diários, Ellison demonstrou ressentimento em relação a Modulo, dizendo que estava se sentindo “espremida” pela falta de apoio de Bankman-Fried.

Quando a FTX e a Alameda colapsaram em novembro passado, Ellison enviou a seguinte mensagem para SBF: “Eu tinha um medo crescente deste dia que estava pesando sobre mim. Agora que está realmente acontecendo, é ótimo acabar logo com isso.”

Publicidade

Assim como os outros executivos da FTX, Ellison também é alvo de investigação da justiça americana. Em uma audiência de dezembro de 2022, ela se declarou culpada das acusações de fraude e concordou em cooperar com os promotores federais que investigavam seu ex-namorado. Na ocasião, ela disse “lamentar muito” por ter cometido fraude, admitindo: “Eu sei que foi errado”. 

Ellison será uma testemunha-chave no julgamento criminal de Bankman-Fried, marcado para acontecer em 2 de outubro.

Relação conturbada com SBF

O relacionamento entre Caroline Ellison e Sam Bankman-Fried foi conturbado. Além das idas e vindas, o fato de trabalharem juntos só tornava a situação mais complicada. Os diários de Ellison mostram como a situação tensa com SBF lhe causava estresse e prejudicava seu trabalho.

Em um documento do Google de abril de 2022, Ellison escreveu que um rompimento anterior com SBF “diminuiu significativamente minha empolgação com a Alameda”. Para ela, a vida na Alameda “parecia muito associada a você [SBF] de uma forma que era dolorosa”.

Ela também conta que não queria “tornar as coisas estranhas” e “causar drama” por sua relação com Bankman-Fried.

Ellison, no entanto, se preocupava com a visão que SBF tinha dela e temia que ele não a achasse boa o suficiente. Ela escreve que, quando ele estava por perto, tinha “um instinto de encolher, se tornar menor, mais silenciosa e se submeter aos outros”.

Durante uma separação em abril de 2022, ela parou de falar com Bankman-Fried. “Não lhe dar o contato que você [SBF] queria parecia a única maneira de recuperar a sensação de poder”, escreveu ela na época.

Publicidade

De acordo com documentos judiciais vistos pelo The New York Times, Ellison ainda recebeu menos dinheiro por seu trabalho em comparação com os outros líderes homens que trabalhavam no grupo.

Os fundadores da FTX e outros funcionários importantes receberam US$ 3,2 bilhões em pagamentos e empréstimos. Desse total, US$ 6 milhões foram para Ellison, em comparação com US$ 587 milhões que foram para Nishad Singh, chefe de engenharia da FTX, e US$ 246 milhões para Gary Wang, um dos fundadores. Sozinho, Bankman-Fried recebeu US$ 2,2 bilhões em pagamentos da FTX.