É comum a suposição de que a invenção da tecnologia blockchain e das criptomoedas seja fruto da publicação do white paper Bitcoin de Satoshi Nakamoto em 2008 e do lançamento do software Bitcoin.
É evidente que o desenvolvimento do Bitcoin foi uma peça importante para a tecnologia blockchain, bem como para as criptomoedas, e abriu caminho para avanços na computação ponto a ponto (P2P).
No entanto, como é comum em trabalhos de engenhosidade, o Bitcoin foi um avanço de um trabalho que havia sido iniciado já há algum tempo, mas que permanecia ainda despercebido pelas massas. Ou seja, a computação distribuída não começou em 2008.
Em vez disso, os vários conceitos que agora estão sendo empregados na tecnologia blockchain são resultado de pesquisa realizada na década de 90.
Como a tecnologia Blockchain e as criptomoedas foram criadas
A invenção da blockchain pode ser atribuída a Stuart Haber e Scott W. Stornetta. Eles publicaram uma dissertação acadêmica em 1991 que continha o conceito principal por trás da vinculação criptográfica de blocos em uma configuração append only.
Tal configuração é descrita como aquela em que somente é possível acrescentar informações, não sendo permitido eliminar dados do sistema. Isso ocorreu 17 anos antes do whitepaper de Satoshi Nakamoto.
O trabalho de Haber e Stornetta focou no quesito de registro de data e hora de documentos, algo essencial para a tecnologia blockchain até os dias de hoje. Além disso, o trabalho deles sugeriu o cálculo dos valores de hash dos documentos e seu armazenamento com um carimbo de data/hora.
Os registros são conectados uns aos outros através da incorporação de
hashes de certificados de registros anteriores. Além da utilização de hashes para autenticar a veracidade das informações, o protocolo
de registro de data e hora também emprega assinaturas de chave privada para marcar os dados enviados ao sistema.
Parece com algo que você já ouviu falar antes? Sim. É exatamente assim que o Bitcoin e os projetos subsequentes baseados na tecnologia blockchain validam transações e adicionam registros à cadeia.
‘Acordo descentralizado’
Embora Haber e Stornetta focaram na ideia de um ‘servidor de carimbo de data/hora’, seu trabalho também compreende uma espécie de acordo descentralizado.
O conceito desenvolvido pelos autores afirmava que qualquer pessoa que enviasse dados para o sistema poderia solicitar aos participantes a autenticação e assinatura dessa inscrição.
Semelhante ao Bitcoin, um grupo de verificadores deve colaborar juntos para a fabricação desse “livro-registro”. Dito isso, é vital destacar que Satoshi Nakamoto não “roubou” o conceito. Na verdade
Haber e Stornetta são citados três vezes no whitepaper de Nakamoto.
A habilidade de Satoshi Nakamoto vem do fato de conhecer os trabalhos pré-existentes da área e conseguir refinar e aperfeiçoar estes conceitos, segundo um modelo prático e inovador.
Gastos duplos eram o desafio
O Bitcoin e as criptomoedas em geral trazem uma camada de incentivo extra e um consenso de Prova de Trabalho para a configuração dos dados da blockchain.
Essas melhorias tornaram essa tecnologia realmente descentralizada, além de resolver o problema dos gastos duplos que provou ser um desafio no conceito de Haber e Stornetta.
Como resultado, várias criptomoedas e projetos surgiram ao longo dos anos desde a publicação de Nakamoto.
Quem controla o sistema Blockchain e as criptomoedas?
Essencialmente, os sistemas blockchain têm como finalidade a promoção de princípios como acesso aberto e uso sem permissão. Para se proteger contra a politização e a interferência estatutária, esses sistemas empregam uma configuração descentralizada que não pode ser supervisionada por uma entidade ou grupo controlador.
Diferentemente da supervisão política, a governança de blockchain não é realizada pela comunidade. Em vez disso, sua governança é externa e está codificada nas regras e nos procedimentos embutidos no design de rede original.
Por esse motivo, para participar de uma comunidade blockchain é necessário atender os regulamentos do sistema, como eles foram
criados originalmente.
Nas transações de blockchain não é necessário confiar que seu colega irá honrar sua parte da barganha ou registrar informações transacionais com precisão, porque esses procedimentos
são automatizados e garantidos pelo sistema.
No entanto, é importante observar que você precisa confiar que o código e a rede funcionarão conforme o esperado.
A proposta de valor das criptomoedas
Caracteristicamente, as moedas digitais dependem da tecnologia criptográfica responsável pela criação, autenticação e facilitação de transações entre duas ou mais entidades.
As transações que envolvem criptomoedas geralmente são capturadas em um livro registro público transparente e distribuído, comumente referido como tecnologia blockchain.
Desde a publicação do white paper Bitcoin de Satoshi Nakamoto, as criptomoedas ganharam fama por serem moedas alternativas que podem complementar, se não, substituir os modernos sistemas de pagamento fiduciário.
A atenção crescente dada às criptomoedas criou um cenário em que essas moedas digitais passaram a atrair significativo capital de risco, o que, por sua vez, está impulsionando sua capitalização de mercado.
O Bitcoin, por exemplo, ganhou um impulso importante desde a sua criação e tem hoje um valor de capitalização de mercado de cerca de 4 bilhões de dólares. Independentemente de sua volatilidade de preços, essa rede deu origem a várias startups e atraiu investimentos relevantes de capitalistas de risco.
Qual é a proposta de valor das criptomoedas? A proposição de valor das criptomoedas provém de sua rede aberta, descentralizada e ponto a ponto. Basicamente, as redes de criptomoedas prometem benefícios consideráveis de eficiência, como taxas de transação reduzidas.
Além disso, o atributo transparente e agnóstico das criptomoedas fornece recursos que podem facilitar o desenvolvimento de inovações autônomas e independentes.
As criptomoedas também oferecem inúmeras perspectivas empresariais, pois as empresas focadas em moedas digitais estão incorporadas em um ambiente de inovação distribuído e interligado.
Essa provisão de um ecossistema que suporte modelos orquestrados de negócios on-line representa mais uma proposta de valor essencial de criptomoedas.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Desde janeiro de 2019, atua na empresa de criptomoedas Changelly como gerente-geral para a América Latina