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Uma proposta para remover os limites de dados do OP_RETURN, uma função na rede do Bitcoin que permite a inscrição de mensagens nas transações, dividiu a comunidade da maior criptomoeda do mercado. A mudança permitiria armazenar conteúdos maiores, como textos e imagens, indo além do uso tradicional da rede.

Defensores, como o desenvolvedor Peter Todd, afirmam que os limites atuais são ineficazes e já são contornados por meios técnicos. Eles veem a proposta como um avanço para tornar o Bitcoin mais programável. Já os críticos alertam para o risco de congestionar a rede, elevar taxas e desviar o Bitcoin de seu propósito original.

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A proposta ganhou destaque após uma nova solicitação de Pull Request (PR) – termo técnico para alterações propostas no código-fonte – no mês passado no Bitcoin Core, intensificando o debate entre desenvolvedores.

O que é OP_RETURN do Bitcoin

Diante desse cenário, o desenvolvedor brasileiro Bruno Garcia, colaborador do Bitcoin Core, compartilhou sua visão sobre os impactos da possível mudança.

“Digamos que o OP_RETURN seja uma das possibilidades de colocar dados arbitrários na blockchain do Bitcoin, entretanto, há um limite”, explica Bruno. “A discussão está sobre manter ou retirar de vez esse limite no Bitcoin Core.”

Segundo o desenvolvedor, o limite atual de 80 bytes não impede de fato o uso da rede para inscrições maiores, já que não se trata de uma regra de consenso, mas de uma política adotada pelos nodes. Isso significa que, mesmo que a maioria da rede rejeite uma transação com OP_RETURN maior, um minerador ainda pode incluí-la diretamente em um bloco.

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“Mesmo os nós tendo esse limite, eu poderia mandar a transação com o OP_RETURN de tamanho maior diretamente para o minerador e ele pode incluir no bloco minha transação. Como tem acontecido.”

O objetivo da proposta, de acordo com Garcia, é promover um alinhamento entre os participantes da rede, especialmente no que diz respeito às mempools – os locais onde as transações aguardam para serem incluídas em blocos. Ele destaca que essa uniformidade é essencial para manter a eficiência da rede.

“Ter as mempools alinhadas é importante por diversos fatores. Eficiência dos blocos compactos, estimar taxas, etc.”

“Uma mudança bem contenciosa”

Em um episódio recente do podcast da Vinteum, organização sem fins lucrativos dedicada a impulsionar o desenvolvimento do Bitcoin, o tema foi abordado por Bruno Garcia, Davidson Souza e Lucas Ferreira, cofundador e diretor executivo da entidade. Ferreira classificou a proposta como “uma mudança bem contenciosa”, que desencadeou um grande debate dentro da comunidade técnica.

“Basicamente, o lado que está defendendo o fim desse limite tem argumentos baseados na questão da propagação de blocos e no crescimento do UTXO set”, explicou Ferreira, referindo-se ao conjunto de moedas não gastas que representam o saldo de transações anteriores no Bitcoin.

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Garcia complementou no programa que parte da motivação contrária à proposta está na tentativa de frear o uso da rede para armazenar dados não-financeiros.

“Eles querem fazer uma dissuasão – aumentar o custo marginal como um impeditivo monetário para fazer esse tipo de coisa”, comentou.

“Github é para conversar código”

Ferreira também chamou atenção para o aspecto político da discussão, afirmando que boa parte das personalidades envolvidas no debate desaprova a prática das inscriptions e se posiciona contrariamente à sua proliferação na rede.

“Parte da polêmica teve relação com como essa situação foi lidada, de forma contenciosa, embate no GitHub… uma questão menos técnica e mais política”, avaliou.

Para Garcia, no entanto, a controvérsia era inevitável:

“Quando abre um PR controverso como esse, começa a surgir gente do nada comentando, trazendo spam… E aí no meio desses comentários a galera às vezes acaba trazendo coisas do lado pessoal. Mas os moderadores, que acabam bloqueando alguns comentários, têm que garantir que as discussões estão sendo técnicas e valiosas para progredir. O Core sempre foi incisivo: GitHub é para conversar código.”

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Apesar das preocupações com o possível aumento de dados armazenados na blockchain, Bruno Garcia não vê riscos técnicos ou de segurança na mudança.

“Não traz nenhum risco, apenas o ‘risco’ das pessoas usarem essa falta de limite para colocar ainda mais dados na blockchain. Entretanto, não há problema nisso, pois o Bitcoin funciona num livre mercado.”

Segundo ele, não há planos para uma votação ampla sobre o tema. A adoção dependerá do consenso entre desenvolvedores e participantes ativos no projeto.

“Para mim, o ponto principal para ter esse equilíbrio é deixar claro os riscos de uma proposta. Os benefícios todo mundo sabe, o que acaba ficando mal comunicado muitas vezes são os tradeoffs.”

A discussão em torno do OP_RETURN é mais um capítulo do antigo dilema do Bitcoin: até que ponto a rede deve permitir experimentações que fogem de seu propósito original? A resposta, como de costume no universo do código aberto, será construída em comunidade.

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